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Alternativas, precisam-se



Estranho exemplo de «pluralismo informativo» se registou esta semana: 5 jornais nacionais ("A Capital" com toda a largura da 1ª página, o "Público" e o "Manhã Popular" numa azarenta página 13, o "C. da Manhã" lá para a pág. 22, o "J. Notícias" na pág 3) retratam a mesma cena, com pequenas variações: Guterres debruçado entre Jospin e Chirac, sentados à mesa da Conferência de Amsterdão, atentos como alunos que escutam os últimos conselhos do mestre antes do exame... A coincidência sugere uma operação de autopromoção montada centralmente - e o "Público", mais explícito (ou mais solicito) informa mesmo em legenda: «Guterres aconselha o seu homólogo francês Jospin perante os ouvidos atentos de Chirac».

Na gíria pós modernista designam-se as exibições deste tipo como «afirmações de protagonismo político». Dantes, chamava-se vaidade, exibicionismo, ou, mais popularmente, «pôr-se em bicos de pés».


Mas o que pode dizer-se com segurança é que esse «protagonismo», tão exuberantemente e pessoalmente assumido durante a Conferência de Amsterdão, acabou por parir um rato.

A «Europa cor de rosa», que o PS apresentava como «governada agora por partidos socialistas em quase todos os países» - acabou capitulando total e ingloriamente aos diktats do capital alemão, confirmado como o grande patrão do capitalismo europeu.

O «combate ao desemprego», apresentado como objectivo central cor de rosa, esfumou-se na farsa de uma vaga «coordenação de esforços» ainda a ver no que dá.

A marcha forçada para a moeda única mantém-se como imposição central da UE. Apesar de estarem à vista os resultados e custos cada vez mais catastróficos dos compromissos políticos concretizados em Maastricht e de se acentuar o distanciamento dos cidadãos em relação à UE.


Houve realmente alterações no mapa dos governos europeus, com a generalizada derrota dos partidos no poder, numa afirmação do descontentamento crescente contra as políticas seguidas na pista de corridas de Maastricht. Mas os novos governantes, os guterres europeus, mostram-se tão cavaquistas como o Guterres nacional. Acentua-se a ideia de que na UE se elegem meros governos de gestão, que só fazem governação mas não governo, que apenas praticam alternância entre si sem serem portadores de uma verdadeira alternativa ao barranco de cegos em que se tornou esta Europa do euro tirado a ferros.


Mas alternativas - há.

E elas começam a tomar contorno nas crescentes movimentações e lutas sociais que por toda a Europa ganham corpo, contra a política de miserabilíssimo social do euro-maastrichmo.

Como ganha corpo a consciência do criminoso absurdo criado pelo capitalismo tardio do nosso tempo. Os maravilhosos avanços que o engenho humano tem permitido à produtividade do trabalho (multiplicada por 7 por hora de trabalho nos últimos 50 anos) poderiam ser factor de enormes progressos do bem estar social. Mas estrangulados pela lei do lucro máximo do capitalismo, esses avanços da produtividade conduzem ao galopante crescimento do desemprego e aos «excedentes de oferta», que desembocam nas gravíssimas crises sociais deste final de século.

Não será em cimeiras de reféns do capital como a de Amsterdão que esta contradição central do mundo de hoje encontrará soluções.

Mas soluções - há!


Aurélio Santos