Brasil
Cartão vermelho ao Governo



O Movimento dos Sem-Terra organiza, no próximo domingo, manifestações de protesto em mil cidades do Brasil contra o Governo. «Vamos mostrar ao governo que o povo está insatisfeito com a actual política económica, responsável pelo desemprego e a situação caótica da agricultura», declarou João Pedro Stedile, coordenador nacional do MST.


Organizado conjuntamente com a Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores e da Central de Movimentos Populares, esta iniciativa foi marcada para o Dia da Pátria - Independência do Brasil não só pelo simbolismo, mas também para garantir uma maior participação da população.
Segundo os organizadores, a maior manifestação realiza-se na cidade de Aparecida, no estado de São Paulo, onde se reunirão 100 mil manifestantes, na sua maioria operários das indústrias da zona.
Os participantes vão mostrar «cartões vermelhos» à fome, à corrupção, à política governamental e ao Governo, ao projecto neoliberal, à dívida externa e às privatizações. haverá também protestos contra a condenação de José Rainha e contra a decisão da justiça brasileira de braquear o processo contra os assassínos do índio Galdino de Jesus.

Entretanto, os sem-terra anunciaram o seu apoio a uma eventual candidatura à Presidencia da República de Luís Inácio «Lula» da Silva, líder do Partido dos Trabalhadores (PT).
«Acreditamos que a oposição tem de ter um candidato único e é evidente que Lula é aquele que melhor representa as tradições históricas e as lutas do nosso povo», afirmou Stedile num discurso proferido durante o XI Encontro nacional do PT, onde participou como convidado.
«Estou com muita vontade de enfrentar Fernando Henrique Cardoso num momento como este. Ele não pode mentir mais à sociedade brasileira como fez em 1994», disse Lula da Silva quando anunciou a sua intenção de se apresentar como candidato presidencial em 1998.
O dirigente do PT concorreu às eleições de 1989 e 1994 como o candidato da esquerda brasileira, mas em ambas as vezes foi derrotado, respectivamente, por Fernando Collor de Mello e o actual chefe de Estado, Fernando Henrique Cardoso.


Jantares de 500 contos

O desnível social e económico no Brasil é, como é sabido, escandaloso. Enquanto o salário mínimo é da ordem dos 22 contos por mês, há quem se dê ao luxo de comer em restaurantes de luxo cujos jantares chegam a atingir preços exorbitantes.
No «Bice Ristorante» de São Paulo, uma filial da cadeia Bice presente em 27 países, um jantar para três pessoas custa cerca de 2.700 reais, cerca de 490 mil escudos, ou seja, 164 mil escudos por pessoa.
A polarização do rendimento nacional criou duas sociedades no Brasil: um por cento das famílias mais ricas dispõe de 17 por cento do rendimento nacional, ao passo que os 50 por cento mais pobres (75 milhões de pessoas) sobrevivem com 12 por cento do rendimento nacional, ou seja, cerca de 9 contos por mês.
Esta forma patológica de crescimento económico, promovida por uma burguesia nova-rica e insensível, conduz a perversões sociais de toda a ordem.
No Rio de Janeiro são assassinadas 21 pessoas por dia e em São Paulo a média é de 15 por dia. Os ricos têm medo. Por isso contratam serviços de segurança armados, indústria agora florescente. Só no estado de São Paulo o número de vigilantes, guardas e polícias-militares ultrapassa os 160 mil.

São os resultados da política do neoliberalismo económico, adoptado de corpo (e alma?) pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.