INTERNACIONAL

Bulgária


O regresso da direita



A coligação de direita, União das Forças Democráticas (UFD), alcançou a maioria absoluta nas eleições legislativas de 19 de Abril na Bulgária, confirmando a viragem anunciada nas presidenciais do ano passado com a eleição de Petar Stoïanov (UFD) com mais de 60 por cento dos votos.


Segundo os resultados oficiais, a UFD e os seus aliados obtiveram nas legislativas 52,03 por cento dos votos, enquanto o Partido Socialista Búlgaro (PSB), no poder, não foi além dos 22,04 por cento. A direita passa assim a dispor de 137 lugares no parlamento, num total de 240, enquanto os socialistas descem de 124 para 57 lugares. Os restantes deputados foram eleitos pela USN, que agrupa o partido da minoria turca, monárquicos e liberais (20 lugares); pela Euroesquerda, de dissidentes do PSB (14 deputados); e pelo BBB, partido de pequenos e médios empresários de tendência nacionalista (12 deputados).

O novo Primeiro-Ministro é Ivan Kostov, antigo ministro das Finanças, cujo executivo deverá tomar posse em meados de Maio. Kostov anunciou já que uma das prioridades do seu Governo será a privatização das grandes empresas do Estado e o encerramento das não rentáveis. Uma medida que fará aumentar o desemprego, cuja taxa actual é de 12 por cento, mas que, segundo o Instituto económico da Academia de Ciências búlgaro, poderá atingir ainda este ano entre 24 a 26 por cento da população activa.

Com 8,8 milhões de habitantes, a Bulgária confronta-se com uma dramática situação económica: uma inflação de 310 por cento em 1996, o endividamento colossal do Estado, 85 por cento da população vivendo abaixo do nível de pobreza e 50 por cento em grande penúria.

Os problemas não são de hoje. Com o desaparecimento do bloco socialista, a Bulgária, que no âmbito do COMECON se tinha especializado na agricultura, no fabrico de peças para a mecânica de precisão e armamento, viu-se de súbito sem mercados e sem fontes de rendimento. A população passou a viver bem pior do que antes do desabar da União soviética.

Os socialistas, quando em 1994 ganharam as eleições, prometeram atenuar as consequências sociais da passagem a uma economia de mercado capitalista, e tinham no seu programa a luta contra a insegurança e a corrupção. Os resultados não corresponderam às expectativas e o Governo acabaria por cair. O Governo provisório que se formou depois trouxe em Fevereiro a ilusão de uma melhoria da situação económica, enquanto lançava as bases do próximo executivo: um drástico plano de austeridade, acompanhado e dirigido pelo Fundo Monetário Internacional. O crédito externo vai finalmente chegar - um acordo com o FMI desbloqueou já um empréstimo de 657 milhões de dólares - mas os búlgaros vão ter de pagar uma pesada factura.

No dia a seguir às eleições, em que apenas 58,3 por cento dos eleitores foi às urnas, numa das mais baixas participações de sempre, a população correu a abastecer-se de produtos alimentares prevendo a liberalização e o aumento dos preços dos bens de primeira necessidade.

Num país onde 2,5 milhões de reformados ‘vivem’ com pensões de 17 dólares por mês e o desemprego ameaça tornar-se galopante, os tradicionais métodos de recuperação económica do FMI que a maioria de direita se propõe implementar dificilmente conquistarão o apoio da população.

 

 

Cronologia

 

 

15 de Janeiro de 1990: O papel dirigente do Partido Comunista Búlgaro é abolido. O antigo líder histórico, Todor Jivkov, é preso.

 

Junho: O Parido Socialista Búlgaro, nascido em Abril do Partido Comunista, ganha a maioria nas eleições legislativa.

 

1º de Agosto: O Parlamento elege Jelio Jelev Presidente da República. Jelev dirige a formação de direita, UFD.

 

Novembro de 1991: Formação de um governo de direita.

 

Dezembro: Na sequência de uma crise governamental, é nomeado um governo dito de «peritos».

 

Dezembro de 1994: O Partido Socialista Búlgaro ganha as eleições legislativas num ambiente de crise social. O seu presidente, Jan Videnov, de 35 anos, torna-se Primeiro-Ministro.

 

3 de Novembro de 1996: O candidato da UFD, Petar Stoïanov, é eleito por sufrágio universal, com mais de 60 por cento dos votos, Presidente da República.

 

28 de Dezembro: Jan Videnov demite-se do cargo de Primeiro-Ministro. Aumenta a crise económica.

 

Janeiro de 1997: A UFD organiza manifestações diárias em frente ao Parlamento, exigindo a antecipação das eleições legislativas inicialmente previstas para 1998.

 

11 de Janeiro: Confrontos entre a polícia e os manifestantes quando estes ‘tomam’ o Parlamento.

 

27 de Janeiro: Petar Stoïanov assume oficialmente as suas funções como Presidente.

 

4 de Fevereiro: Os socialistas aceitam a realização de eleições legislativas antecipadas para 19 de Abril.

 

12 de Fevereiro: Stefan Sofianski, antigo presidente de Sofia (de direita), torna-se Primeiro-Ministro interino.