Campanha não sensibilizou os patrões
Mais
acidentes na construção
«O Governo PS brinca com a vida dos trabalhadores e mente
ao País», acusa a
Federação dos Sindicatos da Construção, Madeiras, Mármores e
Materiais de Construção, comentando a situação no sector
relativamente à segurança no trabalho.
A estrutura sectorial da CGTP
constata que, apesar de ter decorrido uma campanha de
sensibilização no sector da construção, os acidentes de
trabalho continuam a aumentar: se em 1996 se verificaram 176
acidentes mortais (trabalhadores falecidos no local do acidente),
para 1997 as perspectivas são ainda piores, pois só no
primeiro semestre registaram-se 110 acidentes mortais.
A federação aponta o aumento do trabalho precário, os curtos
prazos de realização das obras, a tentativa de obtenção de
lucros fáceis, a forma como são concedidos alvarás de
construção e o hábito adquirido de coimas baixas e inspecção
inoperante como «algumas das causas do aumento da
sinistralidade».
A campanha de sensibilização, recorda-se na nota de imprensa
distribuída sexta-feira, tinha por objectivo dar tempo às
empresas para se adaptarem aos novos conceitos que a «directiva
Estaleiros» (92/57 - transporta para o Direito interno pelo DL
55/95) introduziu no que respeita à segurança na construção
civil e obras públicas. Contudo, «a maioria das empresas e
patrões continua sem respeitar a lei», afirma a federação,
acusando a associação patronal do Norte (Aiccopn) de «começar
a espernear» quando a Inspecção do Trabalho começou a actuar.
Para a federação, «os acidentes de trabalho só irão diminuir
quando os representantes dos trabalhadores tiverem cobertura
legal para actuar nas empresas, como determina o DL 441/91, o
qual, nesta matéria, ainda não foi regulamentado, e quando os
responsáveis do Governo e patronato forem responsabilizados
criminalmente por homicídio voluntário».
Números
A nota cita as estatísticas
de 1996, apontando a grande diferença entre os números do
Ministério do Emprego (88 acidentes mortais) e da Inspecção
Geral do Trabalho (176 acidentes mortais). Para a federação
sindical, os dados da IGT são «quase reais», uma vez que não
contemplam os trabalhadores falecidos nos hospitais ou durante o
transporte desde o local do acidente.
Os valores indicados pelo Ministério suscitam da federação a
interrogação sobre «qual é a credibilidade que podemos dar a
um governo que mente através das estatísticas» e o comentário
final de que «faz-nos lembrar as estatísticas feitas sobre as
mortes na guerra do ultramar fornecidas por Salazar e Marcelo
Caetano».