Congresso do PC de Cuba
«Temos direito a ter
aquilo a que aspiramos»


Sob o lema «Este povo, este partido jamais renderão a sua unidade», o V Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC) iniciou-se no passado dia 8 de Outubro contando com a presença de 1500 delegados e 250 convidados.


Fidel Castro, primeiro secretário do partido, inaugurou o congresso referindo-se à luta do povo cubano perante a conjuntura internacional do princípio da década de 90 formada a partir do desaparecimento da URSS.

«Que havíamos nós de fazer? Dobrar-nos, vendermo-nos? Creio que era isso que queriam, a rendição incondicional, a entrega total ao inimigo da nação e do povo, a renúncia a todas as nossas conquistas, às nossas ideias», declarou Fidel. «Redermo-nos não teria sido digno perante a História, não teria sido digno dos nossos antepassados».

«Estamos aqui porque a nossa causa é justa e temos direito a ter aquilo a que aspiramos», defendeu o líder cubano. «Qualquer coisa menos retroceder e rendermo-nos», exclamou, acrescentando que «na luta é essencial o povo, a sua consciência, o seu espírito de sacrifício, o seu sentimento de honra, a sua liberdade e independência». «Se não é possível viver com honra, com justiça e sermos homens íntegros, para que queremos a vida? É preferível a morte», disse.


O capitalismo pertence à pré-história

Abordando o tema do bloqueio norte-americano, Fidel Castro sublinhou «a solidariedade de toda a gente honesta deste mundo que não se deixou enganar pelas mentiras que os poderosos repetem de que "o imperialismo é bom"», bem como «o esforço do povo por manter o que conquistou nesta luta dura, difícil contra o bloqueio e a pobreza, contra as necessidades materiais imediatas de tanta gente».

«O capitalismo como sistema pertence à pré-história», manifestou. «O capitalismo não tem nem pode ter futuro moral, nem político, nem sequer económico. Esta receita para o mundo é insustentável e é apenas uma questão de tempo que isso seja demonstrado».

«Agora, como são menos os adversários para liquidar, o inimigo concentra toda a sua política de bloqueio contra este pequeno país. A armar fundamental que utilizam é a esfera económica, por isso há que lutar com bons soldados na economia», afirmou Fidel Castro.

Sobre as novas condições com que Cuba tem de lidar, Fidel afirmou que o seu país está «aberto a todas as possibilidades económicas, menos a renunciar ao Socialismo, às conquistas da revolução, à unidade do povo, ao seu poder, a admitir que outros sejam donos da nossa independência e destino».

O primeiro secretário do PCC explicou que as associações com empresas estrangeiras não só resolvem questões de fundo económico, como outros problemas relacionadas com o desenvolvimento. «Vimos claramente, muito antes do período especial, que apenas com a tecnologia socialista não nos podiamos desenvolver», afirmou, destacando como novas fontes de receitas o trabalho por conta própria e os mercados agropecuários e indústriais (que contam com empresas privadas e estatais).

Com uma economia em ascenção, Cuba tem na agricultura e no turismo importantes sectores financeiros. Nos próximos três anos, só o turismo deve proporcionar dois mil milhões de dólares de receitas brutas. No entanto, e apesar do resultados alcançados (o crescimento do PIB em 1995 foi de 2,5 por cento e em 1996 de 7,8 por cento), Fidel Castro defendeu que «está demonstrado que se pode fazer muito mais. Não há nenhuma razão para sentirmo-nos totalmente satisfeitos».

Durante o congresso, Fidel Castro foi reeleito para o seu cargo de primeiro secretário e Raul Castro como segundo secretário. O Comité Central viu o seu número de elementos passar de 225 para 150 elementos e a Comissão Política foi reduzida de 26 para 24 membros.

A eternidade de Che

Ernesto «Che» Guevara foi eloquentemente homenageado durante os dias do Congresso do PCC. No seu discurso, o seu companheiro Fidel Castro afirmou que «Che e a revolução cubana são uma e a mesma coisa». «Hoje a sua grandiosa figura não pode ser diminuída, tem de ser respeitada, admirada por um número cada vez maior de pessoas no mundo como paradigma que é de revolucionário e de ser humano», sublinhou.

«O que é a morte, se aqueles que se diz que morreram estão mais presentes e estão mais vivos que nunca, aqui junto a nós?», questionou. «Eles viverão enquanto existirem revolucionários, enquanto existirem patriotas, enquanto existirem corações nobres, enquanto existir quem tenham em si as melhores virtudes do ser humano», afirmou referindo-se a todos os que construiram a revolução.

«Apesar do marxismo nos ter ensinado que não há coisas eternas, podemos dizer unicamente que estes queridos irmãos serão eternos enquanto a eternidade exista», concluiu Fidel.


«Avante!» Nº 1246 - 16.Outubro.1997