Tempestade
assola o país
e leva a morte aos Açores
Níveis invulgares de
precipitação ao longo destas últimas semanas levaram a
devastação a várias zonas do país, com trágicas
consequências nos Açores.
Em Lisboa, Ribatejo e Algarve, as chuvas torrenciais causaram
inúmeros prejuízos, cortando estradas, alagando habitações e
lojas comercias, paralizando transportes e provocando, em
particular no Algarve, sensíveis prejuízos na agricultura
A freguesia da Ribeira
Quente, concelho de Povoação, é ainda hoje um mar de lama,
destroços, troncos de árvores. Uma terra marcada pela dor e que
guindou os Açores para a cabeça dos noticiários, por razões,
uma vez mais, dramáticas.
O balanço da tragédia provocada pelo tempestade que fez desabar
sobre a aldeia um rio de lama ainda está incompleto. E não
bastará, pois naturalmente se impõe também repensar práticas
e realidades, tomar medidas adequadas para evitar a repetição
de situações como a agora ocorrida ou como a das enxurradas no
Natal de 1996.
Resgatados os 29 corpos soterrados na rua velha da igreja,
procuram-se agora soluções para os vivos, pois para muitos não
haverá regresso a casa - as construções situadas em zonas
consideradas perigosas não voltarão naturalmente a ser
habitadas.
No total há 20 famílias, 113 pessoas, para realojar. Prosseguem
os trabalhos de remoção de entulhos e limpeza de caminhos,
prevenção e reforço de barreiras. Estuda-se a hipótese de um
caminho alternativo para fazer face a situações de isolamento.
Aliás, toda a ilha de S.Miguel foi atingida, registando-se, em
particular, grandes danos nas estradas. No Nordeste, todos os
barcos de pesca acostados ao cais foram destruídos pela
violência do mar.
Neste momento, múltiplas questões se colocam. Também para que,
uma vez mais, não se fique pelo planear de medidas que depois
não são concretizadas e se tente minorar os efeitos
imprevisíveis das catástrofes naturais, através de um melhor
ordenamento e particular cuidado com a construção em zonas
particularmente instáveis.
Em declarações proferidas em Lisboa, em conferência de imprensa do PCP para divulgação das conclusões do CC, o dirigente comunista açoreano Decq Mota sublinhou a necessidade de suscitar um "debate regional profundo sobre as causas" que poderão ter contribuído para esta tragédia e referiu algumas obras, estradas e acessos em mau estado e deficiência na drenagem de águas. Sublinhada foi, igualmente, a demora no accionamento dos meios para acudir às vítimas (só 8 horas depois chegaram os primeiros socorros), a falta de meios de comunicação e de helicópteros.
De Lisboa ao Algarve
Enquanto prosseguem ainda as
chuvas por todo o país, inicia-se um balanço provisório de
estragos e necessidades.
Na área metropolitana de Lisboa, os problemas maiores giram em
torno do realojamento de famílias, reparação e limpeza de
ruas, estradas e redes de saneamento e inventário dos prejuízos
provocados aos comerciantes.
Em Lisboa, a autarquia compromete-se a realizar, a curto prazo,
obras de fundo no sistema de saneamento na zona de Alcântara,
enquanto em Alcochete são pedidos apoios ao governo, na medida
em que as situações mais complicadas se verificaram junto a
obras da responsabilidade do Estado que, nomeadamente, terão
levado à modificação de linhas de água.
O presidente da Junta Metropolitana de Lisboa - que manifesta a
sua solidariedade com a população e, em particular, com os
sectores mais fortemente atingidos - relembra, entretanto que, no
quadro do protocolo de cooperação que anteriormente se
estabeleceu com o Ministério do Ambiente, "se encontra
pendente de apreciação para financiamento um programa de
limpeza e regularização dos leitos das ribeiras", que
converge com as preocupações manifestadas pelo Instituto
Nacional de Água e que, a ter sido entretanto considerado,
"contribuiria, sem dúvida, para minimizar alguns dos
impactos negativos sofridos".
No Algarve, este
fim-de-semana, a situação de maior gravidade registou-se no
sítio da Foz do Rio, freguesia de São Bartolomeu de Messines,
onde a ribeira transbordou. A impetuosidade das águas arrastou
pessoas e mesmo um veículo de pronto-socorro.
A chuva torrencial voltou também ao concelho de Monchique,
devastado na semana anterior, quando uma precipitações
particularmente elevada criou um verdadeiro mar serra abaixo.
Em moção apresentada pelo vereador da CDU e aprovada por
unanimidade na Câmara Municipal de Portimão, de par da
exigência de apoios face às consequências das tempestades, que
"devastaram culturas, estradas, viadutos, habitações e
ainda provocaram danos em bens pessoas e animais", alerta-se
o governo para "a necessidade da limpeza e manutenção das
linhas de água, há longos anos abandonadas e sem tratamento,
que contribuiram para um avolumar dos acidentes".
PCP reclama
apoios urgentes
Face à tempestade que estes
dias assolou o país, a Direcção da Organização Regional de
Lisboa do PCP manifestou - em comunicado de imprensa - a sua
solidariedade com as populações e o seu apreço a todas as
entidades que "prontamente acorreram a socorrer pessoas,
patrimónios atingidos e minorar os efeitos da tempestade".
Simultaneamente, a DORL reclama, do governo e da Assembleia da
República, a adopção de medidas urgentes, dirigidas
nomeadamente às famílias, comerciantes e autarquias,
"através de apoio financeiro excepcional (linhas de
crédito e/ou com taxas de juro bonificadas) que possibilitem
repor vias, equipamentos e funcionamento de actividades
comerciais e industriais".