EM FOCO


InterMEDIAções

Por Fernando Correia


O visível
e o oculto - I

Há dias, um amigo interpelou-me acerca destas crónicas, declarando-se loco à partida um leitor assíduo e atento. O gesto foi simpático: em geral (todos os que trabalham na comunicação social sabem isso), a necessidade ou o gosto que muitas pessoas têm em criticar directamente o jornalista por algo que lhes desagrada, não são acompanhados por igual presteza quando se trata de manifestar agrado. E se a primeira atitude é útil e benéfica para quem escreve, a secunda não o é menos.

Mas depois da pancadinha nas costas veio, ainda que com igual simpatia, a pancada: que nestes escritos se fala pouco do anticomunismo, que se não desmascaram as campanhas desenvolvidas nos media, que se não dá o combate necessário aos que escrevem e falam contra o Partido.

Admitindo que outros leitores perfilhem opinião igual ou semelhante, decerto será útil reflectir um pouco sobre esta questão, aproveitando para fornecer algumas explicações que ajudem a definir os parâmetros destas prosas quinzenais.

Se há partido que, na comunicação social de massas - considerando os grandes diários e semanários, as rádios nacionais e os canais televisivos - seja, em geral, mais maltratado que os outros, é o PCP. Falo dos estratagemas habituais de manipulação, como a omissão do essencial em favor do secundário, a apresentação dos factos fora dos seus contextos ou isolados dos motivos que lhes dão sentido, a mistura dissimulada do comentário com a notícia, etc. Sem esquecer o mais subtil e, porventura, o mais insidioso dos estratagemas: o silenciamento.

As razões para que tal aconteça têm a ver, essencialmente, com três tipos de factores interligados: a natureza do poder na sociedade capitalista (poder económico, social, político, mediático...); a luta ideológica e a luta pelo domínio da informação enquanto expressões da luta de classes; o funcionamento da produção da informação e da indústria mediática subordinadas à ditadura do mercado (sobre este tema, pode ler-se «O PCP, as discriminações e os critérios jornalísticos», Avante!, 30.4.95).

Está fora de causa a necessidade constante de, sem esmorecimento, denunciar esta situação, repondo a verdade quando ela é atingida, esclarecendo os factos quando eles são deturpados, exigindo o direito de intervir quando ele é negado.

Deve dizer-se, aliás, que esta é uma tarefa que não incumbe apenas, em termos de Partido, aos sectores especialmente vocacionados para o efeito, como é o caso do Departamento de Propaganda (DEP), do Gabinete de Imprensa central e das organizações regionais, assim como do Avante! e de O Militante - em cujas páginas, como é sabido, em rubricas e sob formatos jornalísticos diversos, essa missão é cumprida em praticamente todos os números.

Trata-se de uma tarefa que, no quadro do esforço «por uma mais eficaz comunicação do Partido com a sociedade», através do trabalho de informação, propaganda e esclarecimento, incumbe também a todo o Partido, entendido este como «uma grande e ímpar rede de comunicação militante, uma enorme corrente de convicções e de vontades que, organizados e em movimento, é capaz de defrontar a desigualdade de meios, e partir decididamente à conquista da inteligência e da sensibilidade de mais trabalhadores, mais jovens, mais cidadãos, para apoiarem as nossas propostas políticas e o nosso projecto» (ver ponto 9 do cap. IV da Resolução Política do XV Congresso).


O visível e o oculto - II

Mas para além da resposta imediata e directa aos ataques e às adulterações, às mentiras e às discriminações, o combate ao anticomunismo nos media (que o mesmo é dizer: a luta por uma informação rigorosa, isenta e pluralista) pode (e, julgo eu, deve) ser feito, simultaneamente, num outro plano: o do conhecimento, aprofundamento e desmontagem das estruturas e dos mecanismos que, nas sociedades capitalistas em geral e nas condições específicas da nossa em particular, sustentam, impulsionam e dão conteúdo ao funcionamento dos grandes jornais, canais de rádios e de televisão.

É este o plano em que, em geral, estas crónicas se procuram situar, ainda que dentro dos limites de uma rubrica deste tipo.

Os dois planos complementam-se um ao outro. Por um lado, a intervenção directa e imediata sobre casos concretos (e não só em relação ao anticomunismo) insere-se e constitui elemento indispensável no combate político e ideológico, ancorando-o no quotidiano das lutas e da vida.

Por outro lado, a análise das causas, dos contextos e dos objectivos da produção da informação, o estudo dos media e dos jornalistas como mediadores entre as estruturas sociais e as práticas sociais, não só ajudam a explicar e compreender os casos concretos e pontuais, como também contribuem para um desiderato essencial: conhecer a realidade, em todos os seus contornos e complexidades, para a poder e saber transformar.

Procurando assim evitar que a preocupação (indispensável e necessária) pelo que é ostensivo e visível faça esquecer preocupação idêntica pelo que é dissimulado e oculto, e a cujo nível se encontram as causas profundas e as determinações essenciais.