Verde, branco
O anúncio da apresentação pública, nos próximos dias, do Livro Verde da Segurança Social - que traduzido de europês para português significa versão projecto do Livro Branco - recoloca na opinião pública as mais legítimas interrogações sobre que "reforma" da Segurança Social o Governo, por interpostos "lvros", vem preparando.
Não há infelizmente lugar para
expectativas positivas.
A metodologia seguida na formação da Comissão e a sua
composição foram as que se conhecem. O PS comprometera-se a
constitui, a partir da Assembleia da República, um "comité
independente de peritos", que analisasse a situação da
Segurança Social e que aprofundasse as diferentes perspectivas
para a sua reforma. Mas o que aconteceu foi a
governamentalização de todo o processo, com a constituição da
Comissão por resolução do Conselho de Ministros, com uma
composição particularmente marcada pela falta de independência
dos seus membros. E as honrosas e conhecidas excepções não
alteram o facto do Governo ter atribuído um peso claramente
maioritário aos representantes do grande capital financeiro, das
seguradoras e empresas gestoras de fundos de pensões, bem como a
técnicos que compartilham notória e publicamente dos mesmos
pontos de vista.
A campanha conduzida através da
comunicação social durante mais de um ano pelo presidente da
Comissão do Livro Branco e pelo Secretário de Estado da
Segurança Social, para irem apresentando como
"inevitáveis" as linhas mestras de uma
"reforma" privatizadora e redutora de direitos da
Segurança Social, também não autoriza quaisquer dúvidas.
O que é conhecido do sumário do Livro Verde confirma agora,
igualmente, que o grande capital não brinca em serviço, quando
está em jogo a possibilidade de controlar um mercado financeiro
que vale muitas centenas de milhões de contos por ano. A
"música", inspirada pelo Banco Mundial, é conhecida:
"atenuação gradual das responsabilidades futuras da
Previdência com pensões de velhice e sobrevivência, pela
criação de uma segunda pensão de base contributiva, acessível
a todos os beneficiários, capitalizável e incrementável por
opção individual", "transformação gradual da
primeira pensão (pensão universal) numa pensão de amplitude
limitada, de montante proporcional à escala salarial
correspondente, mas regressivo", "criação de um tecto
imediato nas pensões da função pública e de aumento do
respectivo período de garantia" (leia-se: redução do
sistema público de Segurança Social, privatização da
segurança social através de descontos obrigatórios para fundos
de pensões); "tributação das prestações da Segurança
Social", "aumento da idade da reforma para 67
anos", "aumento progressivo do período de
garantia" (leia-se: redução dos direitos adquiridos e em
formação por parte dos beneficiários).
Por mais palavras tranquilizadoras e por mais "gradualismo" com que o ministro Ferro Rodrigues venha agora tentar esbater a natureza e os objectivos destas propostas da sua Comissão, não é óbvio que os portugueses estão confrontados com uma autêntica declaração de guerra social?
Edgar Correia