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Sector têxtil na Guarda


Urgem as medidas para vencer a crise



Salários em atraso, diminuição dos postos de trabalho, dívidas, trabalhadores suspensos, eis, em síntese, os traços mais fortes que caracterizam o panorama em que vive o sector têxtil e de vestuário no distrito da Guarda. Bernardino Soares, deputado comunista que levou o assunto a plenário na semana transacta, atribui ao Governo a responsabilidade por este quadro sombrio.

Na sua origem, sublinhou, está uma política subordinada às imposições da União Europeia que "deixou desprotegida" a indústria têxtil e põe em risco milhares de postos de trabalho. Indissociável do actual estado de coisas, no entender do parlamentar do PCP, está igualmente a "prioridade incontornável" assumida pelo Governo PS relativamente à moeda única, a exemplo do que fizera o PSD, política essa que se tem traduzido no abandono dos trabalhadores e das empresas à sua sorte, reservando-lhes um futuro mais que incerto.

Exemplificando, Bernardino Soares citou, entre outros, o caso da Vodratex, com 517 trabalhadores, muitos com o trabalho suspenso, com as remunerações reduzidas ao salário mínimo e, mesmo assim, a braços com salários em atraso. Na Estevão Ubach, actualmente com 120 trabalhadores, dos quais apenas 60 no activo, depois de muitas rescisões, a dívida eleva-se a 100 mil contos, mantendo-se "a esperança numa reviravolta que tarda". Com 340 trabalhadores, a Têxtil Lopes da Costa, por sua vez, tem oito subsídios e quatro meses de salários em atraso, encontrando-se 115 trabalhadores em auto-suspensão. Não menos dramática é a situação da Fisel, com os seus 350 trabalhadores (já foram 1200) sem saberem o que é um salário em dia há dez anos, actualmente a beneficiar de "um balão de oxigénio até ao fim do ano" que não permite antever o que acontecerá a seguir.

Mas a crise no sector têxtil assume no caso da Guarda uma gravidade ainda maior por incidir num distrito onde emergem várias debilidades estruturais no plano da sua economia, de há muito sujeito aos custos da interioridade e a um processo de desertificação humana resultante de um continuado fluxo migratório das suas gentes que partem em busca de trabalho e de melhores condições de vida.

Daí a estranheza e a indignação manifestadas por Bernardino Soares pelo facto de o Governo não ter ainda incrementado a Operação Integrada de Desenvolvimento por si prometida, antes e depois das eleições, para o distrito. Trata-se, assinalou, de um "importante instrumento" que pode ajudar à resolução de muitos dos problemas que afectam a região e à criação de "uma verdadeira política de desenvolvimento social e de criação de emprego".

Uma medida que pela sua importância não pode sobretudo estar sujeita às conveniências eleitoralistas do Governo, como observou o parlamentar do PCP, que admitiu não se mostrar surpreendido se "lá mais para o fim do ano, subitamente, o Governo se lembrasse de lançar alguma operação mediática e demagógica com objectivos bem diversos daqueles que a região necessita".

Foi essa hipótese que Bernardino Soares verberou asperamente deixando claro que não interessam intervenções que não se dirijam para atacar os problemas de fundo, servindo apenas de "engodos com vista à pescaria eleitoral", do mesmo modo que não interessam as que sirvam para "encher bolsos" em vez de se constituírem em "apoios e investimentos" para a resolução dos problemas dos trabalhadores têxteis.