China-EUA
O reforço das relações
passa pela estabilidade


A visita oficial do Presidente chinês, Jiang Zemin, aos EUA, concluída na segunda-feira, consagra a normalização das relações entre os dois países, e abre as portas a uma nova fase do comércio internacional. Num encontro com a elite empresarial norte-americana, Jiang Zemin deixou claro que a saúde das relações económicas bilaterais passa por uma definição da política de Washington e pela entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Discursando num banquete que reuniu praticamente todos os representantes das grandes multinacionais norte-americanas, Jiang Zemin manifestou esperanças de que «o meio de negócios americano faça novos esforços para estreitar as relações entre a China e os EUA», o que passa, na óptica chinesa, por mudanças na política até agora seguida pela Casa Branca em relação ao gigante asiático.
Para as autoridades chinesas, o facto de Washington decidir anualmente a renovação do estatuto de nação mais favorecida impede um maior envolvimento das empresas americanas a operar na China. «Esta situação tornou instáveis as relações económicas bilaterais nos últimos anos», disse Zemin, classificando depois de «injusta» a exclusão do seu país da OMC.
Para o dirigente chinês, «uma cooperação económica reforçada e um comércio alargado contribuirão para melhorar as relações políticas entre os dois países, ao mesmo tempo que uma relação política estável facilitará o regresso ao crescimento das relações económicas e do comércio».
Aparentemente, a mensagem foi entendida. A clássica questão dos «direitos humanos», que a administração norte-americana manobra ao sabor das suas conveniências, não chegou a perturbar a visita, apesar das referências a Tiannanmen e ao Tibete, que mobilizaram alguns manifestantes. O próprio Presidente chinês contribuiu para o esvaziamento dos protestos quando, ao discursar no sábado na Universidade de Harvard, admitiu que talvez o poder tivesse cometido «erros» aquando das manifestações de Junho de 1989.


Taiwam quer voltar
à mesa das negociações

Entretanto, aproveitando o impacto mediático da visita de Zemin aos EUA, o presidente do Conselho para Assuntos Chineses do governo de Taiwan, Chang King-yuh, apelou na sexta-feira para que as autoridades da China e da ilha tomem medidas que levem ao estabelecimento de relações directas entre ambos.
«As duas partes deveriam tomar medidas que facilitassem a confiança mútua e a cooperação e levassem à aplicação das Linhas Gerais para a Unificação Nacional», declarou Chang King-yuh.
As Linhas Gerais para a Unificação Nacional consistem num programa criado unilateralmente por Taipé, que prevê o reconhecimento de Taiwan como uma entidade política autónoma, a renúncia pela China do uso da força para reintegrar a ilha, o estabelecimento de relações comerciais, postais e de transporte directas e, numa fase posterior, a criação de um orgão para discutir a estrutura de uma China reunificada.
Por seu turno, Koo Chen-fu, presidente da Fundação para o Intercâmbio no Estreito de Taiwan, uma fundação semi-oficial encarregada das relações com o continente, apelou para que Pequim volte à mesa das negociações, porque «sem conversações não poder haver unificação».
As negociações bilaterais entre a República Popular da China e Taiwan foram suspensas em Junho de 1995, após a polémica visita do Presidente de Taiwan aos Estados Unidos, interpretada por Pequim como uma manobra independentista de Taipé.


«Avante!» Nº 1249 - 6.Novembro.97