INTERNACIONAL


Espanha unida
contra o terrorismo


«Basta já» é o grito que percorre a Espanha desde o passado sábado.

Sob o lema «pela paz, pela unidade e pela liberdade», os espanhóis sairam à rua unidos no protesto comum contra as acções de terrorismo da ETA Militar.

As manifestações, sem precedentes nos 30 anos de actividade da ETA, foram despoletadas pelo assassínio do jovem vereador municipal Miguel Angel Blanco. O vereador do Partido Popular espanhol, de 29 anos, sequestrado na passada quinta-feira, foi encontrado no sábado com dois tiros na nuca, vindo a morrer na madrugada de domingo.

Ao enterro de Miguel Angel, sepultado na segunda-feira na localidade de Ermua (Biscaia), e às manifestações de pesar pela sua morte, realizadas em praticamente todas as capitais regionais, não faltou ninguém.

Em Madrid, o primeiro-ministro José Maria Aznar e todo o executivo, bem como os ex-Primeiros Ministros Felipe Gonzalez, Adolfo Suarez e Leopoldo Calvo Sotelo, juntaram-se aos Secretários-gerais de todos os principais partidos, presidentes de Governos regionais e membros dos respectivos executivos, aos líderes sindicais e empresariais, numa rara imagem de pluralismo.

Idênticas acções de protesto e repúdio tiveram lugar em Barcelona, Oviedo , Bilbao, San Sebastian, Pamplona, Burgos, Salamanca, e na generalidade das principais cidades do país vizinho, numa verdadeira explosão popular que uniu toda a sociedade espanhola.

Como afirmou segunda-feira o Rei Juan Carlos de Espanha, «a consciência dos espanhóis saiu à rua» em todo o país e deu um «exemplo incomensurável, inigualável, de civismo e unidade».

Em declarações à TVE, o monarca disse que «a morte de Miguel Angel não foi em vão» e servirá para «continuar a lutar nesta luta inacabada pela democracia, as liberdades e os Direitos Humanos».

Entretanto, registaram-se graves incidentes na noite de segunda-feira juntoàs sedes da coligação independentista basca Herri Batasuna (HB, braço político da ETA) nas cidades de Bilbau, Vitória, e San Sebastian.

Os confrontos mais sérios tiveram lugar em Bilbau, onde as forças da ordem tiveram de intervir para evitar o linchamento de dois jovens militantes separatistas frente à sede do HB, tomada de assalto por centenas de manifestantes, segundo a imprensa estrangeira no local, citada pela Lusa. Antes, vários simpatizantes do HB tiveram de fugir sob escolta policial após terem tentado abrir uma faixa de apoio à ETA em plena manifestação pacifista.

No mesmo dia, os principais partidos espanhóis uniram-se numa ruptura «total e definitiva» com a coligação «Herri Batasuna».

Uma tamanha unidade é sem dúvida impressionante. No entanto, emoções à parte, e dado como adquirido que a luta do povo basco pelos seus direitos não pode servir de pretexto a qualquer espécie de terrorismo, cabe reflectir se é na consolidação da democracia que a direita espanhola está a pensar quando junta a sua voz ao grito popular de «Basta já». Sem falsas ingenuidades, é bom não esquecer que a acção da chamada extrema-esquerda sempre serviu para reforçar a extrema-direita. Não se vê por que motivo em Espanha há-de ser diferente.