Eles são "muitos, muitos mil"...
Frequentam o Ensino Básico
e o Ensino Secundário

Por Luísa Araújo
membro da Comissão Política do CC do PCP



Intervir com os jovens na resolução dos seus problemas e necessidades, na construção do futuro desejado, contribuir para a sua formação e procurar concretizar os seus anseios de participação é objectivo da JCP, que tem contado com o apoio do PCP.


A área de intervenção da JCP denominada por "Secundário" engloba os estudantes do 3º Ciclo do Ensino Básico e os do Ensino Secundário. A acção junto destes estudantes assume grande importância porque procura a resolução de problemas resultantes da política do ensino e da educação, procura uma escola de qualidade ao serviço de todos, que contribua para a formação escolar e para a felicidade, procura valorizar e potenciar características dos jovens desta idade com todo o significado que isto poderá ter para a sua vivência e para a sua formação humana, social e política.

Mais à frente abordarei problemas ligados à política do ensino e outros que afectam estes jovens. Opto por começar a aprofundar características gerais destas idades, que vivem anos que são marcantes nas expectativas, na formação, no carácter e nas atitudes futuras perante a vida e o mundo.


O Secundário
entre prioridades

Não constituem uma massa homogénea, em que todos pensam e desejam o mesmo, mais que não fosse até por razões temperamentais, não têm comportamentos lineares, mas no geral têm motivações, gostos, tendências e apetências muito comuns, apesar de fazerem parte de classes e camadas sociais diferentes. Não pretendo fazer um "tratado da psicologia do jovem aluno do ensino secundário" (nem teria condições para isso, bem entendido...), só coloco à reflexão alguns traços que fundamentam razões do interesse e da importância do trabalho junto desta camada juvenil.

Uma enorme capacidade de aprendizagem, combinando o estudo das matérias escolares com a curiosidade pelo conhecimento dos mais variados aspectos da vida e do mundo. Uma enorme alegria, espontaneidade, entusiasmo, generosidade e vitalidade. Uma enorme vontade de emoção e de experimentação. Uma disponibilidade para a actividade em grupo e para convívio. Uma necessidade inerente de opinar, participar e intervir sobre o que lhes suscita interesse. Uma preocupação com quase tudo. A vontade de assumir responsabilidades.

É sabedoria saber intervir para o desenvolvimento das potencialidades destes jovens colocando-as ao serviço do seu próprio bem estar, da sua vida pessoal e do colectivo onde se integram e do reforço das suas oportunidades. É sabedoria saber motivar nos jovens a auto-estima, a segurança e a confiança. Levá-los à consciencialização de que são necessários e importantes para as mudanças que desejam e para a compreensão do seu mundo, dentro e fora da escola, identificando as causas do descontentamento e o que é necessário para alcançar objectivos.

As maiores preocupações destes estudantes serão em torno das questões da educação, da qualidade do ensino, das condições nas escolas, quer para as aulas quer para as mais diversas actividades, nomeadamente desportivas e culturais, e o acesso ao ensino superior. Muitos já se preocupam com a entrada no mundo do trabalho, porque frequentam cursos de índole profissional, ou porque a sua situação familiar e financeira não permite a continuação dos estudos, ou porque fazem parte do universo do insucesso escolar, ou porque não têm a perspectiva de alcançar médias para o ensino superior, ou alguns só lhes é dada a oportunidade da escolaridade obrigatória.

Outras causas, tais como a paz, a solidariedade e a tolerância, têm motivado o seu interesse e a sua participação. As acções contra fenómenos de racismo e xenofobia e a luta pelo direito à auto-determinação e independência de Timor Leste são a maior demonstração de que estes ideais são vividos entre a juventude.

Nos jovens reflectem-se vários problemas e aspectos das políticas de direita. Não só são afectados pelo insuficiente investimento na educação pública e de qualidade, como os afecta o desemprego e o trabalho precário, a falta de condições dos serviços de saúde, a falta de habitação, a falta de transportes e muito mais.

O alcoolismo e a droga têm aumentado assustadoramente entre a juventude. Dependências que destroem o físico e o interesse pela vida. Problemas que se agravam e que, por serem vividos tão de perto e sem se verem medidas para os ultrapassar, podem ser banalizados e passar-se a "lidar com eles no dia a dia" sem interesse pela análise das causas, pela necessidade de exigir a sua resolução. É preciso que os jovens conheçam mais aprofundadamente estes problemas e objectivem o seu significado e exijam medidas efectivas para acabar com estes flagelos.

A realidade objectiva e subjectiva dos jovens do Secundário abre à JCP, um amplo e variado espaço de intervenção e de acção onde, em íntima ligação com as massas juvenis, tem a oportunidade de intervir na resolução de problemas concretos e de contribuir com a sua experiência e consciência para a mudança na escola. Pode incentivar amplos movimentos unitários por objectivos imediatos, associando esta acção à transmissão e afirmação do ideal comunista.


Objectivamente
estão contra
a política de direita

Nos últimos anos o país tem sido surpreendido com importantíssimas vagas de luta. Uma luta irregular com hiatos e fases de grande intensidade, participação, criatividade e alegria, num movimento que reflecte, simultaneamente, problemas, inquietações, protestos, aspirações e esperanças, e tem a marca de uma forma de estar própria da juventude deste nível etário. Um movimento com um enorme impacto e força que pressionou a resolução de muitos problemas concretos das escolas, do dia a dia estudantil e foi decisivo para acabar com a PGA. Teve como consequência a demissão de ministros e contribuiu para o desgaste de governos.

No ano passado verificaram-se acções, com expressão em vários pontos do país, atingindo em muitas situações a greve às aulas como forma de luta pela resolução de problemas concretos existentes em escolas. Destacaram-se também, as manifestações de Évora, de Aveiro, de Setúbal, do Laranjeiro, de Corroios e do Barreiro reivindicando a avaliação contínua, contra as provas globais e os exames nacionais e contra o regime de "numerus clausus"

As áreas juvenis são caracterizadas por uma renovação permanente. Nesta faixa etária isto acentua-se pela própria mobilidade entre escolas e situações específicas. A acção a desenvolver deve ter isto em conta. É necessária uma preocupação com o aprofundamento do trabalho, de forma a permitir continuidade e solidez da ligação e influência da JCP junto destes jovens.


Aprender a democracia
participando

No início do ano lectivo, muito começa de novo. Por vezes a mudança de escola, turmas diferentes, colegas e amigos novos, experiências já vividas e que se quer transmitir, problemas que não foram resolvidos, reivindicações não satisfeitas. Iniciar ou retomar processos de intervenção.

A eleição e o papel dos delegados de turma e o que os envolve no âmbito dos seus deveres e direitos, a eleição e a acção das Associações de Estudantes, a constituição de núcleos de actividade, são algumas das formas de intervenção que favorecem a atenção dos estudantes para a vida em colectivo, para o exercício dos direitos de cada um e de todos.

É de extraordinária importância o apoio ao movimento associativo, ele deve ser incentivado, também por parte do corpo docente e em particular pelos Conselhos Directivos. O movimento associativo estudantil contribui para a formação social dos jovens. A par do movimento associativo formal deve valorizar-se o movimento associativo informal, pelas possibilidades de envolvimento de muitos e muitos jovens em núcleos de interesse, nomeadamente em áreas culturais, recreativas e desportivas.

Conhecer oportunidades de intervenção e direitos, serão passos fundamentais para a vontade efectiva de participação. Esta reforça-se pela experiência, que por sua vez abre outros caminhos para o hábito de participar em colectivo e de discutir, no respeito pela opinião de cada um, de assumir a responsabilidade do papel individual e da representação, conhecer o espaço onde se movimenta, o que se conquistou e como se conquistou. Aprender a relação da lei com a vida. Aprender a democracia participada.

Os estudantes do Ensino Secundário constituem uma força que existe, que tem sentimentos e aspirações. Uma força que tem potencialidades para intervir na resolução dos seus problemas, pelos seus objectivos e concretização das suas esperanças.

Eles terão oportunidades diferentes e seguirão caminhos diversos. Muitos irão debater-se com discriminações e desigualdades. A sua capacidade de enfrentar a vida dependerá também da sua aprendizagem, das suas vivências e experiências, das suas influências sociais, políticas e ideológicas.

A acção junto destes jovens reflecte-se na sua filosofia da vida e do mundo, reflecte-se na JCP e no Partido.

A JCP tem um papel decisivo e insubstituível nesta área e para isso deve contar, também, com a colaboração e a cooperação do PCP.


«Avante!» Nº 1245 de 9 de Outubro de 1997