ESPANHA
Aznar ao ataque
Ninguém contesta que
existe um problema no país basco. Um problema de carácter
nacional, pois os bascos indiscutivelmente constituem um povo com
uma língua própria num espaço concreto e real. Que se
conheça, ninguém ousa pôr em causa esta constatação.
É evidente que na Espanha actual há feridas que vêm de longe.
A ditadura franquista foi violentíssima para todos os povos de
Espanha, e que o diga o povo basco que sofreu uma terrível
opressão e repressão.
É sabido que há uma força política que defende a
independência do país basco. O problema não resulta do facto
de a ETA defender a independência do país basco, mas sim de
utilizar o terrorismo para alcançar aquele objectivo.
A ETA entende que, no quadro democrático espanhol, não tem
condições para lutar por aquele objectivo e lança mão da luta
terrorista.
São conhecidos inúmeros exemplos de atentados terroristas
etarras que não têm a menor justificação e só podem ser
condenados.
No final do século
passado e início do século XX os clássicos do comunismo
fizeram a separação das águas entre a luta revolucionária das
massas populares e o terrorismo. Mantêm-se integralmente
válidas as suas análises e conclusões pelo que os comunistas
nesta matéria têm uma orientação clara.
É linear, entretanto, que se a ETA ao longo de todos estes anos
se vai mantendo é porque encontra, por muito residuais que
sejam, bases para poder prosseguir a sua acção.
O criminoso assassinato do jovem vereador de Ermua insere-se
nessa estratégia de terror que a ETA utiliza.
Contra esse atentado levantaram-se os povos de Espanha. E com
razão. Só que há quem se aproveite desse movimento para tentar
impôr novas restrições democráticas a Espanha.
A Espanha não tem democracia a mais. A democracia, aliás, nunca
é demais. Mas registe-se desde já o frenesim com que o governo
de Aznar lançou mão de um conjunto de propostas de lei nas
Cortes cujo objectivo é policiar o país.
Na passada quinta-feira,
dia 17 do corrente, as Cortes aprovaram uma lei que permite a
instauração de câmaras de vídeo nas ruas tidas como mais
propícias à delinquência para vigiar os cidadãos.
É evidente que se trata de uma medida gravíssima de
policiamento contra a qual só votou contra a Esquerda Unida.
A própria proibição da manifestação de um partido legal,
como é o caso da HB, é de molde a suscitar a mais viva
inquietação. Uma coisa é a condenação do terrorismo etarra, outra
coisa é aproveitar o clima emocional criado com o assassinato do
vereador do PP para lançar mão de um conjunto de medidas
autoritárias. E ainda fazer crer que no país basco tudo
está bem. Não. No país basco há um problema nacional. O
Partido Comunista de Espanha e a Esquerda Unida defendem o
máximo de autonomia num Estado federado, mas reconhecem ao povo
basco o direito à autodeterminação.
E se crimes são crimes, certas medidas do governo de Espanha
não têm explicação e são gravosas, como seja a de terem os
presos bascos espalhados por todo o país, ou de recorrerem a
medidas de terror ou de recorte anti-democrático.
Em Espanha não há democracia a mais, e sem o pleno exercício
das liberdades democráicas mais difícil se torna resolver os
poblemas do país basco e outros.
Domingos Lopes