INTERNACIONAL

Rebeldes zairenses
à porta de Mobutu



«Não haverá cessar-fogo enquanto Mobutu não abandonar o poder», afirmou Laurént-Desiré Kabila, líder da Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo Belga, depois do encontro que manteve com o (ainda) presidente zairense, na terça-feira, em Pointe Noire, no Congo.


«Avançamos todos os dias, todas as horas. Dentro de dois a três dias estaremos nos arredores de Kinshasa», acrescentou Kabila, pondo claramente de lado a hipótese de cessar-fogo ou de qualquer governo de união nacional.

Mobutu e Kabila encontraram-se finalmente na segunda-feira, depois de vários adiamentos. Alegando «falta de segurança», o líder rebelde faltou ao encontro com o presidente no navio «Outeniqua» no fim de semana.

Na ordem do dia têm estado informações contraditórias sobre o envolvimento das potências ocidentais no conflito zairense. Enquanto o Governo francês fala já abertamente de uma conspiração norte-americana para garantir a sua influência na região, o New York Times anunciava há dias a chegada ao Zaire de três aviões de combate e de mercenários (franceses, belgas e sérvios) no âmbito de uma «operação secreta» montada para apoiar as forças de Mobutu. Segundo aquele jornal, os serviços secretos franceses teriam usado a empresa Geolink como cobertura para a referida operação, que não seria sequer conhecida de uma parte do executivo francês. Quase em simultâneo, foi reaberta a «guerra dos números» quanto aos refugiados «perdidos», que ninguém parece saber exactamente quantos são e onde estão.

De acordo com a Comissária Europeia Emma Bonino, existem mais de 100 mil refugiados perdidos na selva. «Em Dezembro afirmava-se que se tinha perdido o contacto com mais de 400 mil pessoas, em Janeiro encontraram-se 200 mil perto de Tingi-Tingi e agora encontrou-se o rasto de mais ou menos 60 mil sobreviventes», afirmou Bonino aos jornalistas.

A desorganização no terreno não podia ser maior, como atesta o terrível acidente ocorrido nos últimos dias com um comboio de refugiados, em que perderam a vida dezenas de pessoas mortas por asfixia e esmagamento.

Entretanto, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos Quinze lançaram apelo aos rebeldes para que estes garantam o acesso às organizações humanitárias nas zonas de combate.