EM FOCO


A medição do privilégio


Concentração da propriedade nos EUA

Por Jorge Figueiredo



Nos Estados Unidos 68,4% do stock de riqueza pertence aos 10% mais ricos da população e 31,5% aos 90% restantes. É o que informa o Inquérito às Finanças do Consumidor (Survey of Consumer Finances) relativo a 1995, realizado pelo banco central dos EUA (Federal Reserve) em conjunto com os serviços do imposto de renda (IRS). Note-se que o inquérito foi conduzido do ponto de vista do stock de capital (propriedade dos activos) e não do fluxo de capital (rendimentos), como é habitual na maioria dos países.


A desagregação dos 10% mais ricos revela uma concentração ainda mais impressionante. Desta elite dos proprietários, os 1% que estão no topo do topo detêm 35,1% da riqueza total (em termos de activos líquidos) e os 9% seguintes ficam com 33,2%. Isto mostra que actualmente os 1% mais ricos da população americana detêm mais riqueza (35,1%) do que os 90% da base (31,5% do total). A tabela abaixo dá pormenores, de acordo com as várias classes de riqueza da população americana:

1995

90% da base 10% do topo dos quais
      9% do topo 1% do topo
Activos fixos 37,90% 62,10% 31,00% 31,10%
Residência principal 66,40% 33,60% 25,70% 7,90%
Outros imóveis 20,20% 79,70% 43,90% 35,90%
Acções 15,60% 84,40% 42,20% 42,20%
Títulos 9,70% 90,20% 34,50% 55,70%
Fundos 13,10% 86,80% 42,60% 44,20%
Seguros de vida 55,00% 45,00% 27,80% 17,10%
Contas bancárias 57,70% 42,30% 26,00% 16,20%
Contas poupança 43,10% 56,90% 40,90% 16,00%
Outras contas 37,90% 62,10% 35,20% 26,80%
Negócios 7,70% 92,20% 20,80% 71,40%
Automóveis 77,60% 22,40% 17,80% 4,50%
Outros activos 29,30% 70,60% 39,20% 31,40%
         
Passivos 70,90% 29,10% 19,30% 9,70%
Resid.principal (hipoteca) 78,40% 21,60% 17,20% 4,40%
Outros imóveis 25,20% 74,70% 41,00% 33,70%
Outros passivos 80,60% 19,40% 9,60% 9,80%
         
Valor líquido 31,50% 68,40% 33,20% 35,10%
Valor líquido médio (US$) 39.252 1.217.375 596.974 13.601.980
         

Do ponto de vista histórico, a evolução dos últimos 30 anos mostra que a repartição da riqueza não tem cessado de piorar para os trabalhadores. Em 1963 os 90% da base detinham 36% da riqueza total e em 1995 a sua "fatia" havia caido para apenas 31,5% do total (note-se que da riqueza total dos trabalhadores a componente principal é a casa própria, um activo nao reprodutível pois não é meio de produção). Em contrapartida, os 1% mais ricos detinham 31,9% da riqueza total em 1963 e 35,2% em 1995.

O gráfico a seguir mostra que o grande agravamento na disparidade de riqueza verificou-se num período de apenas três anos, exactamente a partir de 1992 (já durante o governo Clinton):

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os dados acima são apresentados (com mais riqueza de pormenores) no boletim Left Business Observer, nº 78, de Julho/1997. Email: [email protected]. URL: http://www.panix.com/~dhenwood/LBO_home.html