INTERNACIONAL



Futuro do Sahara Ocidental
discutido em Lisboa


Uma delegação da Frente Polisário encontrou-se com representantes do Governo marroquino no início desta semana, no Forte de S. Julião da Barra, perto de Lisboa, numa iniciativa promovida pelas Nações Unidas com vista à resolução da questão do Sahara Ocidental. Até ao fecho da nossa edição, ainda não tinha sido divulgado qualquer conclusão dos contactos considerados «directos e secretos».

Presente nas conversações esteve o primeiro ministro da República Árabe Saharaui Democrática, Mahafoud Ali Beiba, acompanhado pelo ministro da Defesa, Brahim Ghali, o coordenador da Minurso, Mohamed Haddad, e os representantes da Polisário na ONU e na Alemanha.

Por parte de Marrocos, deslocaram-se a Lisboa o primeiro-ministro, Abdelatif Filadi, o embaixador nas Nações Unidas, o conselheiros do ministro do Interior e a presidente do gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros.

O encontro foi mediado por James Baker, representante pessoal do secretário-geral da ONU, e contou com a participação de representantes da Argélia e da Mauritânia, países observadores.

James Baker visitou o território saharaui no final de Abril. Na ocasião, afirmou que havia «esperança» num final próximo do processo.

O conflito entre as duas partes dura há 22 anos, desde que a Espanha abandonou a região. Nessa altura, a maioria da população civil fugiu das invasões marroquina e mauritana, instalando os seus campos de refugiados no extremo sueste da Argélia. Em Fevereiro de 1976, a frente Polisário proclama a República Árabe Saharaui Democrática que depressa recebe o reconhecimento por parte de muitos Estados do mundo.

Depois de 18 anos de guerra, o Conselho de Segurança da ONU adopta um plano de paz para o Sahara Ocidental. Desde então os seus funcionários controlam o cessar-fogo decretado em Setembro de 1991 e preparam o referendo sobre a autodeterminação do território que deverá ser decidido apenas pelos saharauis. No entanto, Marrocos tem vindo a procurar inscrever os seus cidadãos como se fossem saharauis para influenciar o resultado da consulta.

Em 1991, as Nações Unidas calcularam a população dos acampamentos em 173 mil pessoas, sendo constituída essencialmente por mulheres e crianças. A maioria dos homens está mobilizado nas zonas libertadas.

As mulheres tomam a seu cargo praticamente a vida social e económica dos acampamentos, recuperando o papel preponderante que desempenhavam na sociedade nómada. A emancipação da mulher saharaui contrasta com a situação do sector feminino nas outras nações muçulmanas.