INTERNACIONAL

Eleições em Itália


Êxito da Refundação Comunista



No domingo 27 de Abril, quase 10 milhões de italianos foram chamados a votar em eleições autárquicas parciais. Votou-se em centenas de concelhos, 102 dos quais com mais de 15 000 habitantes, incluíndo as duas maiores cidades do Norte de Itália (Turim e Milão). Votou-se ainda em seis províncias (uma divisão administrativa intermédia entre os concelhos e as Regiões). Os comunistas foram o único partido a aumentar em votos e percentagem, nestas eleições.


Não é fácil resumir os resultados de eleições autárquicas, onde o peso de factores locais é grande e diversificado. Isso é particularmente verdade em Itália, onde à multiplicidade de partidos e alianças em contínuo movimento há que acrescentar o facto de o quadro político-partidário ser hoje em grande medida diferente do existente aquando das últimas eleições análogas, realizadas há quatro anos. Mas é opinião praticamente unânime dos comentaristas que o Partido da Refundação Comunista (PRC) obteve nestas eleições um grande êxito político e eleitoral, apesar do contexto, à partida difícil, em que teve de as enfrentar.

Utilizando como termo de comparação os dados relativos às eleições provinciais (que, dada a natureza dos órgãos a eleger e ao eleitorado menos homogéneo, são as eleições mais políticas e menos sujeitas à influência de factores locais), o PRC conquistou 12,0% dos votos, um claro aumento em relação aos 9,2% obtidos nas mesmas províncias nas eleições provinciais de 1992 e também em relação aos 9,4% conquistados nas eleições gerais do ano passado, nos mesmos círculos. Os comunistas foram o único partido a aumentar em votos e percentagem, nestas eleições. Nas eleições para os órgãos concelhios, o PRC confirmou a sua força e presença, tendo obtido votações entre 8 e 15% em numerosas cidades, sobretudo do Centro e Norte (incluíndo Milão e Turim). E isto apesar de as votações para os órgãos concelhios serem acompanhadas por eleições directas para as presidências das Câmaras, numa votação de tipo presidencial que favorece a bipolarização e tende a esmagar os partidos que concorram à margem dos dois grandes "polos" da vida política italiana: a coligação governamental "A Oliveira" e o "Polo das Liberdades" da direita e extrema-direita italiana.


Balão de ensaio

Foi precisamente a jogar num eventual "esmagamento" do PRC em eleições onde a bipolarização é favorecida pela lei eleitoral, que o PDS e restantes componentes da coligação "A Oliveira" recusaram, em muitos concelhos e cidades, fazer alianças e acordos com o PRC, possivelmente num ensaio para uma futura ruptura política mais geral com esta força incómoda para as políticas anti-sociais tão em voga nesta Europa Maastrichtiana. Sem o PRC, a actual coligação governamental não tem a maioria na Câmara dos Representantes.

O PRC não tem dado um apoio acrítico ao Governo, negando os seus votos decisivos sempre que considere estarem em perigo questões centrais no plano social ou dos princípios (como foi o caso do recente envio de tropas italianas para a Albânia, decisão que só passou no Parlamento italiano graças a uma Santa Aliança de toda a direita com o governo). Há algumas semanas houve uma tentativa de alterar novamente a lei eleitoral, eliminando qualquer resquício de proporcionalidade no sistema eleitoral, mas essa tentativa foi derrotada (clamorosamente) em votação secreta no Parlamento, pelo voto conjunto dos pequenos partidos e de numerosos eleitos dos grandes partidos que desafiaram as indicações de voto das respectivas direcções. Nas eleições de 27 de Abril, uma nova tentativa de "esmagar" o PRC pela sua autonomia em relação ao governo foi claramente derrotada. Não só o PRC (e os seus candidatos à Presidência das Câmaras) obtiveram importantes resultados lá onde concorreram sozinhos, como os resultados eleitorais confirmaram que, tal como no Parlamento, quando a maioria governamental afasta o PRC, tem grandes dificuldades em vencer a direita e triunfar sozinha. É assim que em Milão, Turim e em muitas outras cidades, os candidatos apoiados pela "Oliveira" e que recusaram o apoio do PRC, ficaram atrás dos seus concorrentes de direita na primeira volta das eleições e arriscam-se a perdê-las na segunda volta.

Sem o PRC, não só não há política de progresso, como também não há alternativa à direita de Berlusconi e Fini, que soube capitalizar nestas eleições algum descontentamento em relação a medidas de contenção orçamental do governo e a perda de influência da separatista Liga Norte, que sai claramente enfraquecida destas eleições.