EDITORIAL
O impulso da Festa
Com um programa cheio de novidades,
especialmente, nos domínios musical, artístico, cultural e
desportivo, mas também na própria ordenação do espaço da
Atalaia, aí está de novo a Festa do «Avante!».
É a sua 21ª edição e coincide com um momento muito complexo
da vida nacional e da situação internacional. Esta
circunstância, aliada ao facto de estarmos a poucos meses das
eleições autárquicas, de ser o comício da Festa que marca a
«rentrée» do PCP, onde normalmente o Partido adianta
posições, iniciativas e propostas em relação às grandes
questões em debate e perspectiva a sua actividade para os meses
seguintes, conferem-lhe também uma particular relevância
política.
Mas a Festa é mesmo festa e para além dos espectáculos
musicais, das exposições artísticas, das provas desportivas,
dos actos políticos, a Festa é recreio, confraternização,
convívio, encontro de novos amigos e reencontro de amigos de
sempre, muitas vezes sob a inspiração de propostas
gastronómicas, nas comidas e nas bebidas, transportadoras das
melhores tradições nacionais.
É tudo isto ligado - a intervenção política, a música, a
arte, a cultura em geral, o desporto e uma forma muito especial
de confraternizar e festejar - que se conjuga no impulso que a
Festa representa na dinamização da actividade dos comunistas e
dos seus aliados na CDU, na frente sindical e em todas as outras.
O programa da 21ª edição da Festa do «Avante!» reveste
múltiplos motivos do maior interesse, o que para ser evidenciado
basta apenas que salientemos alguns dos mais significativos, como
nos parece oportuno fazer para os leitores do «Avante!».
No campo dos grandes espectáculos musicais, que são uma da
principais atracções da Festa, é de salientar o próprio lema
escolhido - «Músicas diferentes/ Homens iguais» - que tem o
objectivo de assinalar o Ano Europeu contra o racismo e sob o
qual se irmanam muita música brasileira, africana e norte
americana, com muita portuguesa. Merece ainda uma referência
especial o regresso da música sinfónica ao palco 25 de Abril,
depois do grande sucesso que a Orquestra Metropolitana de Lisboa
obteve o ano passado.
No campo das outras manifestações culturais o destaque vai
naturalmente para a X Bienal de Artes Plásticas, a exposição
do pintor comunista, recentemente falecido, Rogério Amaral e
para o teatro, de rua que faz a sua primeira experiência na
Festa do «Avante!».
No campo desportivo, a saliência
vai para a «Corrida da Festa» que já conta com a inscrição
de mais de 1600 atletas, o que faz dela uma das provas de estrada
mais participadas do nosso país.
A animação de rua amplia-se consideravelmente e ganha dinamismo
e colorido nunca visto em Festas anteriores, com a participação
do Grupo de «Caretos» do Podense, do Grupo de Bombos de Anha,
de um grupo de alunos da Escola Bento Jesus Caraça e de um Grupo
de Pára-quedistas que efectuará uma descida no recinto da
Festa.
A Festa deste ano realiza-se, também, numa situação política
nacional marcada por traços da maior gravidade que vão exigir
grande atenção, ampla mobilização e decidido combate da parte
dos comunistas, de todo o mundo do trabalho e de toda opinião
progressista do país.
A votação final global da revisão da Constituição feita na
base no vergonhoso acordo PS-PSD não fecha o processo das
alterações negativas que foram introduzidas na lei fundamental.
Os dois partidos deixaram portas abertas para desenvolvimentos
ainda mais negativos a serem concretizados na lei ordinária.
Como disse Luís Sá, em declarações ao «Avante!» «a luta
não terminou aqui» e nada obriga constitucionalmente a transpor
as portas que o PS e o PSD deixaram franqueadas. Estão em causa
matérias da maior importância como, por exemplo, as
circunstâncias em que se verificará o voto dos emigrantes nas
presidenciais, se haverá ou não redução do número de
deputados da Assembleia da República e se sim quantos, a
revisão das leis eleitorais para a Assembleia da República,
compreendendo círculos uninominais, e para as autarquias locais
com a eventual alteração da eleição dos executivos
municipais.
No plano laboral tudo indica que vai prosseguir a ofensiva do
Governo e do grande patronato. À luta pelo emprego, pelo
cumprimento e generalização das 40 horas e pela salvaguarda dos
direitos, junta-se com especial importância a luta pelos
salários e pela contratação colectiva depois de terem sido
revelados os planos do Governo para tentar fixar em 2,6 por cento
o referencial para o aumento de salários.
A propaganda oficial sobre as «performances» governamentais no
domínio da corrida para a moeda única mostram que o Governo
não está disposto a alterar um milímetro na sua subserviente
política de integração apesar dos desastres que se observam na
agricultura, nas pescas e na indústria e que continuará a
apelar aos sacrifícios dos portugueses para atingir as suas
metas.
A luta pela regionalização tem uma batalha próxima com a
votação da lei da delimitação das regiões no princípio de
Outubro. Será um passo importante num caminho cheio de
obstáculos não tanto pela oposição do PSD, que Marcelo Rebelo
de Sousa assumiu finalmente, depois de um longo processo de
obstrução, mas pelas posições equívocas do PS que facilitou
esta obstrução e pôs nas mãos do PSD, nomeadamente através
dos referendos os meios que lhe facilitam o bloqueamento do
processo.
As eleições autárquicas de Dezembro que sempre teriam a maior
importância para o governo dos municípios e freguesias e para
os interesses das populações, revestem no presente quadro uma
importância acrescida pelas repercussões que terão na
política nacional.
O êxito eleitoral da CDU significará o reforço das suas
posições e quererá dizer que mais portuguesas continuarão e
passarão a beneficiar do trabalho, honestidade e competência
que é apanágio da gestão da Coligação Democrática
Unitária. Significará, além disso, um importante contributo à
luta por nova política que é indissociável do fortalecimento
das posições do PCP e dos seus aliados.
O impulso da Festa do «Avante!» deve contribuir e vai
contribuir para a dinamização do trabalho de preparação das
eleições autárquicas, para a intensificação da luta laboral
na frente salarial, dos horários e do emprego, para aguçar a
vigilância, a mobilização e a resistência às manobras que se
preparam no campo institucional.