INTERNACIONAL



Cimeira da Terra
Nem as boas intenções se salvam


Com a participação de 60 dirigentes de 185 Estados, está a decorrer em Nova Iorque, desde segunda-feira, a «Cimeira da Terra II». Os trabalhos, que terminam amanhã, saldam-se desde já pelo reconhecimento generalizado do fracasso das resoluções adoptadas no último quinquénio em matéria de meio ambiente à escala mundial.

A escassez de água potável aumenta, o solo agrícola continua a perder-se, o fosso entre ricos e pobres não pára de aumentar. 20 por cento da população mundial continua a consumir 80 por cento dos recursos do planeta, enquanto 1.100 milhões de pessoas em todo o mundo (20 por cento) vivem na mais absoluta pobreza.

A principal quota de responsabilidade por esta situação cabe aos países ricos, com particular destaque para os Estados Unidos, no centro de todas as críticas.

A segunda «Cimeira da Terra» ficou comprometida desde o início pela manifesta falta de vontade política dos países ditos desenvolvidos em prevenir o desastre ecológico já anunciado há cinco anos na Cimeira do Rio, no Brasil, bem como em contribuir para um desenvolvimento equilibrado dos países mais pobres, em particular através da transferência de tecnologia. Não só as medidas então preconizadas como fundamentais para evitar o avanço da catástrofe não foram implementadas, como se verifica a recusa categórica dos EUA - o principal poluidor e consumidor das riquezas do planeta - em pôr em prática soluções tendentes a combater e contrariar os perigos crescentes das agressões ao meio ambiente.

Na recente cimeira de Denver, Colorado, os chefes de Estado e de Governo dos principais países industrializados fracassaram por completo nas suas tímidas tentativas para um compromisso em defesa do ambiente, o que contribui para o ambiente de pessimismo reinante nas Nações Unidas, com os especialistas a sustentarem que as decisões tomadas na primeira Cimeira da Terra, em 1992, não passaram do papel.

Segundo informações da Lusa, as negociações para a redacção dos documentos finais estão num impasse e as relações Norte-Sul passam por momentos difíceis, nomeadamente no que se refere aos dois «dossiers» principais: a restrição das emissões de gases responsáveis pelo efeito de estufa e a protecções das zonas florestais.

O apelo do secretário geral da ONU, Kofi Annan, para que os Chefes de Estado e de Governo que participam na Cimeira «intervenham agora» a fim de salvar o planeta de uma catástrofe ecológica arrisca a não encontrar sequer eco nas tradicionais declarações de boas intenções. A não ser que o Primeiro-Ministro britânico, Tony Blair, que prometeu que a Grä-Bretanha tomará a dianteira, na Europa, dando o exemplo ao mundo nos esforços para reduzir o aquecimento global, consiga arrastar mais alguns dirigentes noutros tantos discursos piedosos. Segundo Blair, a Grä-Bretanha estará disposta a reduzir as suas emissöes de dióxido de carbono em 20 por cento por volta do ano 2010.