TRABALHO


Plenário convocado para hoje na Somincor

Vitória dos mineiros
confirma razão da luta


Depois de uma reunião de cinco horas com os secretários de Estado da Indústria e do Trabalho e o presidente da Somincor, os trabalhadores aceitaram retomar a laboração no horário normal e marcaram um plenário para hoje, último dos 3 dias concedidos à administração para apresentar uma proposta para negociação.

O compromisso do Governo e da administração das Minas de Neves Corvo foi conseguido depois de cinco dias consecutivos de greve contra a introdução do regime de laboração contínua, sem negociação e em condições muito prejudiciais para os trabalhadores.

A luta teve uma forte adesão, levando à paralisação das minas, e implicou mesmo a deslocação a Lisboa de algumas centenas de mineiros, que desfilaram na passada quinta-feira entre a sede da Somincor, nas Amoreiras, e o Ministério da Economia.

 

Acordo de princípio

Na madrugada de sábado foi alcançado o acordo de princípio entre os representantes dos mineiros, os secretários de Estado e o presidente da empresa. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira, os representantes do Governo apresentaram uma plataforma para que fosse retomado o trabalho no horário que vinha sendo praticado; num prazo de três dias, a administração apresentaria ao sindicato, para negociação, uma nova proposta de horários que, visando a actividade sem interrupção (7 dias por semana, 24 horas por dia), deveria contemplar 104 dias de descanso por ano (e não 91, como estava no horário alterado unilateralmente), maior frequência de descansos semanais ao domingo, e possibilidade de os trabalhadores efectuarem trocas de horário.

Reafirmando que pretendem continuar a discutir os demais problemas que se vivem na Somincor (semana de 40 horas no exterior da mina, correcções nos horários dos transportes, negociação de prémios, classificações profissionais), os representantes sindicais comprometeram-se a levar a plataforma a um plenário de trabalhadores. Este teve lugar no sábado.

A aceitação da plataforma foi acompanhada da suspensão da greve e da retoma do trabalho a partir de segunda-feira, dia 14, no mesmo horário que era praticado até ao deflagrar do conflito.

Ao dar nota deste resultado, o sindicato mineiro afirmava que ficaria a aguardar a nova proposta da administração, «para ver se e como ela contempla as folgas e os dias de descanso, bem como o montante do respectivo subsídio (e, naturalmente, o pagamento dos feriados)».

Citando declarações públicas do secretário de Estado da Indústria, o sindicato frisa que «é preciso ter cuidado, porque isto mexe com a vida dos trabalhadores e famílias». A observação precede pertinentes considerações quanto ao futuro imediato.

De acordo com o sindicato, «durante a paralisação foi sucessivamente comunicado à administração que, a todo o momento que aceitasse repor o horário anterior, se suspenderia a greve e entrava ao serviço a equipa de turno desse momento, pelo que, naturalmente, se espera que a empresa pague o tempo que estiveram paralisados contra um horário que não poderia ser aplicado e disponíveis para o anterior».

O sindicato realça que esta foi também uma luta pelo emprego, uma vez que com o horário do interior da mina, nas novas condições, e a aplicação das 40 horas no exterior, será necessário criar mais postos de trabalho.

 

Saleiro
afastado

A vitória dos mineiros de Castro Verde «teve a virtude de clarificar a injustiça das propostas da administração e o oportunismo do Governador Civil de Beja que, isolado pelo seu posicionamento partidário no exercício de funções políticas, foi afastado de mediador do conflito», afirma o Secretariado Inter-Regional do Alentejo da CGTP.

Numa nota de imprensa, a estrutura que reúne as uniões de sindicatos de Beja, Évora e Portalegre (e que na semana passada pediu mesmo a demissão de António Saleiro do cargo de governador civil) expressa aos trabalhadores da Somincor o seu «apoio solidário e regozijo pela vitória alcançada».