Timor-Leste
Reino
Unido impõe condições
à venda de armas à Indonésia
Numa atitude inédita, o Reino Unido, o maior fornecedor de
armas da Indonésia, anunciou que futuras vendas de armamento
dependem da questão dos direitos humanos. Ali Alatas responde
que existem muitos vendedores...
A declaração da posição britânica foi feita durante uma
visita do ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido à
Indonésia, realizada na passada sexta-feira. Timor-Leste e a
violação dos direitos humanos foram dois temas debatidos entre
Robin Cook e as autoridades de Jacarta.
Jaime Gama, ministro dos Negócios Estrangeiros português,
congratolou-se com o facto de ter sido previamente consultado
sobre a questão maubere por Cook, a quem pediu que defendesse
«a melhoria da condição dos direitos humanos no território e
a libertação de Xanana Gusmão e de todos os prisioneiros
políticos timorenses». Gama classifica esta decisão de «muito
positiva».
Durante a mesma visita, o ministro britânico propôs a
deslocação a Timor de uma «troika» composta por
representantes dos países membros da União Europeia. Tanto
Portugal como a Indonésia aceitaram.
Ramos-Horta, líder da Resistência Maubere no exterior,
considera esta iniciativa uma boa ideia, mas com a condição de
os dilomatas europeus não serem embaixadores creditados em
Jacarta, de forma a não serem influenciados pela posição do
governo de Suharto.
Entretanto, a Indonésia recusou o pedido de Nelson Mandela de
libertar Xanana Gusmão, tendo feito depender a sua libertação
de uma solução alargada para o conflito timorense. A proposta
sul-africana de acolher conversações entre as diversas
sensibilidades mauberes foi também declinada.
O próximo encontro intratimorense realiza-se em Outubro, na
Áustria. Pela terceira vez os partidários da autonomia de Timor
e os defensores da sua anexação pela Indonésia discutirão o
futuro do território.
O representante pessoal do secretário-geral das Nações Unidas
para Timor-Leste defendeu na semana passada em Pretória, após
um encontro com Nelson Mandela, que uma solução para a questão
maubere «não pode ser alcançada sem a participação dos
líderes» políticos no território e no exterior. Adiantando
que «não há qualquer impasse» nas conversações entre
Portugal e a Indonésia, Jamsheed Marker salientou o empenho do
presidente sul-africano e afirmou que as informações recolhidas
por Mandela nos seus encontros com Jorge Sampaio, Xanana Gusmão
e Suharto «foram extremamente úteis».
Austrália defende autonomia administrativa
A Austrália também se pronunciou
sobre o problema de Timor, durante a semana passada. No seu
«Livro Branco de Política e Comércio Externo», Camberra
defende uma maior autonomia administrativa.
«Enquanto a administração principal da província é um
assunto que primariamente depende apenas do governo indonésio, o
governo australiano considera que uma melhoria na situação de
direitos humanos e um maior papel administrativo por parte dos
nativos timorenses poderia contribuir para uma resolução global
do problema», lê-se no documento, citado pela Lusa.
«A Austrália irá continuar a encorajar a protecção dos
direitos humanos e a busca de uma solução internacionalmente
aceitável para o problema de Timor-Leste e acredita que isto
poderá ter um impacto bastante positivo nas relações
internacionais da Indonésia», diz o Governo autraliano.
Por outro lado, o «Livro Branco» reconhece a crescente
importância da Indonésia particularmente em questões
económicas e de defesa. «O desafio é agora manter os actuais
laços e alargá-los. Isto requer uma administração cuidadosa
numa altura em que a Indonésia se depara com uma transição na
liderança, depois de mais de duas décadas de crescimento e
mudança social», acrescenta. A Indonésia é apontada como o
terceiro parceiro mais importante de Camberra, depois dos Estados
Unidos e do Japão.
A Austrália sublinha ainda que distingue os direitos humanos e
as questões comerciais. Para a Amnistia Internacional (AI), esta
posição «é incorrecta historicamente, é politicamente
"naif" e pouco realista».
A AI acrescenta que «este "Livro Branco" falha por que
ignora o assunto mais importante, nomeadamente o papel dos
direitos humanos no que diz respeito à segurança e estabilidade
regionais».