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Estranhos casos



Hoje resolvemos voltar a nossa atenção para três casos soltos que podiamos titular à moda de um velho autor de livros policiais.


O primeiro podia chamar-se «O estranho caso do Ministro lento» e destina-se a sublinhar que, mais de quinze dias depois da sua apresentação, o Ministro dsa Finanças (ou qualquer outra entidade ou departamento governamental) ainda não respondeu ao requerimento do Grupo Parlamentar do PCP reclamando uma informação sobre o montante gasto pelo Governo com a escandalosa campanha de publicidade comercial de elogio às privatizações.

Temos assim que o Ministro das Finanças é particularmente lesto a redigir artigos de opinião, a publicar anúncios de resposta política, a emitir excitados comunicados de imprensa e a anunciar inquèritos e sindicâncias de que nunca dará contas, mas ainda não arranjou dois minutos para esclarecer o país sobre os custos de uma operação propagandística que representa uma intolerável subversão das regras e condições do debate e da luta políticas.


O segundo podia chamar-se «O estranho caso do pluralismo "à la carte"» e é suscitado pela lista de intervenientes e participantes no Seminário sobre a «Europa Social» que a Fundação Calouste Gulbenkian vai promover dentro de dias. De facto, somando Presidentes das sessões, conferencistas, moderadores e relatores, ascende a 51 o número de personalidades convidadas a falar neste Seminário Mas, entre estes 51 convidados, não é possível encontrar nem um universitário, ou dirigente político, ou deputado nacional ou do Parlamento Europeu, ou sindicalista que seja identificável com a área comunista, seja de Portugal seja dos outros catorze países da UE.

É certo que não é a primeira vez que, na organização das suas iniciativas, a Fundação Gulbenkian se mostra praticante do chamado «pluralismo à la carte». Mas isso só pode ser visto, não como uma atenuante, mas como uma agravante.


O terceito podia chamar-se «O estranho caso da amnésia conveniente» e diz respeito ao facto de, em entrevista à TSF, o dr. Mário Soares ter resolvido juntar-se ao grupo de bonzos que sentenciam que a Ordem da Liberdade é imprópria para comunistas, repetindo também ele, a este respeito, a infame calúnia de que os comunistas só teriam lutado pela liberdade para si e não para os outros. Como o dr. Mário Soares, embora em plenas faculdades, parece atingido por convenientes amnésias parciais, talvez seja oportuno lembrar que foi a corrente oposicionista que ele integrou e depois veio a dirigir que, em diversos momentos históricos sob a ditadura fascista, mais apostou na obtenção de uma legalidade preferencial (que beneficiasse os socialistas e excluisse os comunistas) .

E se, dito isto sobre quem de facto chegou a querer a liberdade só para si, ainda lhe continuar a faltar a memória, nós esclarecemos que a última vez que isso aconteceu foi por volta da farsa eleitoral de 1969 e das ilusões «ASPistas» com o marcelismo.


Vítor Dias