OE' 98 - II
Orçamento
do PS
agrava as desigualdades e as injustiças
Depois de ter passado na generalidade com os votos favoráveis do PS e a abstenção do PSD (PCP, PEV e PP votaram contra), o Orçamento do Estado para 1988 encontra-se agora em sede de comissão, para debate na especialidade, após o que voltará a plenário nos próximos dias 13 e 14 para debate e votação final global.
No essencial, o que importa reter como marca indelével do seu conteúdo, é o facto de os aspectos mais negativos do Orçamento traduzirem-se num claro agravamento das desigualdades e das injustiças.
Os deputados comunistas trataram de o demonstrar, com singela clareza, ao longo do debate, pondo em evidência, designadamente, como o Orçamento apresentado pelo Governo do PS mantém e agrava as injustiças ficais e sociais, não cria emprego sustentado, penaliza sectores económicos fundamentais.
Razões de sobra, por conseguinte, para a oposição frontal e o voto de rejeição da bancada comunista relativamente a um Orçamento que tem como característica central - sublinhou-o Octávio Teixeira -, por um lado, o agravamento da injustiça na distribuição do Rendimento Nacional, e, por outro, no plano da fiscalidade, a manutenção de profundas injustiças e de uma imoral e iníqua opção por favorecer em vários planos o grande capital em detrimento do trabalho.Eis como alguns dos deputados do PCP fundamentaram a posição do seu partido:
Novel bloco central
(...)É um facto que o
Governo do PS tem um apoio minoritário nesta Câmara. E para
garantir a viabilização do Orçamento sem sobressaltos, o
Governo entendeu negociar com outro Partido.
E escolheu bem, pesem embora os indisfarçáveis ciúmes
patenteados pelo PP. Escolheu o PSD para seu parceiro neste
Orçamento da "transição para a moeda única". Pois
se é o PSD o pai das orientações económicas que, no dizer de
Cavaco Silva, o actual Governo vem prosseguindo, é natural que o
PSD igualmente se co-responsabilize com o Orçamento.
O senhor Primeiro Ministro entendeu, «face à disponibilidade
manifestada pelo líder» do PSD, e «às preocupações por ele
expressas», corresponder-lhe inteiramente, cedendo aqui,
apresentando contrapropostas acolá.
E o acordo, ou compromisso, foi fechado. O bloco central
reapareceu à luz do dia.
Foi aqui, com o discurso do senhor Primeiro-Ministro, que se
formalizou este «ponto de encontro». A que, só por pudor,
faltaram os abraços que selaram outro acordo recente, o da
revisão constitucional.
Mas, senhor Primeiro Ministro, com o seu Governo apoiado pelo PS
apenas ou por um novel bloco central, pode V. Exa. continuar a
contar com a clara e firme oposição do PCP.
Não para o obrigar a executar a nossa política. Mas para o
pressionar a que, pelo menos, cumpra as suas promessas
eleitorais. Octávio Teixeira
Taxas
com pés de barro
(...)Tal como o PCP sempre
afirmou, e que altos responsáveis do Governo agora repetem,
convergência nominal pode não significar - e não está a
significar - convergência real.
Vejamos: O Partido Socialista apresenta-se com um Orçamento onde
apregoa elevadas taxas de crescimento.
Só que: 1º - São taxas de crescimento com pés de barro; 2º -
São taxas de crescimento que só beneficiam dois destinatários:
as receitas do próprio Estado unicamente com vista ao
cumprimento dos critérios de Maastricht, o grande capital e as
actividades financeiras.
Taxas de crescimento com pés de barro porque, beneficiando
do ciclo económico, assentam fundamentalmente em duas
variáveis: as exportações dos grandes grupos económicos,
designadamente das multinacionais do sector automóvel, e as
grandes obras públicas.
As primeiras, sempre dependentes de estratégias e interesses que
fogem ao controlo do País.
As segundas, o ciclo das grandes obras públicas, que vai
começar a desacelerar e a diminuir.
(...)Mas vejamos a segunda razão pela qual criticamos e
discordamos profundamente deste Orçamento e, em geral da
política económica do Governo PS. Quem são os destinatários,
a quem beneficiam as apregoadas taxas de crescimento?
O mínimo que se esperaria de um Governo Socialista, quando já
vai em metade do seu mandato e nos apresenta o seu terceiro
Orçamento - o penúltimo de uma Legislatura de 4 anos - eram,
pelo menos, medidas reformistas que promovessem uma outra
distribuição da riqueza.
Nós não exigimos do Governo que cumpra o Programa do Partido
Comunista. O que exigimos, para vossa vergonha, é que cumpram o
vosso próprio Programa.
Mas não! Nessa matéria a única coisa que conseguem anunciar é
o rendimento mínimo garantido que, como sabem, era também
proposta do PCP. Nessa matéria a única obra que têm para
apresentar é a do Ministro Ferro Rodrigues assim transformado
numa espécie de S. Francisco de Assis do Governo. Mas que,
também ele, se fica por aqui. Lino de Carvalho
PIDDAC eleitoralista
Grande parte da atenção que
muitos cidadãos dedicam ao Orçamento de Estado recai sobre o
PIDDAC. Em cada ano, logo que se torna conhecida a Proposta de
Lei do Orçamento, são milhares os cidadãos interessados na
resolução de muitos problemas sociais que procuram encontrar no
PIDDAC a resposta a muitas reivindicações, a concretização de
muitas aspirações, o cumprimento de muitas promessas.
(...)Acontece que, para muitos milhares destes cidadãos, o
conhecimento da proposta de PIDDAC para 1998, traduz-se numa
enorme frustração, pela falta de inscrição de obras
fundamentais, pelo seu constante adiamento, pelo incumprimento de
promessas mil vezes repetidas em vésperas de eleições, mas
também pela instrumentalização eleitoralista desta proposta,
revelando uma completa falta de respeito para com os cidadãos e
contribuindo lamentavelmente para o descrédito da proposta
orçamental.
No que respeita às funções sociais que mais preocupam os
cidadãos, designadamente ao nível dos equipamentos de saúde,
das instalações para forças de segurança, ou de tribunais, o
plano de investimentos da Administração Central proposto para
1998, revela três aspectos deploráveis:
Traduz-se, o primeiro, no arrastamento e protelamento de um
conjunto muito significativo de projectos, com o sucessivo
adiamento dos prazos de conclusão previstos.
O segundo, na inexplicável redução de muitas dotações que no
PIDDAC pata 1997 se encontravam previstas para 1998.
Consiste o terceiro, no número imenso de projectos que são
dotados de verbas irrisórias, revelando duas coisas: A falta de
vontade política em realizar tais projectos no próximo ano e a
óbvia vontade de utilizar o PIDDAC para servir objectivos
eleitoralistas, reiterando promessas que, por enquanto, não
passarão disso mesmo. António Filipe
Incumprimentos
vários
Foi com especial ênfase que
o Governo realçou o ritmo de crescimento apreciável, só do seu
ponto de vista, do Programa de Investimento e Despesas de
Desenvolvimento da Administração Central. Sendo certo que 37%
dos fundos de financiamento do PIDDAC são fundos comunitários e
dado que a previsão de execução financeira do Quadro
Comunitário de Apoio para 1998 é superior a 1 milhar de milhão
de contos, seria de esperar que, de idêntica forma, fosse
realçado o cumprimento do segundo Quadro Comunitário De Apoio.
No entanto, tal não aconteceu. A 2 anos do fim deste segundo
Quadro Comunitário de Apoio, quando já se negoceia o próximo,
são justas e legítimas as preocupações que os mais variados
quadrantes da opinião pública têm manifestado.
(...)Também as Grandes Opções do Plano não dão informações
suficientes sobre a utilização dos fundos comunitários, nem
sobre a avaliação feita ao Quadro Comunitário de Apoio pelo
Governo, nem sobre a sua reprogramação.
O próprio Conselho Económico e Social manifesta no seu parecer
preocupação pelo fraco nível de utilização global de fundos
comunitários e estranha a falta de informação nas GOPs
sobre esta matéria.
(...)Os Programas operacionais Regionais, cuja execução é
predominantemente das Autarquias Locais, registam elevados
índices de execução em contraste com os programas nacionais e
sectoriais. Em particular, o Programa de Ambiente vem registando
atrasos que se ficaram a dever essencialmente à indefinição
inicial do Governo sobre as fontes de financiamento para atacar
os múltiplos e gravosos problemas, sobretudo nos domínios do
abastecimento de água e recolha e tratamento de águas
residuais.(...) Joaquim Matias