INTERNACIONAL

Comício Internacional em Lisboa


Cabe aos povos decidir
o futuro da Europa



Lisboa vai ser palco, no próximo dia 24, do comício internacional em prol do emprego com direitos e por uma Europa de progresso social, paz e cooperação. Promovida pelo PCP, a iniciativa conta com o apoio das forças políticas que integram o Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica do Parlamento Europeu ou com ele cooperam estreitamente, e propõe-se dar uma vigorosa contribuição à luta para que sejam os povos a decidir o futuro da Europa.

O grande número de presenças e o largo leque unitário dos participantes no comício internacional de Lisboa é expressão de que o problema do emprego é uma questão central mobilizadora de milhares e milhares de trabalhadores em luta por toda a Europa, e de que, embora com posições diferentes em numerosas matérias, existe uma efectiva vontade de cooperação de partidos comunistas, partidos de esquerda e de outros partidos progressistas.

É sabido que entre os partidos de esquerda há posições diferenciadas em relação à moeda única e ao futuro da Europa de Maastricht. Sendo o flagelo do desemprego que hoje se faz sentir no velho continente resultado da orientação de classe inerente este projecto de União Europeia, pode parecer contraditória a convergência que se regista na luta em defesa do emprego.

Para Albano Nunes, membro do Secretariado do CC do PCP e responsável pela Secção internacional do Partido, a convergência resulta da «própria gravidade da situação social». Lembrando que há actualmente na Europa mais de 20 milhões de desempregados, cerca de 50 milhões de pobres, cinco milhões de sem abrigo, faz notar que «contra a degradação da situação social, contra a polarização da riqueza, contra a marginalização, etc., desenvolvem-se lutas muito importantes que os partidos de esquerda, e designadamente os partidos comunistas, não podem deixar de levar em conta». Reconhecendo que quanto às causas reais desta situação há opiniões diferenciadas, como há opiniões diferenciadas quanto ao caminho a seguir para superar este estado de coisas, Albano Nunes sublinha no entanto que «todos reconhecem que este é um problema central em torno do qual é necessário intensificar a cooperação e desenvolver acções comuns».


Não à moeda única
Sim ao referendo

Para o PCP, o Comício Internacional está naturalmente inserido na luta contra a moeda únida e pelo sim ao referendo, na luta contra a Europa do grande capital e pela Europa dos povos, de progresso social, paz e cooperação. É sabido que o PCP sempre considerou que o tratado de Maastricht e as orientações neoliberais e anti-sociais que contém contradizem a possibilidade de solucionar o problema do emprego, do emprego com direitos, e que o caminho seguido pelos Estados Unidos ou pela Grã-Bretanha, por exemplo, não é alternativa. Isso mesmo será defendido no Comício de dia 24, no Campo Pequeno.

Nas suas declarações ao «Avante!», Albano Nunes salienta que o facto de alguns dos participantes na iniciativa serem favoráveis à moeda única não impede a convergência, já que «todos consideram que a marcha para a moeda única não deve implicar políticas de austeridade que agravem os problemas sociais dos trabalhadores». Como faz notar, «o PCP considera que a melhor maneira de progredir no sentido da solidariedade internacional dos trabalhadores, dos povos e das forças progressistas é o desenvolvimento de iniciativas em torno de problemas concretos, e que será a própria dinâmica de luta comum que poderá vir a determinar patamares mais elevados de entendimento e de cooperação».

Um entendimento, recorda-se, que vem na sequência do comício de 11 de Maio de 1996, em Paris, onde esteve presente uma grande e combativa delegação de portugueses. Esta foi, depois de muitos anos, a primeira iniciativa de massas promovida conjuntamente por partidos comunistas e outras forças de esquerda. Depois disso, outras se seguiram, nomeadamente a cimeira de partidos realizada em Junho do ano passado em Madrid, em torno da problemática da integração europeia.

O Comício Internacional de Lisboa aparece neste contexto como uma iniciativa de grande oportunidade, quer a nível nacional, quer internacional. No primeiro caso, porque se inscreve na luta do PCP e dos trabalhadores contra a política do actual Governo e contra a marcha forçada para a moeda única; no segundo, porque se realiza numa altura em que, por toda a Europa, e em especial na França, Grécia, Alemanha, Itália, Bélgica, tem havido grandes lutas da classe operária e outros sectores da população por aumento de salários, contra o desemprego e pela redução do horário de trabalho, e onde objectivamente é levantada a exigência de outro tipo de construção europeia favorável aos interesses dos trabalhadores e dos povos. O exemplo de Villvorde, na Bélgica, aí está a confirmá-lo.

Vale a pena assinalar a presença no evento, a nível individual, do deputado trabalhista inglês Ken Coates, animador da Convenção pelo Pleno Emprego na Europa em que participam sindicalistas, deputados, personalidades de toda a Europa de um vasto leque político e ideológico, que se realiza hoje e amanhã em Bruxelas.


Aprofundar a cooperação

A iniciativa de Lisboa testemunha ainda que há hoje uma maior consciência da importância da necessidade de cooperação dos trabalhadores para fazer face à ofensiva neoliberal do capital. Circunscrita, por razões operacionais, às forças que cooperam ao nível do Parlamento Europeu no Grupo Esquerda UnitáriaEuropeia/Esquerda Verde Nórdica, a iniciativa de Lisboa abre no entanto caminho a outras de âmbito mais vasto em torno de objectivos comuns.

Segundo avançou Albano Nunes ao nosso jornal, estão em curso contactos entre partidos de esquerda na Europa com o objectivo de realizar uma nova cimeira em Madrid, no próximo mês de Julho, pouco tempo depois da conferência intergovernamental sobre a revisão do tratado de Maastricht, e na véspera da realização da cimeira da NATO que vai decidir sobre o seu alargamento a Leste.

Ao contrário do que sucede com outras «famílias políticas» europeias, estas iniciativas não configuram a eventual formação de um partido de esquerda europeu. Segundo Albano Nunes, o PCP considera que «esse não é um objectivo que deva ser colocado». Pelo contrário, o PCP é a favor do «estreitamento e reforço da cooperação, defende mesmo formas estáveis dessa cooperação, mas não partilha da concepção da formação de uma nova Internacional ou da criação de um partido com características supranacionais».

Sábado, em Lisboa, a solidariedade internacional fará sentir a sua força. A generalidade dos partidos participantes estará representada ao mais alto nível. Espera-se igualmente a presença de delegações de trabalhadores de outros países, nomeadamente de Espanha e Itália. Os trabalhadores portugueses, claro, são os anfitriões, com o espírito de luta e a mobilização que os caracteriza, como atestam as numerosas excursões em preparação de que o «Avante!» tem dado conta.

No Campo Pequeno, os povos vão fazer ouvir bem alto a sua determinação de serem eles os construtores do futuro da Europa.