A operação «parceiro estratégico» na EDP


Os sindicatos das Indústrias Eléctricas afirmam que «está em curso uma manobra para entregar a grandes grupos estrangeiros uma posição privilegiada na maior empresa portuguesa».

Pela boca do secretário de Estado da Indústria e Energia, foi anunciada a intenção de, até ao fim do ano, alienar mais 4,5 por cento do capital social da EDP, preferencialmente por ajuste directo, o que se justificaria pela necessidade de encontrar um «parceiro estratégico».

Para a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas, as declarações de José Penedos «denunciam o falhanço da primeira fase da privatização, que a FSTIEP e os sindicatos combateram fundamentadamente e que o Governo perpetrou, com grandes investimentos publicitários, apenas por motivos políticos».
Num comunicado recente, a federação verifica que, «afinal, o "capitalismo popular" e a disseminação do capital social deveriam ser apenas o papel de embrulho para uma operação cujos contornos agora são mais claros: ao privatizar a EDP, no coração e no pensamento do Governo estiveram sempre os grandes grupos económicos estrangeiros
Como resultado da primeira fase da privatização, concluída a 16 de Junho, nenhum accionista ficou com mais de 0,5 por cento das acções. «E foi ver, então, os governantes e o presidente do CA a regozijarem-se com a vitória do "capitalismo popular"», recorda a FSTIEP/CGTP, notando que «ainda não passaram 4 meses, e vêm agora queixar-se daquele resultado e defender o contrário: a concentração de capital a todo o custo, para preencher os lugares de administrador que aguardam os representantes privados». E agora, «todos os que defenderam a disseminação estão de acordo com a concentração forçada, notando-se apenas divergências quanto ao "parceiro" ser espanhol ou alemão», regista a federação, adiantando ter «todas as razões para crer que tais divergências não se prendem com a defesa dos interesses da EDP, do País, dos consumidores ou dos trabalhadores».
Na nota de imprensa previne-se que «depois de o Governo falsear tão descaradamente as regras que ele próprio ditou, é de recear que no futuro venha a tomar decisões ainda mais graves e inaceitáveis, como seja a privatização de mais de 50 por cento do capital da EDP».


Olhem os resultados

Para a estrutura sindical representativa da maioria dos trabalhadores do Grupo EDP, as consequências da primeira fase da privatização estão já à vista: «A alteração na estrutura orgânica da EDP está a levar à eliminação de postos de trabalho, ao encerramento de locais de trabalho, com imposição de transferências a centenas de trabalhadores e com degradação evidente das condições em que é assegurado o apoio técnico aos clientes. Multiplicam-se as violações dos direitos dos trabalhadores, consagrados no Acordo de Empresa em vigor e que a administração quer eliminar no novo Acordo Colectivo de Trabalho, em negociação.»
A FSTIEP decidiu «renovar o pedido urgente de uma audiência com o primeiro-ministro (que desde Maio não concretiza o prometido diálogo...)», para lhe comunicar as suas preocupações. Vai também contactar outros órgãos de soberania, os partidos políticos, autarquias e organizações de consumidores e reclama que «também a administração da EDP ouça e tenha em conta as nossas posições».
«Para a FSTIEP, os sindicatos e os trabalhadores da EDP, há valores que contam mais do que o gráfico das cotações na Bolsa: um serviço público de qualidade, à altura das necessidades do País e dos consumidores, prestado por uma empresa sólida, moderna e eficiente, onde os direitos dos trabalhadores sejam escrupulosamente respeitados. Por tais valores vamos continuar a bater-nos.» - declara a federação, anunciando «para breve a realização de uma iniciativa pública, onde reuniremos vasta e detalhada informação sobre as implicações da política privatizadora, na base de um levantamento que os sindicatos estão a efectuar a nível nacional».


«Avante!» Nº 1249 - 6.Novembro.97