Irlanda e Médio Oriente
À procura da paz



Os processos de paz na Irlanda do Norte e no Médio Oriente dominam as atenções da comunidade internacional, por razões diametralmente opostas. O primeiro, porque abre efectivas perspectivas de pôr cobro a 28 anos de guerra; o segundo, porque parece cada vez mais condenado ao fracasso.


O início das negociações multipartidárias em Belfast, na Irlanda do Norte, na passada segunda-feira, abre as mais promissórias perspectivas de paz das últimas três décadas.

Pela primeira vez, os nacionalistas do Sinn Fein, ala política do IRA, sentam-se à mesa com o Governo britânico, lado a lado com o partido unionista de David Trimble ( Partido Unionista do Ulster / UUP, que representa a maioria dos protestantes irlandeses). Os unionistas faltaram à chamada na segunda-feira, mas anteontem anunciavam a sua decisão de participar no processo, para garantir, nas palavras de Trimble, «que a voz do povo da Irlanda do Norte seja ouvida».

As conversações sobre o futuro do Ulster, a decorrer no castelo de Stormont, são moderadas pelo ex-senador norte-americano George Mitchell, para quem não tem sido fácil conciliar as posições de lealistas e unionistas com as propostas dos governos britânico e irlandês, co-organizadores do processo de negociações. Os representantes dos dois países anunciaram entretanto a decisão de criar uma comissão encarregada de observar o desarmamento dos paramilitares.

A comissão, cuja entrada em funcionamento foi adiada pela ausência dos unionistas no primeiro dia das conversações, tem por objectivo negociar com as milícias protestantes e católicas o desmantelamento dos seus arsenais, em paralelo com as negociações sobre o futuro do Ulster.


Em Israel, nada de novo

Ao contrário da Irlanda, o processo de paz no Médio Oriente parece encontrar-se num beco sem saída. A recente visita da secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright, à região saldou-se em coisa nenhuma.

É certo que Albright foi o primeiro responsável da administração dos EUA a reconhecer publicamente que «Israel deveria abster-se de medidas unilaterais, nomeadamente o que os palestinianos consideram como a provocatória expansão dos colonatos, as confiscações de terras, a destruição de casas e a confiscação dos bilhetes de identidade». Mas fê-lo sem uma condenação explícita - são os palestinianos que consideram tais medidas «provocatórias» - e sem o reconhecimento de que são essas mesmas medidas que impedem o aprofundamento do processo de paz. Nas suas palavras, «tais acções parecem destinadas a prejudicar o resultado das negociações e minam a confiança dos Palestinianos nas intenções israelitas».

Não é pois de estranhar que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não se tenha sentido muito pressionado a retomar o processo de paz, até porque os dois encontros que manteve com Albright se centraram quase exclusivamente, de acordo com as informações vindas a público, na questão do terrorismo, cuja responsabilidade foi imputada por ambos à Autoridade Palestiniana. Neste contexto, os apelos da representante norte-americana à aplicação dos acordos de Oslo quase não passam de palavras ocas. Como bem lembrou Leah Rabin, a viúva do primeiro-ministro assassinado Ytzahak Rabin, «se se espera obter um sucesso total contra o terrorismo» antes de avançar no caminho da paz, «parece-me que a paz estará cada vez mais longe». Da mesma opinião são os mais de quarenta mil israelitas que no sábado à noite se manifestaram em defesa da paz israelo-árabe. Organizada pelo conjunto das forças pacifistas e de esquerda, a manifestação deixou no ar uma pergunta: «Que faz Netanyahu pela paz?».