Desfiles deste 1º de
Maio
Abrindo para duras batalhas
A manifestação do 1º de Maio, em Lisboa, teve a adesão de
muitos milhares de trabalhadores, com algumas fortes expressões
de determinação e combatividade. Pelo grande número de pessoas
que reuniu e pelo espírito que marcou o desfile desde o Campo
Pequeno à Alameda da Cidade Universitária e o comício-festa
que aqui teve lugar, este 1º de Maio reafirmou que os
trabalhadores e a CGTP não baixam os braços e estão prontos
para dar um novo ímpeto às lutas pelo emprego, pelos direitos,
pela redução dos horários, por melhores salários, por mais
desenvolvimento e mais justiça social.
Abriam o desfile (melhor, abriam caminho ao desfile, por entre as centenas de pessoas que assistiam e aplaudiam ao longo da Avenida da República e do Campo Grande) três ou quatro polícias do Corpo de Intervenção, cujas fardas se misturavam com as dos jovens da fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Castanheira do Ribatejo.
Vinha depois a cabeça da manifestação, integrando dirigentes da CGTP e das uniões de sindicatos de Lisboa e Setúbal e os atletas e sindicalistas da CGT francesa, da UIL italiana, da CDT marroquina, da UMT caboverdiana, das Comisiones Obreras espanholas e da EKA grega, que se deslocaram a Portugal para participar na corrida internacional do 1º de Maio e para trazer um abraço solidário.
Ruidosa, vistosa, numerosa e agitada, a Interjovem fez o percurso em «etapas», começando a passo de manif, passando de seguida à fase dos sentados no chão e partindo, já descansados, em corrida, para retomar o passo...
Entre as centenas de manifestantes vindos do concelho de Almada sobressaía o pessoal da Lisnave, desde logo por transportarem um grande pano condenando o negócio do Governo com os Mellos. Ainda antes de chegarem a Entrecampos, os trabalhadores dos estaleiros navais tiveram um precalço: surgiu-lhes no caminho uma faixa do comício internacional que o PCP e outros partidos comunistas e de esquerda da Europa vão levar a cabo dia 24 de Maio, e tiveram que deitar a pesada estrutura metálica que suportava o pano, o que não foi difícil, porque as mãos eram muitas e os corpos estão habituados a pegar em ferro. Tudo se combinou para o episódio terminar com as vozes a gritarem com mais força «CGTP! Unidade sindical!».
Integrando, entre outros, trabalhadores das autarquias, metalúrgicos, têxteis, pescadores, reformados, da Siderurgia, da Socar, da Quimigal e da CP, da Kansas, do Arsenal do Alfeite e da Fisipe, seguiram-se os concelhos do Seixal, Sesimbra, Montijo e Barreiro.
As delegações sindicais de Vila Franca de Xira marcavam a fronteira para o distrito de Lisboa, onde se notava novamente a forte presença dos trabalhadores da administração local e dos demais sectores da administração pública.
Os sorrisos satisfeitos dos activistas das listas unitárias do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas distinguiam-se entre aduaneiros e pessoal dos estabelecimentos fabris das Forças Armadas, delegações sindicais concelhias (Oeiras-Cascais, Sintra, Amadora e Loures), trabalhadores do comércio e serviços, da hotelaria, do sector alimentar, químicos, gráficos, das indústrias eléctricas, da Covina e da Sorefame, dos transportes e do sector empresarial do Estado, da tendência Alternativa dos Seguros do Sul.
Foi frequentemente aplaudida ao longo do desfile a delegação
de dirigentes comunistas, que integrava o secretário-geral,
Carlos Carvalhas, e os camaradas Jerónimo de Sousa, Vítor Dias
e Álvaro Cunhal.
«Os trabalhadores e os sindicatos não lutam por lutar, têm
razões de sobra para o fazer», afirmou o coordenador da União
dos Sindicatos de Aveiro, ao intervir no comício que teve lugar
no Largo do Rossio, depois do desfile iniciado junto à estação
da CP onde, segundo o departamento de informação da USA/CGTP,
se concentraram milhares de pessoas.
As palavras de ordem mais gritadas na manifestação foram «40 horas, sim! Vigarice, não!», «Mais salário, melhor horário», «É preciso, é urgente, uma política diferente», «trabalho com direitos para todos».
Na intervenção de Joaquim Almeida foi valorizada a luta pela correcta aplicação da lei 21/96, com a afirmação da confiança em que «a estes trabalhadores será feita justiça» e que «a razão, tarde ou cedo, vai triunfar». O dirigente sindical acusou o Governo de usar o diálogo social «apenas para dar cobertura e acolhimento às pretensões patronais» e apelou à participação nas jornadas de 8 e 28 de Maio.
Numa moção apresentada por Fernando Pinho, dirigente da USA/CGTP, exige-se dos deputados, designadamente dos 14 eleitos por Aveiro, que respeitem a vontade expressa pelos trabalhadores em centenas de pareceres enviados à AR e votem favoravelmente, no dia 15, o projecto-lei apresentado pelo PCP para clarificação do conceito de horário de trabalho.
Francisco Ceia e o Rancho Folclórico S. João de Casal Comba
animaram a festa que prosseguiu pela tarde fora.
A manifestação que teve lugar em Guimarães, promovida pela
União dos Sindicatos de Braga, foi uma das maiores de sempre no
dia 1º de Maio, de acordo com o departamento de informação da
USB/CGTP. Milhares de trabalhadores concentraram-se no jardim da
Alameda, onde Adão Mendes interveio sobre a actualidade
político-sindical, nomeadamente as lutas pelo emprego, pelas 40
horas e pela defesa da Segurança Social.
Após a intervenção do coordenador da USB, foi aprovada uma moção em que é fortemente criticado o Governo PS/Guterres, por levar a cabo uma política que «é responsável pelos níveis inconcebíveis de desemprego, pela precariedade dos vínculos laborais, os baixos salários e cada vez menos protecção social». O executivo socialista é acusado de dar cobertura ao patronato que recusa reduzir os horários de trabalho e de apoiar, através do Ministério da Economia e do Governo Civil, «o processo de despedimento de 231 trabalhadores no Complexo Grundig e as vigarices que se desenvolvem à volta das empresas Malhas Dextra, Luzcor e outras».
A moção saúda a decisão da USB de proceder judicialmente contra as câmaras municipais de Braga e Guimarães, por terem mandado retirar e destruir propaganda do 1º de Maio e em defesa das 40 horas.
Contém ainda um apelo à participação nas jornadas de luta
de 8 e 28 de Maio e, no dia 10, em Ronfe, junto às empresas do
Grupo Somelos e Têxtil Manuel Gonçalves.
Cento e onze anos depois dos acontecimentos de Chicago, ainda
hoje no País e no nosso distrito há quem seja despedido,
suspenso ou discriminado só porque exige o cumprimento das leis
laborais» - denunciou Nuno Barreira, ao intervir nas
comemorações do 1º de Maio em Bragança.
O dirigente da USB/CGTP apontou, concretamente, as dezenas de trabalhadores despedidos numa grande superfície comercial de Mirandela, no final de Fevereiro, os trabalhadores da Grunig, em Bragança, e os trabalhadores da têxtil Mirandum, em Miranda do Douro.
Referiu ainda o «trabalho sem quaisquer direitos no sector da construção civil» e os trabalhadores da Função Pública, que «continuam com questões fundamentais por resolver, como o trabalho precário, os recibos verdes e a reestruturação e revalorização das carreiras».
Nuno Barreira acusou o Governo de frustar justas expectativas
e defraudar promessas eleitorais, colocando-se sistematicamente
ao lado do grande patronato. «Prova indesmentível» de tal
postura é o acordo de Concertação Estratégica, que «não dá
resposta aos problemas dos trabalhadores, antes os agrava»;
também «não garante um combate eficaz ao desemprego e aos
despedimentos».
Em Setúbal, à semelhança de anos anteriores, a concentração
do 1º de Maio teve lugar no Jardim do Quebedo, onde se juntaram
numerosos trabalhadores e sindicalistas, com as suas faixas e
cartazes, onde se lia o protesto contra a política
governamental, pelo emprego com direitos para todos, contra as
privatizações e a destruição da Segurança Social. Ali teve
início o desfile, ao sol da tarde, onde se incorporaram alguns
milhares de pessoas e que veio a desaguar em frente ao coreto, na
placa central da Avenida Luísa Todi.
No palanque tomaram a palavra Aldina Oliveira, dirigente do STAL e da União dos Sindicatos de Setúbal, e Manuel Pisco Lopes, do Conselho Nacional da CGTP.
Depois, até final da tarde, houve festa, com a participação do Rancho Folclórico de Rio Frio e as cantigas de Francisco Naia.
Os trabalhadores dos concelhos do Norte do distrito participaram nas comemorações em Lisboa.
Houve ainda convícios, comícios e espectáculos
comemorativos do Dia do Trabalhador em Sines/Santo André,
Grândola (Céu das Rosas), Casebres e Alcácer do Sal
(barragem).
Nas intervenções de dirigentes sindicais em Mangualde, Lamego e
Viseu foram apontados alguns números que realçam o contraste
entre aquilo que, após dez anos de governos PSD, os
trabalhadores esperavam do executivo de Guterres, e os resultados
da política prosseguida depois de Outubro de 1995:
l há no distrito mais de 25 mil desempregados, onde a USV/CGTP inclui os registados nos centros de emprego, os jovens à procura do primeiro emprego, os desempregados de longa duração, os desempregados que frequentam cursos de formação profissional e outras situações que não cabem nos registos oficiais;
l só no sector têxtil encerraram nos últimos tempos diversas empresas (Flor de Mortágua, LEO e VZ de Viseu, IVD de Mangualde, Confenel de Nelas e Gamic de Lamego), que lançaram para o desemprego mais de 400 trabalhadores;
l a Markbell, de Mangualde, deve aos trabalhadores 3 meses de salários;
l só as empresas privadas devem à Segurança Social mais de 3 milhões de contos;
l a redução de horário a caminho das 40 horas não está a ser aplicada nas têxteis Brintons, Ridão, Jacob Rohner e Malhacila e nas metalúrgicas Urfic e Alviz;
l só nos sectores da Saúde e da Educação, onde se conhecem graves carências de pessoal, há mais de mil trabalhadores com vínculo precário, a par do recurso a desempregados e de muitas centenas de professores a trabalhar sem vínculo.