"Searas do Porvir"
O papel
da juventude
na luta antifascista
Lembrar o quanto foi difícil lutar pela conquista da
democracia no nosso país e o papel da juventude nessa luta -
são alguns dos objectivos das comemorações do 50º
aniversário do MUD Juvenil, referidos por Octávio Pato na
inauguração da exposição "Searas do Porvir", no
passado dia 8 de Outubro, no Palácio das Galveias, em Lisboa.
A cerimónia de inauguração, presidida pelo Presidente da
República, Jorge Sampaio, reuniu centenas de pessoas, em
particular antigos militantes do MUD Juvenil.
Na sessão de abertura, após algumas palavras de Luísa Amado,
intervieram três membros da 1ª Comissão central do MUD Juvenil
- Mário Soares, Octávio Pato e João Sá da Costa.
Na sua intervenção, Octávio Pato sublinhou a importância
desta comemoração como homenagem "ao papel da juventude
como grande força social de intervenção na luta pelo progresso
e a liberdade".
"O MUD Juvenil surgiu no rescaldo da vitória na 2ª Guerra
Mundial sobre as forças negras do nazi-fascismo, num período de
crescente desenvolvimento das lutas antifascistas, de grandes
lutas dos trabalhadores, que tiveram um momento culminante nas
greves de 1947 de milhares de operários na região de
Lisboa", lembrou o dirigente comunista.
Octávio Pato referiu alguns momentos concretos da vida do MUD
Juvenil, como a Semana da Juventude, em Março de 1947, "a
mais potente acção de massas juvenis realizada no regime
fascista, e que mobilizou e uniu dezenas de milhares de jovens de
norte a sul do país" e as vagas repressivas que atingiram o
movimento, quer quando da Semana da Juventude, quer com a
invasão policial da Faculdade de Medicina, "a que se seguiu
a demissão, pelo governo salazarista, dos mais prestigiados
professores universitários".
Neste balanço ressalta também a contribuição do MUD Juvenil
para "o estabelecimento de laços de solidariedade e amizade
com os povos de todo o mundo", em particular as
"relações de fraternidade e cooperação com os jovens das
colónias portuguesas, na base do direito à autodeterminação e
à independência, corajosamente reconhecido pelo MUD Juvenil já
em 1953".
Não por acaso, considera Octávio Pato, "vários dos mais
destacados dirigentes dos movimentos de libertação, como
Amílcar Cabral, Lúcio Lara, Marcelino dos Santos, Vasco Cabral,
foram militantes do MUD Juvenil, com especial destaque para
Agostinho Neto, eleito membro da Comissão central na Assembleia
de Delegados de 1954".
"Searas do Porvir" - que deverá estar patente ao
público até 9 de Novembro - testemunha aliás, através dos
documentos, fotografias e livros expostos, da amplitude e
variedade das intervenções do MUD Juvenil no campo político,
social, cultural e artístico.
A ligação entre a criatividade artística e o ambiente
revolucionário que impregnava o movimento, ressalta na vertente
artística da exposição, que reune obras de conhecidos
pintores, nomeadamente quadros, então apreendidos pela PIDE, de
Júlio Pomar, Avelino Cunhal, Mário Dionísio, José Viana, Lima
de Freitas, Manuel Pavia, Maria Keil ou Nuno Tavares.
Um testemunho de uma intervenção juvenil que constitui um
importante marco na história contemporânia e na luta
anti-fascista em Portugal.