Mértola
CDU com
trabalho à vista
PS com Champalimaud na sombra
Mais de 100 automóveis em caravana pelas ruas de
Mértola anunciaram, com um inesperado vigor na tarde soalheira
do passado sábado, o comício-festa que a CDU realizou na «Vila
Museu» para apresentar as suas candidaturas a todos os órgãos
autárquicos do Concelho.
A enorme fila de carros percorreu a povoação e desembocou nas
instalações da EPAC, à entrada da vila, tomando literalmente o
recinto num assalto de entusiasmo. A subida ao palco dos
candidatos e do Secretário-Geral do PCP, Carlos Carvalhas,
apenas levou ao rubro a vivacidade com que a multidão se foi
chegando ao local. A evidência de que a pre-campanha autárquica
da CDU no Concelho de Mértola estava a arrancar com sublinhada
combatividade foi, em breve, explicada nos discursos dos
oradores, quando acusaram frontalmente a candidatura do PS local
de estar a receber o apoio do potentado capitalista António
Champalimaud - também proprietário de vastas terras e
interesses no Concelho - para, conluiado na sombra com o PSD,
desalojar os comunistas da gestão da Câmara.
Os rumores do apoio financeiro de António Champalimaud à
candidatura do PS já deslizam em voz corrente pelas ruas da
vila, onde se aponta a dedo a profusão de materiais de
propaganda criada especificamente para este Concelho, os
luxuosos cartazes do candidato PS à presidência e a
organização de dispendiosos espectáculos com expoentes da
música pimba, a par de uma hollywoodesca (para não dizer
grotesca) sigla do PS desmesuradamente pintada numa encosta
sobranceira a Mértola. E ainda a procissão vai no adro, pois
estamos apenas em pre-campanha eleitoral. Entretanto, este
estardalhaço de novo-riquismo propagandístico do PS está a
chocar a pacata vila, onde a sobriedade e a discrição são
valores comportamentais. Acresce que Manuel Martins, o cabeça de
lista do PS à Câmara Municipal, é gerente da agência local do
banco Pinto e Sotto Mayor, do grupo Champalimaud, o que significa
que o candidato do PS é, nem mais nem menos, um empregado de
António Champalimaud, facto que não teria qualquer importância
se não fosse as suspeitadas «ligações perigosas» da
candidatura PS de Mértola ao famoso monopolista, cujos
interesses no Concelho são sobejamente conhecidos.
O comício-festa de apresentação de candidatos da CDU abriu da melhor maneira, com uma notável exibição do Grupo Coral da Mina («Ó mina de S. Domingos / Não és vila nem cidade / És uma capela em ouro / Onde fica a mocidade»). Seguiu-se a subida ao palco dos primeiros nomes das listas da CDU a todos os órgãos autárquicos do Concelho de Mértola, acompanhados pelo mandatário concelhio da CDU, o arqueólogo Cláudio Torres, e por diversos responsáveis comunistas, nomeadamente António Vitória, membro do CC do PCP e responsável pela Organização Regional de Beja, José Soeiro, o membro da Comissão Política responsável pela Organização Inter-Regional do PCP do Alentejo, e pelo Secretário-Geral do PCP, Carlos Carvalhas, que encerrou o comício com uma intervenção de que apresentamos um resumo.
Sublinhe-se, entretanto, a vibrante recepção feita a Paulo Neto, actual presidente da Câmara de Mértola e de novo cabeça de lista da CDU. «Decorridos quatro anos, saímos deste mandato de cabeça levantada e consciência tranquila» com o anterior programa eleitoral «há muito cumprido e largamente ultrapassado», sublinhou o candidato, no meio de grandes ovações do público.
Carlos Carvalhas
no encerramento do comício:
«Eleições
mascaradas»
«(...) Aqui em Mértola as eleições autárquicas estão mascaradas. Um partido que tem votos, o PSD, não concorre enquanto outro, o PP que não tem votos, concorre. Um enigma que é fácil ser desvendado. Como se diz aqui em Mértola, Champalimaud ditou a solução e está directa ou indirectamente a apoiar a campanha eleitoral do PS. Mas isto também torna a opção clara em Mértola.
De um lado está a força do dinheiro, do outro a força da razão e das convicções;
De um lado os que se querem servir da autarquia e do povo para os seus interesses, do outro os que querem trabalhar para o povo e com o povo;
De um lado os mandatários do Champalimaud e dos Saleiros, do outro homens, mulheres e jovens que se podem justamente reivindicar dos atributos do trabalho, honestidade e competência;
Mas se as opções são claras, isto não significa que a batalha seja fácil.
Vai correr muito dinheiro em campanha eleitoral, muita demagogia e muitas promessas (...)
Dos «troca tintas» aos «cucos»
(...) Na convenção autárquica do PS lá estarão muitos eleitos mas também muitos "boys" candidatos, alguns troca tintas e alguns cucos. Estes últimos são aqueles que gostariam agora de governar autarquias da CDU que têm já um grande trabalho de base feito, daquele trabalho que não dá nas vistas mas que é fundamental para a qualidade de vida de milhares de cidadãos. Mas o povo não gosta de troca tintas, nem de boys, nem de cucos.
Ainda a propósito dos boys e do grande interesse nestas autárquicas, já manifestado por grandes capitalistas e grandes empreiteiros, creio que será útil deixar alguns avisos ou chamadas de atenção quer a Marcelo Rebelo de Sousa quer ao Eng.º Guterres.
A Marcelo Rebelo de Sousa que não se esqueça que Champalimaud pediu a Manuel Monteiro o cheque de volta e que pode voltar a fazer o mesmo...
Ao Engº Guterres que tenha em atenção os que vão para as autarquias e para o poder para dele se servir em proveito próprio, que tenha em conta o que tem sido publicado sobre o governador civil de Beja e que não se remeta ao silêncio em relação às questões incómodas.
Uma campanha digna
(...) Os outros terão muito dinheiro para as campanhas eleitorais. Nós procuraremos chegar à inteligência e ao coração dos eleitores com verdade, com as nossas propostas, com o crédito da nossa coerência e do nosso trabalho.
Pela nossa parte, agiremos firmemente de acordo com a ideia de que a vida política portuguesa precisa de menos espectáculo e de mais seriedade, precisa de menos demagogia e de mais respeito pelos compromissos assumidos, de menos artificialismo e de mais verdade, de menos imposições do "pensamento único" e das "políticas únicas" e mais respeito pelo pluralismo de opções e de caminhos - e que, para tudo isto, é essencial uma activa e empenhada intervenção dos cidadãos (...)».