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Desapontamentos do Pontal



O tradicional Pontal do PSD não foi este ano uma festa, foi um fiasco.

Um fiasco que atesta o mal estar que grassa no PSD nacional. Um fiasco que atinge especialmente os pêessedês algarvios que viram a sua festa relegada para o lugar dos episódios meramente regionais, que perderam o exclusivo das «rentrées» do seu partido e a solidariedade dos «barões» de outras regiões.

Além disto, mesmo a imprensa mais generosa não conseguiu evitar expressões denunciadoras, como «fraca participação», «escassas centenas», «pouco entusiasmo», «frieza e desatenção» e outras semelhantes.

Que diferença com antigos Pontais que a Sic «maldosamente» não se esqueceu de recordar.

Não faltará quem pense que nada disto se desliga do facto da liderança partidária estar agora nas mãos da Costa do Sol...

O maior desapontamento do Pontal verificou-se, no entanto, na matéria da regionalização, que reúne largo consenso e desfruta de verdadeira popularidade no Algarve.


Esperava-se ver em confronto as posições favoráveis das bases pêessedês algarvias a esta reforma descentralizadora do Estado com as cambalhotas dadas em relação a ela por Marcelo Rebelo de Sousa.

Repare-se que estas vão, em menos de ano e meio, do apoio à regionalização formulado no Congresso de Vila da Feira até aos recentes anúncios do voto contra a lei de criação das regiões administrativas e da campanha pelo não nos referendos.

Alguns jornais tinham chegado a anunciar que haveria desafios do líder regional ao líder nacional para que se explicasse e apresentasse as suas propostas.

Ora Marcelo comportou-se no Pontal com a falta de vergonha habitual. Ignorou o assunto, ignorou a população algarvia, ignorou as bases partidárias. Em vez de regionalização falou de municipalismo como Manuel Monteiro.


Por sua vez o líder regional, Mendes Bota, substituiu o fogoso desafio anunciado, pela afirmação de uma respeitosa resignação com a atitude do chefe.

Declarou-se, claro, fiel à causa, mas mais como uma posição de princípio do que como um motivo de luta, pois, foi acrescentando: «Desiludam-se aqueles que esperam que eu seja um factor de instabilidade. Anunciarei o meu voto, mas não contem com declarações».

Assim se julga ele redimido das promessas feitas ao eleitorado do Algarve.


As posições do PSD em relação à regionalização constituem o mais acabado exemplo de farisaísmo a que se tem assistido em Portugal. É uma longa história de embustes e de golpes ao sabor dos interesses conjunturais do PSD. Vem desde a sua entusiástica defesa na Constituinte, quando pretendia transformá-la num instrumento de luta contra o Portugal de Abril. Foi depois mantida no congelador por vários governos laranja e retirada por momentos quando parecia trazer vantagens eleitorais, como aconteceu antes da obtenção de maioria absoluta em 1991, para ser depois alvo dos anátemas cavaquistas e das posições mais recentes de Marcelo.

O PS não podia escolher melhor parceiro para não fazer a regionalização.


Carlos Brito