VI Assembleia da Organização Regional de Portalegre do PCP
Reforçar a luta dos
trabalhadores
e o poder local democrático
A Organização Regional de Portalegre do PCP realizou no passado dia 21 a sua VI Assembleia. Contando com a participação do Secretário-Geral do PCP, Carlos Carvalhas, os trabalhos decorreram numa atmosfera de grande confiança, tendo-se constituído num espaço de reflexão que serviu não apenas para proceder a um balanço da actividade desenvolvida nos últimos anos como também para perspectivar a intervenção dos comunistas no quadro político regional.
Prolongando-se durante todo o dia, sob o lema "Com o PCP Reforçar a Luta dos Trabalhadores e o Poder Local Democrático", a Assembleia foi presidida na sessão de abertura pelo eurodeputado comunista Joaquim Miranda, que saudou os presentes e traçou os principais objectivos desta reunião magna dos comunistas do Alto Alentejo.
Fernando Carmozino, membro do CC e responsável pela DORP, proferiu a intervenção de abertura, a que se seguiu o período de debate que se prolongaria durante todo o dia.
José Manuel Basso, presidente da Câmara Municipal de Niza, intervindo sobre a evolução da administração pública com o Governo PS, criticou duramente a partidarização a que se assistiu após a sua nomeação, bem como o não cumprimento das promessas eleitorais.
"Nomeados que foram os Governadores Civis, as sedes do que deveria ser a representação de todos os portugueses tornou-se no galinheiro principal onde se comanda toda a operação de nomeações para cargos públicos, numa lógica onde o interesse partidário e a lógica do aparelho esmagam rapidamente o primado da competência, do sentido de Estado e de serviço público", sublinhou o autarca comunista, que denunciou ainda o "protagonismo perfeitamente doentio" assumido pelos representantes da administração central, "intrometendo-se em tudo de forma desmedida, despropositada" e que, no caso de Portalegre, em poucas semanas, em matéria de falta de isenção e aproveitamento partidário, "ultrapassaram o que o PSD não fez em dez anos"
A anteceder a última sessão, preenchida com a intervenção de Carlos Carvalhas (ver nesta página) os delegados aprovaram por unanimidade a Resolução Política, tendo igualmente eleito, com o mesmo pleno de votos favoráveis, a nova Direcção da Organização Regional de Portalegre.
Na Assembleia participaram 101 delegados eleitos pelas respectivas organizações, 34 por cento dos quais operários (17 por cento operários industriais e 16 por cento operários agrícolas), um por cento agricultores, 25 por cento empregados, 13 por cento intelectuais e quadros técnicos e 20 por cento de profissões várias.
Nota de registo merece ainda o facto de 16 por cento dos delegados serem mulheres. Quanto à composição etária, oito por cento dos delegados têm idade igual ou inferior a 30 anos, nove por cento situa-se na faixa etária entre os 31 e os 40 anos, elevando-se a 32 por cento os camaradas entre 41 e 50 anos. 21 por cento dos camaradas têm entre 51 e 60 anos e, acima desta idade, a percentagem de delegados situou-se nos 30 por cento.
Carlos Carvalhas
O PCP faz falta no Governo
A desculpabilização e a propaganda
(...)
Os protestos públicos dos mais variados sectores e camadas sociais, o desemprego, o trabalho precário, a falta de saídas profissionais para os jovens, o tráfico da droga e o aumento da toxicodependência, a insegurança, o não cumprimento de promessas como é o caso da semana de 40 horas, tem vindo a generalizar um sentimento de mal-estar na sociedade, e por reflexo também nas hostes socialistas e afins. As vozes do desencanto vêm mesmo do interior do PS.
Um dirigente socialista afirmou recentemente que o "Governo está a precisar de vitaminas", outro diz que "se criaram expectativas irrealistas durante os Estados Gerais", outro no Porto insurge-se contra a taxa de desemprego no distrito, outro afirma ainda que "o PS navega à vista para não dizer à deriva", e o Ministro Adjunto Jorge Coelho (D.N. de 19/6/97) confessa que «o Governo tem cometido muitos erros que tem de corrigir».
São tentativas de desculpabilização e reflexos da contestação e do mal-estar. A continuar assim, daqui a uns dias certamente teremos novamente o primeiro-Ministro a afirmar em reunião de militantes que "o PS e o Governo só têm feito asneiras..."
É que aquilo a que o Secretário Geral do PS denomina «política de rigor com consciência social», não passa da política de concentração de riqueza e da consequente acentuação das desigualdades com algum «bá-blá» sobre o social. A realidade o que nos mostra é que a situação social se tem degradado.
Temos o triste recorde na Europa quer em relação à pobreza, quer em relação às desigualdades sociais! Vinte e nove por cento (29%) das famílias, dois milhões e meio (2,5) de pessoas vivem abaixo do limiar de pobreza! E quanto às desigualdades os números falam por si: 20% dos agregados mais pobres recebem 6% do Rendimento Nacional e os 20% mais ricos arrecadam 46%! São dados que dão que pensar.
Se juntarmos a este quadro o número de desempregados, problema que não se resolve com a limpeza dos ficheiros, e todos aqueles que têm uma ocupação mas que não têm emprego estável, ou o número de jovens à procura do primeiro emprego, ou os milhares de toxicodependentes que têm de esperar entre três a seis meses para obterem uma primeira consulta, bem assim como, as múltiplas expressões de insegurança é fácil perceber as razões do descrédito e do descontentamento. Nenhum desempregado, nenhum reformado, nenhuma família pobre pode deixar de, se indignar de só com a 2ª fase da privatização da Portugal Telecom se ter gasto 4,2 milhões de contos em publicidade e na privatização da EDP cerca de 1 milhão!
E nenhuma família pode deixar de se sentir lesada ao saber que o Governo optou por não baixar as tarifas da electricidade, com o objectivo de engordar os lucros da EDP e facilitar assim o clima especulativo na sua venda.
É uma vergonha. E uma vergonha ainda mais chocante quando vem de um governo com o nome de socialista.
Tudo isto alimenta a frustração, a indignação e o descontentamento que tem também as suas raízes nas promessas e na política politiqueira.
A farsa
Ainda há poucos dias o PS e o PSD se acusavam mutuamente e em gritaria, numa pose de grande amuo e de grande divergência. Logo a seguir ambos os partidos trocavam sorrisos e votavam conjuntamente as respectivas "Resoluções" sobre a revisão do Tratado de Maastricht e, à noite, na Comissão parlamentar, lá se entendiam, mais uma vez, na concretização do vergonhoso Acordo sobre a "Revisão Constitucional"...
Este comportamento que se vem ciclicamente repetindo grandes divergências e encenações sobre o secundário, convergência e mútuo apoio sobre o essencial vai divorciando cada vez mais cidadãos da intervenção política transformando-os em espectadores passivos do "teatro político". A crise artificial à volta da Lei das Finanças Locais e do Código Penal, porque artificial e falsa em vez de interesse causou descrédito, desinteresse e apatia. É sabido que o PSD não quer eleições antecipadas e até já anunciou que deixaria passar o Orçamento de Estado para 1998 e é sabido que o principal núcleo dirigente do PS também não as quer para agora e, muito menos, depois de ver o que sucedeu ao sr. Juppé! Por isso, o jogo teatral das acusações mútuas e as ameaças de eleições antecipadas, em vez da resposta aos graves problemas com que as populações são confrontadas, levam cada vez mais o cidadão ao divórcio da vida política. Ora isto não dá nenhuma saúde às instituições nem à democracia, nem à vida política.
A intervenção dos cidadãos e a sua interessada participação é da máxima importância para se dar resposta aos graves problemas que temos pela frente. O país precisa de uma nova política.
De facto a opinião pública não aceita um governo em que alguns dos seus ministros que estiveram na luta da Ponte 25 de Abril, enquanto deputados da oposição, e que na Assembleia da República sempre apoiaram a luta dos trabalhadores e o direito à indignação, agora queiram meter na cadeia os que em justos protestos, venham a participar em "cortes" de estrada ou em bloqueio de Portos...
A opinião pública não fica indiferente, por exemplo quando um ministro ofende os agricultores portugueses dizendo que sem os espanhóis não teríamos fruta em Portugal, a um ministro que já se manifestou contra o seu próprio ministério e que agora diz que mantém a "portaria sobre as pescas", porque é lei, mas que não a vai cumprir... o que no mínimo é um espanto...
A opinião pública não fica indiferente a um ministro como o das Finanças que sempre que se vê "entalado", decide avançar com um rigoroso inquérito, mas que depois não os divulga, nunca se ficando a conhecer as doutas conclusões... De um ministro das Finanças que negando a evidência se prepara para aumentar os impostos e a carga fiscal sobre o povo português para o devorar depois, na marcha forçada para a "moeda única".
A opinião pública achará pelo menos estranho, que um ministro como o Ministro da Administração Interna diga a 11 de Maio, que no seu mandato não criará um Sindicato da Polícia e que, agora, para desmobilizar a manifestação vem prometer a criação do sindicato acrescentando até que gostaria de ficar na História como o Ministro que criou o Sindicato da Polícia...
O povo não derrotou o PSD só para ter mudança de caras. O povo quis mudança de atitudes e de políticas. O rotativismo e a alternância sem alternativa é uma mistificação.
É preciso preparar a alternativa.
E a alternativa não passa por ao PS suceder de novo o PSD. A alternativa passa por se manter o PSD e o PP em minoria e em alterar a relação de forças no campo democrático. Isto é, a alternativa passa pelo reforço do PCP e da CDU. São cada vez mais os trabalhadores mesmo entre aqueles que votaram PS que hoje afirmam que o PCP faz falta no governo para que haja uma outra política, para que haja uma política de esquerda.
O PCP e a CDU aparecem aos olhos de cada vez mais portugueses como a grande força da esquerda, uma força que tem propostas e soluções, que luta para que os cidadãos intervenham e sejam verdadeiros agentes da transformação.
O traço mais significativo da intervenção do PCP é o traço da proposta e da solução, da resposta aos anseios e aspirações dos trabalhadores e das populações, como se pode ver pelos projectos de lei apresentados na Assembleia da República, pelo seu trabalho nas autarquias, no Parlamento Europeu, nos sindicatos e nas mais diversas esferas da vida nacional.
(...) O lucro antes dos homens
Temos afirmado que vivemos num mundo em que as conquistas da ciência e da técnica permitem melhorar significativamente a vida das populações, reduzir o tempo de trabalho sem diminuição dos salários, e apagar as manchas de pobreza e superar os flagelos sociais que atingem milhões de seres humanos, o que é uma vergonha para todos nós.
Mas o capitalismo e a sua expressão neoliberal continuam a condenar milhões e milhões de cidadãos à exclusão social e à miséria.
É a expressão clássica do chamado capitalismo pós-moderno: o lucro antes dos homens, a exclusão dos homens que entravam o lucro. Os vinte milhões de desempregados na União Europeia não são um acidente do capitalismo, mas o seu modo de funcionamento.
O Relatório do Desenvolvimento humano do PNUD de 1997 aí está a confirmar cada vez mais, a polarização da riqueza e da pobreza e, tudo isto, à beira do Terceiro milénio.
Segundo o Relatório da ONU perto de um terço da população do mundo em desenvolvimento cerca de 1,3 mil milhões de pessoas vive com menos de 1 dólar por dia. Mais de 800 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer.
Das 100 maiores economias do Mundo, 50% são países e os outros 50% são mega-empresas.
O rácio do rendimento dos 20% mais ricos face aos 20% mais pobres, passou de 30 para 1 em 1960, de 61 para 1 em 1991 e para um novo aumento alarmante de 78 para 1, em 1994. As desigualdades somam e seguem.
Quanto à dívida externa este Relatório é peremptório: Os países pobres altamente endividados precisam do alívio imediato da dívida. O alívio definido em termos de stock da dívida e do seu serviço para os 20 países mais gravemente afectados custaria entre 5,5 mil milhões a 7,7 mil milhões de dólares, ou seja, menos do que o custo de um bombardeiro.
E quanto à situação das mulheres os dados são também reveladores: Nos países em desenvolvimento, as mulheres analfabetas ultrapassam o número dos homens em 60%. As mulheres ganham apenas três quartos do que os homens ganham. Entretanto, as mulheres carregam uma parcela desproporcionadamente grande dos trabalhos domésticos e das responsabilidades de criar as crianças. Elas têm também menos acesso à terra, ao crédito e às oportunidades de emprego. Nos países industrializados, a taxa de desemprego entre as mulheres é mais elevada do que entre os homens. A nível mundial, as mulheres ainda detêm apenas 13% dos lugares parlamentares e 6% dos cargos governamentais.
E o Relatório conclui que "nenhuma sociedade trata tão bem as suas mulheres quantos os seus homens"...
Esta é uma situação que é necessário combater e alterar.
No entanto alguns continuam a preconizar a americanização do Planeta e muito especialmente da Europa, propagandeando a baixa taxa de desemprego dos EUA e da sua prosperidade. Procuram fazer esquecer que nos EUA a maioria dos empregos criados são precários, são empregos mal pagos e sem qualquer segurança, estilo Mac Donald e que a sua "prosperidade" de alguns se deve no essencial, às práticas de dominação, nomeadamente através do GATT (OMC).
Na próxima reunião do G7 ou G8, vamos ter mais uma dose de propaganda: do chamado "modelo americano" que não é mais do que o modelo da lei da selva, do poder do dinheiro, do salve-se quem puder...
Seria aí a ocasião de recordar aproveitando a presença de Ieltsin o que tem significado a marcha dos Países de Leste para o capitalismo, para aquilo a que pudicamente denominam de economias de mercado. O Relatório da ONU que temos vindo a citar é muito claro: "Os países da Europa de Leste e da Comunidade de Estados Independentes assistiram à maior deterioração na última década, passando de quatro milhões de pessoas abaixo da linha de privação de rendimento em 1987/88, para 120 milhões actualmente, afectando cerca de um quarto da população total. E é também ilustrativo que o número de crianças que hoje na Rússia vivem na rua já se aproxima do triste nível do Brasil! Rússia que em 1993-94, com quase 60 milhões de pobres contava com cerca de metade de pobres da Europa de Leste e C.E.I..
É por tudo isto que afirmamos que a generalizada ofensiva do grande capital internacional contra os direitos, os salários e a segurança social dos povos e a pressão e prática no sentido da acentuação das desigualdades exige dos comunistas e de todas as forças progressistas tudo fazer para unir esforços, reforçar a solidariedade, e fazer convergir ou complementar lutas e intervenções.
E é com a forte convicção e com a confiança na força libertadora da luta dos trabalhadores e dos povos que os comunistas portugueses prosseguem em Portugal a luta pelos valores da Revolução de Abril, pelos valores e ideais do socialismo.
Portugal precisa de um Partido Comunista Português cada vez mais forte e mais interveniente, de um Partido que não vira as costas às dificuldades, de um Partido empenhado em trabalhar para hoje e para amanhã, na obra colectiva da construção de uma vida melhor para o povo português.