Medicamentos - II



O abandono por parte do Governo de políticas que permitam racionalizar os gastos no sector dos medicamentos e a irresistível inclinação para aumentar ainda mais a comparticipação directa dos utentes constitui um mistério que bem justificaria a intervenção da dupla Sherlock Holmes e do seu indefectível colaborador dr. Watson.


Sem que uma particular finura seja necessária , os porquês -- a alma de qualquer policial -- multiplicam-se.
Por que disparou a facturação de medicamentos , sem sensível contrapartida para a saúde dos portugueses?
Por que é que o Governo assobia para o lado perante as " técnicas de marketing" adoptadas pelas principais multinacionais farmacêuticas na promoção de medicamentos desnecessários, ineficazes e dispendiosos ( segundo técnicos independentes)? "Técnicas" promocionais que, alem disso, motivam a acusação de um sindicato de médicos ( o SMZS) de serem "bastante agressivas" e de não respeitarem "normas éticas e deontológicas"? E por que não intervem o Governo perante casos que em linguagem menos soft configuram objectivamente situações de corrupção?
Por que é que o Governo , apesar de dispôr de mecanismos de controle de preços, tem permitido que os preços médios de comercialização dos novos produtos farmacêuticos introduzidos em Portugal se situem claramente acima do que se verifica noutros países europeus com muito mais elevado nível de vida?
E por que continua eternamente adiada a concretização de políticas que não só não diminuiriam a qualidade da prestação de cuidados de saúde como permitiriam economizar anualmente muitas dezenas de milhões de contos ? --- Como é o caso da efectiva utilização de medicamentos genéricos ( cuja produção nacional tambem interessa promover) ; da aprovação de um formulário de medicamentos para o ambulatório , a exemplo do que já existe a nível hospitalar; e do desenvolvimento da função farmácia nas unidades do Serviço Nacional de Saúde .


Procurar os beneficiários do crime e investigar cumplicidades --não é a metodologia infalível dos casos que Sherlock Holmes e o dr. Watson sempre deslindaram? — Edgar Correia