PCP


Faleceu José Bernardino


Após prolongada doença, que enfrentou sempre com a maior coragem e serenidade, faleceu, na passada segunda-feira, José Manuel Mendonça de Oliveira Bernardino.

Natural do Huambo (Angola), José Bernardino, de 62 anos de idade, colocou a maior parte da sua vida ao serviço do Partido e do povo a que pertencia. Membro do PCP desde 1956 e funcionário do PCP desde 1961, destacou-se muito novo na luta estudantil. Antes do 25 de Abril integrou os organismos estudantis do Partido, tendo sido dirigente da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, da Casa dos Estudantes do Império e Secretário-geral da R.I.A. (reunião Inter-Associações) em 1960/61.

Preso na sequência das lutas juvenis e das grandes manifestações do 1º de Maio de 1962, onde teve uma destacada participação, José Bernardino cumpriu sete anos de prisão.

Libertado em 1969, regressou à luta clandestina, onde o 25 de Abril o foi encontrar, como membro da Direcção da Organização Regional do Norte do PCP.

Depois do 25 de Abril, desempenhou tarefas e exerceu responsabilidades nas Organizações Regionais do PCP das Beiras e posteriormente de Lisboa. Entre Maio de 1974 e Dezembro de 1996 foi membro do Comité Central e era, à data do seu falecimento, membro da Comissão junto do Comité Central para os Assuntos Económicos.

Sublinhando a activa e generosa contribuição que ao longo da sua vida deu à luta pela Liberdade, pela Democracia e pelo Socialismo, o Secretariado do Comité Central do PCP enviou na segunda-feira à família de José Bernardino, nomeadamente a sua mulher, Manuela Bernardino, membro da Comissão Central de Controlo do CC e da Secção Internacional do Partido, e a suas filhas, as mais sentidas condolências.

A homenagear José Bernardino, cujo corpo esteve em câmara ardente, a partir de terça-feira à tarde, na capela do Cemitério do Alto de S. João, estiveram centenas de amigos e camaradas.

O funeral de José Bernardino, ontem realizado, constituíu uma manifestação de profundo pesar em que participaram o Secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, muitos dirigentes e numerosos militantes do Partido, bem como muitos democratas e amigos do camarada falecido.

O Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, que enviou em seu nome uma coroa de flores, fez-se representar no funeral pelo embaixador António Franco, Chefe da sua Casa Civil. Também o Embaixador da República de Angola se fez representar.

Na altura, Carlos Aboim Inglês, em nome do Comité Central do PCP, proferiu as últimas palavras de despedida.

«(...) Desde muito jovem que José Bernardino foi sensível ao sofrimento dos outros, à sua volta e no mundo, e se abriu a generosos ideais de libertação e felicidade humana. Daí nasceu a sua definitiva opção de classe pelos explorados e oprimidos e a sua adesão, em 1956, ao Partido Comunista Português, ainda nos duros tempos da ditadura fascista. No Partido e com o Partido militou constantemente durante mais de quatro décadas, afrontando com honra e coragem, física, moral e política, as mais difíceis provas revolucionárias, incluindo a clandestinidade e o cárcere. Sem regatear o melhor de si mesmo, tanto nas mais pequenas tarefas como nas mais altas responsabilidades, tanto nos ascensos como nos refluxos da História e da luta, José Bernardino sempre se entregou com juvenil entusiasmo e seriedade exemplar a tudo quanto fez, e muito foi, nas mais diversas actividades e até quase ao fim dos seus dias.

(...)

José Bernardino era à data da sua morte Vice-Presidente e Secretário Geral da Associação Iuri Gagarine, antioga Associação Portugal-URSS, a ela tendo dedicado as suas últimas energias para planear a comemoração do 80º aniversário da Revolução de Outubro.

(...) Homem de Partido, sem dúvida, vertical e desassombrado, José Bernardino possuía uma rara capacidade de diálogo e convergência largamente unitária. Foi homem de firmes convicções, mas não sectário; exigente consigo e com os outros, mas profundamente generoso. Por isso mesmo foi um homem de muitos e bons amigos e leal amigo de todos eles, dentro e fora do Partido.

A morte é sem remédio. Mas todos nós que aqui estamos hoje, e muitos mais que não puderam vir, não esqueceremos nunca José Bernardino. E na vida que continua, saibamos todos merecer o quanto nos enriqueceu com o seu convívio, o quanto ele nos deu da sua própria vida.»