EUROPA
A ambição alemã
É cada vez mais evidente que
aquilo que é bom para a Alemanha de Kohl e do grande capital
não o é nem para a Europa nem para o povo alemão.
É certo que uma Europa de progresso social, paz e cooperação não pode construir-se sem a Alemanha, e muito menos contra esse poderoso país. Mas não é menos verdade que uma "construção europeia" e uma "nova arquitectura europeia" comandada pelo Bundesbank (e pela Bundeswher) tem de ser firmemente rejeitada e combatida. A Europa social do pleno emprego com direitos, pela qual se mobilizam por todo o continente milhões de trabalhadores é incompatível com a ditadura da moeda única construída à imagem e semelhança de um marco forte e dominador e tutelada por um Banco Central sem qualquer controlo democrático e instrumento directo do poder económico do grande capital alemão. A Europa de paz, amizade e cooperação entre povos livres e iguais em direitos, é incompatível com instituições de tipo federalista e dinâmicas de funcionamento antidemocrático que subvertem a própria democracia representativa, golpeiam a soberania dos Estados, tecem novas relações de dominação imperialista que na Europa significam necessariamente, sobretudo após a derrocada do socialismo a Leste, a hegemonia do imperialismo alemão.
Por força das circunstâncias, este
artigo é escrito antes de serem conhecidos os resultados
da Cimeira de Amsterdão. E no momento em que não são ainda
claras as consequências das perturbações criadas pelos
resultados das eleições em França quer no eixo franco-alemão,
quer nos ritmos e modalidades da "construção
europeia" de Maastricht. Perturbações que não devem ser
menorizadas, já que têm como pano de fundo a evidência do
desastre social provocado pela marcha forçada para a moeda
única e sobretudo, a extraordinária envergadura das lutas
populares que comportam em si mesmas a exigência de "uma
outra Europa". Tudo isto não poderá deixar de
repercutir-se na cimeira de Amsterdão, ainda que sob a conhecida
fórmula de "mudar alguma coisa para que tudo fique na
mesma". De qualquer modo uma coisa deve ser sublinhada: é
de Kohl e da Alemanha que partem as maiores resistências e a
maior oposição a toda e qualquer medida que ponha minimamente
em causa a sua ambição dominadora.
É para este ambição dominadora,
imperialista, que nunca é demais alertar. Ambição que se
manifesta na brutal anexação da RDA; na cavalgada do grande
capital alemão em direcção ao Leste, na expansão em
direcção aos Balcãs; no apoio à Turquia e à sua política de
genocídio do povo curdo; na limitação do direito de asilo e no
empenho na construção de uma "Europa fortaleza"; no
desenvolvimento do militarismo (a RFA é hoje o 3º exportador
mundial de armas); no levantamento dos obstáculos
constitucionais à intervenção de tropas alemãs fora das
fronteiras; na sensível questão dos Sudetas checos; no papel
liderante, de concerto com os EUA, no reforço e alargamento da
NATO para Leste e Sul; na aspiração à posse da arma nuclear;
na reivindicação a membro permanente do Conselho de
Segurança... O "gigante económico" quer decididamente
transformar-se num "gigante político e militar". As
"cooperações reforçadas" que estão em cima da mesa
em Amsterdão assim como o inquietante acordo militar com a
França (Nuremberg, Dezembro de 1996), vão nessa perigosa
direcção.
Isto significa que quaisquer que sejam os resultados de
Amsterdão a luta tem de continuar, e com redobrada energia. As
vitórias parciais já alcançadas e as dificuldades e
contradições que se manifestam no processo de Maastricht abrem
grandes oportunidades. As próprias dificuldades internas da
Alemanha e o crescente desprestígio de Kohl e da coligação
liderada pela CDU/CSU alemã, a ala mais reaccionária do
capitalismo europeu, mostram que é possível impôr, pela força
da luta em cada país e pelo reforço de cooperação e acção
comum dos comunistas e outras forças progressistas, uma viragem
na Europa no sentido da democracia, do progresso social e da paz.
A reunião e o comício de Madrid, em 5 e 6 de Julho próximo,
nas vésperas da Cimeira da NATO, representará certamente um
novo marco nesta direcção.
Albano Nunes