Outubro
e a actualidade
Amanhã, dia 7 de Novembro, faz 80 anos a Revolução
de Outubro de 1917.
Foi nessa data que os revolucionários «bolcheviques» russos,
dirigidos por Lénine, e as massas de trabalhadores (operários,
soldados e camponeses) que os seguiram ousaram quebrar as algemas
da submissão e da exploração, dar expressão aos mais
profundos sonhos de justiça, vindos do fundo do séculos, dos
explorados e oprimidos de todo o mundo e iniciar a complexa
tarefa da construção de um novo edifício social liberto da
exploração do homem pelo homem - a sociedade socialista.
Vitoriosa na Rússia, a Revolução de Outubro desencadeou
forças libertadoras nesse imenso país que repercutiram por todo
o planeta e influenciaram decisivamente o desenvolvimento da
sociedade humana e todas as suas principais conquistas ao longo
do presente século.
É incontestavelmente, queiram ou não os seus detractores, um
acontecimento histórico marcante de toda a humanidade.
O 7 de Novembro é, também, por todas estas razões, uma data
que pulsa no coração e desafia justamente o imaginário de
todos os comunistas. Por isso mesmo o «Avante!» evocou nas suas
três últimas edições os momentos mais salientes da história
revolucionária russa que precedeu imediatamente os «Dez dias
que abalaram o mundo», repondo a verdade sobre deturpações e
especulações que aparecem noutros jornais, e publica hoje na
íntegra o comunicado da Comissão Política do PCP sobre o 80º
aniversário da Revolução de Outubro.
O comunicado da Comissão Política intitulado «Socialismo/
uma causa com futuro» salienta logo nas suas primeiras linhas
que a razão para celebrar os 80 anos da Revolução de Outubro
não é apenas o seu carácter de acontecimento histórico
marcante, mas «a sua actualidade, porque nela se contêm as
grande questões do nosso tempo».
O tema da actualidade da Revolução russa de 1917
está naturalmente no centro das preocupações e do debate
nestas comemorações, porque estão passados 80 anos sobre a sua
realização, porque as condições do mundo em que vivemos são
na aparência e em muitos casos na realidade profundamente
diferentes e porque se acumularam tantas perversões e desastres
com o «modelo» de socialismo que vigorou e que acabou por ruir.
O comunicado da Comissão Política não foge à questão e
aborda-a de diferentes maneiras e em várias ocasiões. Aborda-a
quando exalta os feitos e as realizações da Revolução em
todos os domínios - político, económico, social, cultural e
científico - incluindo na nova concepção de direitos humanos
que implantou, particularmente dos que versam sobre a condição
dos trabalhadores e a condição da mulher, tão longe de terem
aplicação generalizada. Aborda-a quando incita a reflectir e a
retirar lições do «modelo» fracassado «não só para
salvaguarda do grande património positivo deixado por essas
experiências, como para delas tirar as devidas correcções aos
projectos, propostas e actuações dos que querem prosseguir e
concretizar a luta pelo socialismo». Aborda-a quando previne
contra a importância de «não ceder às pressões dos inimigos
do socialismo que procuram denegrir, caluniar, destruir tudo o
que em nome do socialismo se fez e se faz». Faz igualmente essa
abordagem quando denuncia a regressão capitalista e a violenta
ofensiva do capital contra os trabalhadores e os povos ao ver-se
desembaraçado, com o desaparecimento da URSS, da alternativa que
representava o campo socialista.
A suprema actualidade da Revolução de Outubro reside em que
hoje como há 80 anos a superação revolucionária do
capitalismo constitui a questão central da nossa época sem a
resolução da qual subsistem e agravam-se as injustiças e as
desigualdades e as ameaças à democracia, à paz e à própria
Humanidade.
Como bem salienta o comunicado da Comissão Política: «As
imensas possibilidades do bem estar abertas pelas realizações
do trabalho material e intelectual da humanidade esbarram com
limitações impostas pela natureza predadora, desumana e
irracional do sistema capitalista, que se tornou cada vez mais
destrutivo, tanto da natureza como da própria sociedade humana,
constituindo não só um sério obstáculo ao progresso social
como uma ameaça para a Humanidade.»
E com toda a lógica conclui: «Os principais problemas do mundo
contemporâneo não podem ser resolvidos sem ter em conta as
propostas e as ideias do socialismo.»
As comemorações do 80 º aniversário da
Revolução de Outubro coincidem, no nosso país, com a
continuada ofensiva da política de direita, agora sob a
responsabilidade da governação PS, subordinada aos critérios
de Maastricht e visando o favorecimento da acumulação e
centralização capitalista e da intensificação da exploração
dos trabalhadores, mas que se mascara demagogicamente na
conjuntura eleitoral autárquica que o país atravessa.
Num quadro de aprofundamento das desigualdades sociais, de
novos ataques aos direitos laborais, de desemprego em massa, de
alastramento da precarização do emprego e de contenção
salarial é da maior importância que se revigore e desenvolva a
resposta do mundo do trabalho. Isso mesmo concluiu Comité
Central do PCP, na sua reunião da passada sexta-feira.
Ao mesmo tempo, as eleições para as autarquias locais revestem
a maior importância como o mais vasto processo democrático que
se realiza no país e onde participam directamente (só para
referir os candidatos) centenas de milhar de portugueses.
Está em causa fundamentalmente o governo dos municípios e
freguesias, mas ninguém duvida que o Governo, que tem abusado da
maneira mais flagrante dos poderes e dos dinheiros públicos para
favorecer as candidaturas do PS, não deixará de querer fazer
leituras políticas gerais e em relação ao seu próprio
desempenho, se os resultados lhes forem favoráveis. Para
isso alertou também e vivamente o Comité Central.
Na situação portuguesa actual, comemorar o 7 de Novembro é
estar presente nas iniciativas em que a data é celebrada, como a
exposição evocativa que hoje será inaugurada pelo Secretário
Geral do PCP, Carlos Carvalhas, no Espaço Cultural Vitória. É
também intensificar os esforços para que se cumpram da melhor
maneira as grandes tarefas do presente: no desenvolvimento da
luta social, no revigoramento da campanha da CDU para as
eleições autárquicas, no reforço orgânico e da influência
política do PCP.
O êxito nestas tarefas é contributo da maior importância
na luta pelo socialismo em Portugal.