EDITORIAL


Honrar a confiança



Quem quer que olhe com objectividade para o desenrolar da política nacional não pode deixar de se impressionar com a intensa e consistente actividade que os comunistas desenvolvem em todos os mais importantes domínios da vida do país.

No espaço de uma semana o PCP promoveu, entre muitas outras acções, as seguintes iniciativas de maior relevo, por ordem de realização: a Audição sobre os atentados à Autonomia do Ensino Superior; o debate e a votação na Assembleia da República de um projecto de lei comunista para pôr cobro à vigarice das 40 horas, que foi chumbado pelos votos contra do PS; a reunião de quadros sobre a escandalosa privatização da EDP; a V Assembleia da Organização Regional de Santarém, toda virada para o reforço do Partido; o Encontro Distrital de Lisboa sobre a saúde e de defesa do SNS; o comício de homenagem a Catarina Eufémia que se tornou numa grande jornada de luta pela reforma agrária; a Reunião Nacional de Quadros de defesa do Sector Público e de combate às ruinosas privatizações.

No próximo sábado, dia 24, o PCP é o anfitrião de um grande comício internacional em prol do emprego e por uma Europa de progresso social, paz e cooperação, realizado no espírito de que «cabe aos povos decidir o futuro da Europa», como Albano Nunes salientou ao nosso jornal.

Há que reconhecer que seria difícil fazer melhor para corresponder ao compromisso assumido no comunicado da última reunião do Comité Central, quando afirma que «o PCP tudo fará para honrar a confiança e as esperanças do número crescente de portugueses que compreendem que é necessária uma viragem à esquerda na política nacional, e que é um mais amplo e expressivo apoio ao PCP que melhor pode favorecer essa viragem.»

O PCP honra essa confiança nas iniciativas que promove e, sobretudo, na combinação da denúncia firme da política de direita do Governo PS, com as propostas alternativas para uma viragem à esquerda, exprimindo sempre as aspirações dos trabalhadores e de toda a população laboriosa.


Distribuída pelas diversas frentes onde se decide o futuro do país, a atenção dos comunistas dirigiu-se, neste período, muito especialmente para o criminoso processo das privatizações e os seus irreparáveis prejuízos para a economia e o interesse nacionais.

A privatização da EDP, considerada a maior empresa do país fora do sector financeiro, reveste uma especial gravidade e constitui a vários títulos um escândalo e uma vergonha para o Governo de António Guterres.

Ao intervir na reunião de quadros, da passada sexta-feira, Carlos Carvalhas sintetizou o significado desta ruinosa operação, nos termos seguintes:

«Estamos perante uma privatização de uma empresa básica e estratégica, a baixo preço, escancarando as portas às multinacionais e ao desemprego.»

O valor da empresa tem sido salientado pelos trabalhadores ao lembrarem que nos últimos três anos somou 190 milhões de contos de lucros líquidos e que pagou ao Estado 115 milhões de contos de IRC.

«Não faz qualquer sentido argumentar que a privatização vai proporcionar um encaixe de 350 milhões de contos para os cofres públicos» - salienta a Federação dos Sindicatos das Indústrias Eléctricas que observa a seguir: «na mira da diminuição do défice exigida pela corrida cega para a moeda única, o Governo age como o conhecido ganancioso que, sem visão de futuro, matou a galinha dos ovos de ouro».

É claro que a história do encaixe é mais um pretexto do que uma razão de fundo. O que sobretudo determina o Governo é a abertura de mais uma área de rendosos negócios ao grande capital nacional e estrangeiro, incluindo espanhol, e especialmente às multinacionais.

Os apelos à subscrição de acções por parte dos trabalhadores, dos emigrantes e dos pequenos aforradores são os fumos da demagogia para encobrir o que é essencial na operação. A vida mostrará como os que corresponderem aos apelos, serão preteridos ou até burlados em nome dos grandes interesses.

O Governo vai também querer popularizar a privatização com uma eventual baixa das tarifas. Ora é uma evidência que esta podia e devia ter sido feita, sem se precisar da privatização para nada, basta olhar para os lucros da empresa. Mas no futuro, esta será governada pela lógica do lucro máximo, como se estabelece no «Plano Estratégico», o que quer dizer serviço pior e, com o tempo, mais caro para o consumidor...


É o primeiro-ministro António Guterres que se assume como o principal inspirador e responsável por um tal plano de privatizações que ultrapassa o do anterior governo do PSD, como acontece também com a vigarice das 40 horas. Não admira, por isso, que ele seja tão apreciado e elogiado pela alta finança nacional e internacional.

O chefe da confederação patronal da indústria, Ferraz da Costa, em entrevista ao «Semanário», não resistiu mesmo a cotejá-lo com o antecessor para concluir: «Em termos de sistema económico e de confiança do mercado, parece-me que o Engº Guterres é mais liberal do que o Prof. Cavaco Silva».

Esta apreciação elogiosa do designado «patrão dos patrões» deita por terra a tese daqueles que procuram desculpar a política governamental de Guterres com os constrangimentos de Maastricht e o colete-de-forças da globalização.

A política governamental em curso não merece nem perdão nem desculpas, mas oposição firme e decidido combate. Só desta forma se podem limitar e reduzir os seus estragos e criar condições para uma verdadeira alternativa.

A compreensão desta realidade cresce no campo do movimento popular com a mesma rapidez que os elogios ao Governo crescem no campo dos grandes interesses patronais.

É assim, entre outras, com a luta pelas 40 horas que dura há cinco meses e onde se destacam os trabalhadores da têxtil do Ave. É assim com a luta dos trabalhadores da administração local que fizeram greve no passado dia 19 e que continuam em greve às horas extraordinárias. É assim com os trabalhadores da EDP, da Grunding e de outras empresas. É assim com os professores de diferentes graus de ensino que tem feito sucessivas manifestações. É assim com os estudantes que se manifestaram ontem em Lisboa contra o aumento das propinas e a lei do financiamento do ensino superior e que prosseguem a luta nas diferentes universidades do país.

O PCP também honra a confiança nele depositada estimulando, incentivando e mobilizando o apoio e a solidariedade a estas justas lutas.