NACIONAL

Na capital, em homenagem ao 25 de Abril


"Um monumento da luta e da esperança"



Lisboa, palco há 23 anos das decisivas horas que ditaram a sorte da ditadura fascista, tem finalmente um monumento dedicado a essa gesta corajosa dos capitães de Abril que abriu caminho à paz, à liberdade e à democracia. Situado no Parque Eduardo VII, no seu ponto mais favorável, altaneiro sobre o modelado da cidade, o conjunto escultórico de José Cutileiro foi inaugurado no dia 25 de Abril. Tantas vezes prometido e tantas outras adiado, por motivos diversos, foi a materialização de um projecto da Câmara Municipal de Lisboa que, indelevelmente, pelas mãos do artista, ficará a marcar a perenidade dos valores da Revolução de Abril.


Valores que se constituíram em referência fundamental do regime democrático, como sejam os direitos sociais e políticos ou a justiça social e a solidariedade, hoje parte integrante de um património assumido e defendido pelo povo português.

No acto inaugural, com a presença de muitas centenas de democratas, de diferentes sensibilidades políticas, foi claramente esse o sentimento presente. E foi também a fidelidade a esses valores que deu o tom às breves intervenções que culminaram a cerimónia, depois de os presentes terem seguido atentamente a interpretação de uma peça de Jolly Braga Santos pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Miguel Graça Moura, que tocou também o Hino Nacional, e terem assistido ao descerramento de uma placa alusiva ao monumento.

Vasco Lourenço, em nome da Associação 25 de Abril, situando-se nesse momento de ruptura com a ditadura fascista, lembrou que para trás ficava uma "um regime autoritário, de verdade única, de polícia política, repressão, prisões, analfabetismo, pobreza", abrindo-se simultaneamente um futuro que "viria a trazer a concretização dos compromissos do MFA" e a devolver a liberdade aos portugueses que passaram desde essa data a "poderem usá-la em defesa dos seus direitos".

João Amaral, na qualidade de presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, eleito pelo PCP na Coligação "Com Lisboa", começou por destacar o facto de este "monumento da luta e da esperança", assim o apelidou, ficar "a perpetuar a presença da revolução" num "local tão nobre da cidade", homenageando e felicitando de seguida o seu autor por ter dado forma e moldado uma obra como foi a Revolução: "afirmativa e sólida, mas também pura e cristalina".

E se o monumento "deve ser consagrado aos capitães de Abril", no entender de João Amaral, não pode deixar de o ser igualmente, como fez notar, uma "homenagem ao povo de Lisboa" que ainda a Revolução não estava decidida e já acolhera a adesão massiva do povo nas ruas.

Dos golpes que a Revolução sofreu e dos domínios em que se regrediu falou ainda João Amaral, exemplificando essa realidade com os mais de 500 mil desempregados ou com os cerca de dois milhões de trabalhadores confrontados na sua relação laboral com um vínculo precário. Também por isso, enfatizou, "evocar o que de Abril não foi cumprido" dá mais força para "lutar pelos ideais de Justiça, igualdade e liberdade".

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, João Soares, por seu turno, expressou a satisfação por ver concretizado um "monumento que faltava à cidade" e ao seu "património quotidiano", o qual, realçou, tem o valor simbólico da "liberdade a abraçar Lisboa de um dos seus locais mais belos".

"O primado da liberdade e da democracia representativa é o marco mais importante do 25 de Abril", afirmou João Soares, que, depois de homenagear os militares de Abril, destacando a figura de Salgueiro Maia, evocou também "os homens e mulheres de diferentes proveniências ideológicas que - exemplos de dedicação e coragem à causa das liberdades - mantiveram acesa a chama da resistência à ditadura".