14º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes
Pela Solidariedade, Paz e Amizade
De 28 de Julho a 5 de Agosto, decorreu na cidade de
Havana, em Cuba, o 14º Festival Mundial da Juventude e dos
Estudantes. Sob o lema «Pela Solidariedade Anti-imperialista,
pela Paz e Amizade», participaram mais de 12 mil delegados
representando diversas organizações e estruturas juvenis de
todo o mundo. Só de Portugal partiram 130 jovens.
Sobre as impressões recolhidas durante os 11 dias que durou a
iniciativa, o «Avante!» ouviu João Frazão e Paulo Raimundo,
membros da Comissão Política da JCP, Osvaldo Marta, membro da
Direcção Nacional e Marta Martins, membro da Secção
Internacional da Juventude Comunista Portuguesa:
Com foi constituída a delegação portuguesa?
João Frazão - A participação
portuguesa foi organizada pelo Comité Nacional Preparatório que
foi constituído com uma base muito alargada de cerca de meia
centena de associações e organizações juvenis do nosso país.
Por exemplo?
Desde logo o Conselho Nacional de Juventude, que é a maior plataforma de organizações juvenis em Portugal, numerosas associações de estudantes, organizações partidárias de juventude - JCP, JS, Ecolojovem, Juventude da UDP - e outras estruturas juvenis.
Isso quer dizer que os 130 delegados portugueses
que estiveram em Havana representaram um conjunto diversificado
estruturas?
Sim. De facto, a delegação era integrada por jovens de vários sectores da sociedade, que expressam pontos de vista políticos muito distintos e têm posições diferentes designadamente sobre a revolução cubana. Como é normal esta diversidade reflectiu-se nas intervenções dos delegados.
O que é que leva gente com opiniões tão diversas
a juntar-se num Festival?
Penso que no fundamental é a causa da solidariedade, nomeadamente com Cuba. Mas este tipo de festivais são uma oportunidade única para fazer contactos e trocar experiências com organizações de praticamente todo o mundo. É por isso uma iniciativa muito enriquecedora que atrai muitos jovens.
Quais foram os principais temas que estiveram em
foco?
Paulo Raimundo - Os problemas da juventude, tais como o emprego, educação saúde, bem como questões relacionadas com o próprio lema do Festival, ou seja a solidadariedade anti-imperialista, a paz e a amizade entre os povos, a luta pelos direitos humanos, etc.
Osvaldo Marta - Além disso realizou-se um tribunal anti-imperialista onde foram julgados vários casos de opressão dos povos e de negação do seu direito à autodeterminação.
Pode dizer-se que o Festival foi muito mais do que
uma manifestação de solidariedade com Cuba?
JF - Os objectivos do Festival estavam bem definidos e foram cumpridos. É claro que acabou por constituir, naturalmente, uma grande manifestação de solidariedade com Cuba. Por outro lado, ali foram denunciados muitos outros casos. Por exemplo a nossa delegação teve a possibilidade sensibilizar os participantes para a situação que se vive em Timor. Outras organizações chamaram a atenção para a luta no Sahara Ocidental, na Palestina, em vários países da América Latina. Realizaram-se ainda debates sobre os Sem Terra do Brasil, sobre a Irlanda, País Basco, Congo, Curdistão, entre outros.
Nos oito anos que passaram desde o Festival da
Juventude realizado em Pyongyang, operaram-se grandes
transformações sociais e políticas no mundo. O Festival
reflectiu certamente sobre as novas realidades?
JF - É certo que muitas coisas mudaram, mas outras não mudaram assim tanto. Por isso é fundamental que a luta anti-imperialista continue. Esta é uma das mensagens da declaração final.
OM - Hoje o imperialismo manifesta-se através de formas mais sofisticadas. O bloqueio a Cuba, que segundo os próprios cubanos, não é mais do que uma guerra económica, ou mesmo o processo de integração em curso na Europa são novas formas de domínio imperialista, que visam pôr em prática mecanismos para aumentar a exploração do homem e dominar a vontade dos povos.
Durante o Festival os delegados ficaram instalados
em casas de famílias cubanas. Foi uma experiência interessante?
Marta Martins - Foi bom porque pudemos acompanhar o dia-a-dia de uma família cubana, conhecer as suas dificuldades, mas também, e apesar tudo isso, sentir um enorme calor humano e uma grande afectividade. Fomos praticamente adoptados pelas famílias.
JF - A possibilidade de vivermos com famílias cubanas, deixou-me completamente maravilhado e ao que sei este é o sentimento generalizado da delegação portuguesa. A família que me recebeu tratou-me como um filho, e naquele momento como o filho mais querido. Penso que todos temos histórias comoventes sobre a forma como fomos acolhidos. Às tantas começamos a perguntar quem é afinal mais solidário? Nós que conseguimos enviar algumas toneladas de papel e de roupa para Cuba ou os cubanos que apesar das enormes dificuldades tiveram mais este acto de coragem de realizar o Festival?
Que iniciativas a JCP pensa realizar em torno do
14º Festival?
Para já estamos a preparar uma exposição de fotografias que será apresentada na Festa do «Avante!», onde divulgaremos as principais conclusões dos debates realizados. De qualquer forma, o Festival e a experiência que ali adquirimos irá estar presente na nossa actividade durante os tempos mais próximos.
A Declaração Final do Festival
Novo impulso
ao movimento da juventude e estudantes
A declaração final do 14º Festival Mundial da
Juventude e Estudantes sublinha o grande êxito da iniciativa que
juntou 12.326 delegados de 132 países em representação de mais
de duas mil organizações nacionais, regionais e internacionais,
que participaram em numerosos debates políticos, reuniões e
outras actividades do Festival.
O êxito do Festival, afirma o texto, «conferiu um novo impulso
ao Movimento dos Festivais, passados cinquenta anos da sua
criação e oito da realização do 13º Festival de Pyongyang,
na República Democrática da Coreia».
Salientando os esforços e o árduo trabalho de muitas organizações juvenis estudantis que souberam ultrapassar as dificuldades no processo de preparação, a Declaração considera que «a reedição desta nobre reunião dos jovens do mundo perante as novas realidades, com forças, motivações e resultados novos, possibilitou o fortalecimento e ampliação do Movimento».
De seguida o texto sublinha que «este Festival se realiza em condições muito diferentes das que existiam em edições anteriores: o desaparecimento da União Soviética e de alguns outros países socialistas; as manobras imperialistas para impor hegemonia e o estabelecimento de de modelos neoliberais mediante o processo de globalização, que tem tido consequências graves para a humanidade em especial para os jovens do mundo; o aumento da repressão da exploração, do desemprego e do analfabetismo; a diminuição das condições para a educação; a pobreza; o aumento do fosso entre ricos e pobres e a degradação do meio ambiente, o aumento da toxicodependência.
«Nos últimos anos o movimento internacional da juventude e dos estudantes sofreu grandes alterações, ao mesmo tempo que se produziram múltiplas transformações políticas ao nível mundial. Pese as dificuldades, o movimento da juventude e dos estudantes anti-imperialistas continua a sua luta pela paz, a independência nacional, a soberania, a auto-determinação e a democracia, contra o aumento do poderio militar, e pelos direitos políticos, económicos e sociais.
«Nos numerosos debates políticos realizados durante o Festival foram condenadas as políticas agressivas do imperialismo internacional, encabeçado pelos Estados Unidos, as políticas neoliberais, e as suas negativas consequências sociais para os povos de todo o mundo, e lançado o apelo a todas as forças progressistas para através de acções concretas conquistarem os seus direitos e fomentarem modelos alternativos de sociedade»
A Declaração reafirma que as ideias do movimento «se baseiam na necessidade de fomentar um de paz e sem armas nucleares, um mundo de coexistência pacífica favorável à solução dos conflitos entre nações e povos, um mundo onde seja respeitada a igualdade de direitos de todas as nações de se desenvolverem e um mundo de justiça, prosperidade e felicidade para todos».
Os jovens participantes denunciam «energicamente a expansão da NATO» e exigem «
a dissolução desta aliança militar». Neste sentido reclamam «o encerramento de todas as bases militares estrangeiras, a redução dos armamentos, o fim do comércio de armas, a proibição total dos ensaios nucleares e a abolição de todas as armas nucleares, químicas e biológicas».
Ao mesmo tempo, o Festival condena «as acções extraterritoriais como o bloqueio, o embargo, as sanções, a ocupação militar, o terrorismo de estado e outros actos agressivos adoptados contra os povos e as nações de todas as partes do mundo».
Expressando «apoio à luta contra todos os tipos de discriminações e manifestações fascistas, racistas, de fundamentalismo religioso e de xenofobia», o Festival defendeu «o carácter indivisível e inalienável dos direitos humanos», e condenou «as violações que se registam em diferentes partes do mundo, bem como os governos que violam os direitos humanos dos seus povos».
A Declaração apoia «a luta das mulheres pela igualdade de direitos em todas as esferas» e exige «o direito de os jovens terem acesso a melhores cuidados médicos e a uma educação melhor, verdadeiramente gratuitos, e ao emprego».
Reclamando «uma política de desenvolvimento que preserve o ambiente, respeite a dignidade de todos os seres humanos e distribua equitativamente a riqueza entre todos os cidadãos», o documento pronuncia-se pelo «cancelamento da dívida externa de todos os países do Terceiro Mundo».
Mais adiante, é condenada «a monopolização da informação por parte das grandes transnacionais e a imposição de modelos culturais contrários à identidade e tradições» e reiterada a ideia de que «só uma verdadeira participação popular com justiça social é sustentáculo da democracia», bem como «o direito dos povos de decidirem sobre os seu próprio sistema democrático». É ainda reclamada «a democratização da Nações Unidas, organização que as forças imperialistas utilizam cada vez mais arbitrariamente, assim como a abolição do direito de veto».
O Festival lançou o apelo a todos os jovens e estudantes do mundo «a procurar a unidade na luta pelos seus direitos e aspirações e em defesa dos mesmos e a formar um movimento juvenil internacional que não só seja capaz de enfrentar as agressões do capitalismo, como também de prosseguir a luta pela transformação da sociedade».
Num momento em que se comemora o trigésimo aniversário da morte em combate de Che Guevara, os participantes do Festival declaram o seu apoio «a todas as causas justas e com os explorados e despojados do planeta».
A Declaração exorta todos os jovens e estudantes democráticos e progressistas a incorporarem-se activamente na preparação do 15º Festival, assinala a hospitalidade do povo cubano e agradece as facilidades concedidas pelo seu governo. Reafirmando o compromisso com o povo de Cuba de defender a sua revolução, os participantes no Festival exigem «o levantamento do bloqueio criminoso dos Estados Unidos contra um país que, apesar da situação muito difícil que atravessa, oferece o seu abraço amistoso a todos os jovens do mundo».