França
Camionistas em greve


Os patrões dos transportes e os sindicatos dos camionistas franceses medem de novo forças. Após mais de uma semana de negociações, o acordo alcançado na madrugada de segunda-feira entre as pequenas empresas e os pequenos sindicatos não satisfez os camionistas, que decidiram avançar para a greve. Barragens por toda a França ameça reeditar o caos vivido no Outono do ano passado. A Comissão Europeia veio a público avisar que a questão diz respeito a toda a União.

De acordo com notícias veiculadas pela Lusa, o norte da França, a Normandia, o Leste e o centro eram as regiões mais afectadas pelo movimento dos camionistas franceses em greve, que bloquearam totalmente várias zonas industriais, refinarias e centros de distribuição de combustível.
Em relação à greve de Novembro de 1996, o Centro Nacional de Informação Rodoviária (CNIR) informou que os camionistas montaram as barreiras muito mais rapidamente, seleccionando os locais estratégicos para actuarem.
Entretantom diversos camionistas estrangeiros procuram evitar as consequências da greve dos franceses, alterando percursos.
Do Reino Unido, os camionistas procuram contornar pela Bélgica o bloqueio dos portos franceses. As companhias de «ferry» que transportam mercadorias começaram também a desviar os navios para os portos belgas.
Em Itália, os transportadores decidiram evitar a França e quaisquer encomendas para ou daquele destino.
De Portugal, o recurso ao transporte marítimo procura minorar as consequências da greve.
Na Irlanda, a principal federação profissional afirmou que centenas camiões irlandeses estavam bloqueados em França, o mesmo sucedendo veículos suíços.
Entretanto, a Comissão Europeia advertiu a França contra os resultados das barreiras rodoviárias que ameaçam o funcionamento do mercado comum.


Preocupações com o mercado

Numa tomada de posição divulgada na madrugada de segunda-feira, a Comissão Europeia faz notar que, apesar de a questão dizer respeito a problemas internos franceses, nomeadamente a reivindicações salariais, as barreiras, juntamente com a greve, poderão perturbar o tráfego rodoviário internacional.
As barreiras rodoviárias em França poderão impedir o funcionamento eficaz do mercado comum, com repercussões graves nas sociedades e nos trabalhadores de toda a Europa, adiantaram no comunicado os comissários europeus dos transportes (Neil Kinnock) e do emprego e dos assuntos sociais (Padraig Flynn).
A Comissão está especialmente preocupada com o efeito que as barreiras poderão ter na livre circulação de mercadorias e pessoas, que é a base do mercado comum europeu.
A acção poderá afectar as pequenas e médias empresas, que dependem de fornecimentos regulares e que devem estar em condições de assegurar o abastecimento dos seus mercados e dos seus clientes. Quando as empresas são afectadas, seguem-se evidentemente consequências negativas sobre o emprego, declararam os dois comissários.
O comunicado não se detém sobre as reivindicações dos camionistas franceses nem sobre a intransigência das organizações patronais, cerne do malogro das negociações.
Cabe referir que o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin, prometeu uma diminuição das taxas fiscais às empresas de transportes rodoviários. O anúncio da redução - fixada em 800 francos por camião, cerca de 22 mil escudos - foi feito 24 horas antes do início da greve, mas a principal organização patronal, UFT, que representa mais de 80 por cento das transportadoras, recusou-se mesmo assim a prosseguir as negociações com os sindicatos.
A única proposta de acordo conseguida durante as negociações foi alcançada entre quatro pequenos sindicatos e a entidade patronal minoritária UNOSTRA, que representa apenas 20 por cento dos empresários de camionagem.
Ausente das negociações esteve a CGT, que, perante a retirada da UFT, suspendeu a sua participação nas conversações para exigir ao governo um compromisso por escrito de que qualquer eventual acordo seria aplicado ao sector, independentemente da sua participação ou não na negociação.
A proposta de acordo, rejeitada pelos camionistas que a consideram muito longe das suas reivindicações, previa um aumento salarial imediato de 4 por cento para os empregados auxiliares e de 5 por cento para os camionistas de qualificação intermédia (cerca de 200 mil condutores).

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O dito por não dito

No cerne da questão está o diferendo que subsiste desde a greve do outono de 1996. Na altura, o patronato comprometeu-se, verbalmente, a pagar um prémio de 3.000 francos, a troco do levantamento dos bloqueios que provocaram o pandemónio nas estradas de França.
Apenas uma ínfima minoria de empregadores respeitou o compromisso assumido. Hoje, os negociadores patronais afirmam que «o famoso prémio de 3.000 francos é um falso problema» porque, segundo se garante num comunicado distribuído à imprensa, «não houve nenhum acordo formal para o pagamento de um prémio de 3.000 francos no final do conflito de Novembro de 1996». Segundo o comunicado, «tratou-se apenas de uma recomendação patronal, que foi aceite como tal pelas organizações sindicais antes do levantamento os bloqueios. Não tinha qualquer carácter obrigatório e ficava ao critério de cada empresa».
Acresce, para complicar a situação, que o patronato rejeita discutir aumentos de salários fora do quadro de alteração do tempo de trabalho.


«Avante!» Nº 1249 - 6.Novembro.97