TRABALHO


De que se queixa, senhor ministro?



Não há nada que não nos aconteça, com este Governo PS.
Recentemente, o ministro das Finanças, justamente criticado pelo tão ilegal quanto ilegítimo aval à UGT, é acometido por uma birra a todos os títulos caricata, com murros na mesa e grosserias de permeio, seguida de uma inusitada e ridícula carta oficiosa de "desagravo" num jornal diário, como publicidade paga (de certo não por ele).
Há poucos dias foi a vez do MAI, Alberto Costa, que, dizendo-se muito ofendido, foi a correr queixar-se ao Procurador Geral da República das invectivas proferidas pelos profissionais de polícia numa jornada de protesto contra a sua política. Quem virá a seguir? A ministra do Emprego?
Decididamente, os ministros dos gabinetes rosa foram atacados por uma estranha hipersensibilidade. E tão estranha quanto enganosa, pois é notório que, no caso, os ministros "fazem o mal e a caramunha".
Mas, só para falar neste último, de que se queixa o senhor ministro da Administração Interna?
É ou não verdade que as reivindicações dos polícias, há muitos anos sem resposta, são antigas e na sua quase totalidade consideradas justas, em termos públicos, quer pela hierarquia quer por ministros anteriores?
É ou não verdade que essas reivindicações têm como base de partida não uma classe policial com direitos numa Polícia moderna, mas uma instituição a cujos profissionais continuam apenas a ser exigidos deveres, e carecida desde o 25 de Abril de uma reforma profunda e democrática?
É ou não verdade que, também neste sector sensível que são as forças de segurança, um ano e meio de diálogo, de promessas e de indecisões se traduziram em muito pouco de concreto?
E, por falar em diálogo, é ou não verdade que, expressamente convidado para o Encontro Nacional de Polícias, o senhor ministro nem sequer se fez representar? E que, estando no Ministério, se recusou a falar com os representantes dos polícias?
É tempo, mais que tempo, de assumir com realismo e audácia as mudanças que a vida mostra serem inevitáveis.
É tempo de deixar de agitar fantasmas e de assumir que, à semelhança do que se passa nos outros países da União Europeia, uma polícia com direitos está mais perto das populações e dos seus problemas, e que sindicalismo policial é sinónimo de estabilidade e da assumpção consciente de responsabilidades numa profissão que se quer cada vez mais dignificada.
Mas, acima de tudo, senhor ministro, é tempo de não ser ingrato e de não se queixar... senão da sua própria inépcia. Quem não quer ser lobo... não lhe veste a pele.


n José Neto