Ensino Superior
É necessário cumprir legislação
O Ministério da Educação não respeita nem faz respeitar a legislação referente aos regimes de trabalho dos docentes do Ensino Superior e às condições em que podem acumular serviço, denuncia a Comissão Nacional do Ensino Superior do PCP.
A existência de professores que se «desmultiplicam
ilegalmente» por diferentes escolas e cursos constitui, assim,
«um dos factores que condiciona de forma mais negativa a
qualidade do ensino superior».
O desrespeito pelo Estatuto de Carreira Docente Universitária
(ECDU) e legislação que estabelece «condições e limites à
prestação de serviço» em outras instituições, para docentes
tanto em tempo integral como em dedicação exclusiva, leva à
«proliferação de situações ilegais» que «têm servido de
suporte formal e operacional à multiplicação» de
estabelecimentos de ensino superior e cursos sem qualidade,
«viabilizados por docentes do ensino superior público em regime
de acumulação excessiva e ilegal de funções».
Um estado de coisas que contribui para «a degradação do
estatuto social e remuneratório dos docentes» e da qualidade do
ensino e é tanto mais incompreensível quanto o actual Governo
reconheceu que «a dignificação da actividade docente», o
«conhecimento público da situação real dos estabelecimentos»
e a «necessidade de transparência das relações dos docentes»
de uma instituição noutras instituições, estão na base da
publicação do diploma que obriga à «publicitação anual da
composição do corpo docente de todas as instituições de
ensino superior».
Ora, apesar de caber ao Ministério da Educação «fazer
publicar as listas nominativas» de cada instituição até 31 de
Março de cada ano, em 1997 não foram ainda publicadas quaisquer
listagens.
E como o mesmo diploma estabelece «que compete ao Departamento
do Ensino Superior proceder ao controlo do cumprimento» do
diploma e à Inspecção Geral da Educação «proceder... ao
controlo das listas (nominativas)...», está-se perante uma
situação de ilegalidade da responsabilidade do Ministério da
Educação.
A alegada falta de verbas, inaceitável «num Estado de direito
democrático», leva, segundo o PCP, à presunção de que muitas
instituições não cumpriram o preceito a que a lei as obriga».
Aliás, prossegue, «é esclarecedor que o próprio Inspector
Geral da Educação afirme existirem "estabelecimentos de
ensino superior particular e cooperativo a funcionar sem
autorização" e sem conhecimento da tutela que, «por
vezes, só os identifica quando surge a denúncia"».
Assim, a Comissão Nacional do Ensino Superior do PCP «exige,
nomeadamente, a rápida publicação das listagens produzidas, a
identificação das instituições em falta e dos docentes em
situação de acumulação irregular, e a efectiva aplicação
das medidas legalmente estabelecidas».
Escândalo no acesso
Também sobre o acesso ao ensino superior, a Comissão tomou
na quinta-feira passada posição, designadamente em relação ao
facto de o Ministério da Educação não ter ainda publicado o
número de vagas para a primeira matrícula nas instituições de
ensino superior privado.
Apesar disto, diz o PCP, muitos destes estabelecimentos «já
deram início a processo de candidatura e a provas de
selacção», com o pagamento de elevadas taxas de candidatura,
aproveitando-se, desta maneira, da incerteza de muitos estudantes
que aguardam o desfecho do concurso nacional para, caso não
sejam colocados, tentarem, em segunda escolha, o ensino privado.
Escandaloso é também, para os comunistas, o facto de o
Ministério da Educação não intervir para limitar as absurdas
provas de pré-requisitos para cursos como ciências sociais,
direito e gestão, quando estas foram criadas apenas para cursos
em que as aptidões físicas, funcionais ou vocacionais assumem
particular relevância, como é o caso do ensino artístico e o
da educação física.
Por outro lado, a maioria dos estabelecimentos do ensino privado
não fixou nota mínima, tornando pouco transparente e até
ilegal o modo como se realiza o preenchimento de vagas.
Lembrando que, para tornar mais justo e transparente o sistema de acesso ao ensino superior, propôs há mais de um ano que tivessem lugar dois concursos nacionais - um para o ensino suoperior público, outro para o privado -, a Comissão Nacional do Ensino Superior do PCP afirma que é tempo de o Ministério da Educação «deixar de fingir que desconhece estes comportamentos abusivos e ilegais» e de tomar medidas eficazes para a defesa dos direitos dos milhares de estudantes que, face à prometida e não cumprida abolição do sistema de numerus clausus se vêem obrigados e recorrer ao ensino privado.