Ambiente
Acordo em Quioto


Depois de vários dias de impasse, os 1500 delegados dos 150 países participantes na Conferência de Quioto chegaram finalmente a acordo na noite de quinta-feira.


Os gases causadores do efeito de estufa serão reduzidos para os níveis de 1990 no período entre 2008 e 2012, numa média de 5,2 por cento. A União Europeia fará uma redução de oito por cento, os Estados Unidos de sete por cento e o Japão de seis por cento. Inicialmente a UE defendia uma redução de 15 por cento, os nipónicos de cinco por cento e os norte-americanos pretendiam a estabilização das suas emissões actuais até 2008-2012.

Por outro lado, cabe aos países em desenvolvimento estabelecer voluntariamente os seus objectivos de redução. É o caso da China e da Índia, por exemplo.

De acordo com informações veiculadas pela Lusa, os países que não cumprirem o estabelecido poderão comprar a «quota» excedentária dos países que ultrapassarem os seus objectivos.

A Austrália, a Islândia e a Noruega foram autorizados a aumentar a emissão de gases respectivamente em oito por cento, dez por cento e um por cento, uma decisão fortemente criticada pelas organizações ecologistas.

Os seis gases abrangidos são o dióxido de carbono, o metano, o óxido nitroso e três substitutos dos clorofuorocarbonetos. Mas a sua redução real não se avizinha para breve. É ainda necessário que o protocolo assinado seja ratificado por 55 países. Cada país só é vinculado individualmente quando os governos concluirem a ratificação.


«Farsa» para a Greenpeace

Para a Greenpeace a cimeira foi «uma tragédia e uma farsa porque o acordo dela saído é totalmente desadequado». O movimento exortou a União Europeia a cumprir o seu objectivo inicial de redução de 15 por cento. «Pedimos à UE que se comprometa unilateralmente a atingir os objectivos anunciados previamente e a incluir nestes os três gases adicionais» que substituem os clorofluorcarbonetos, declarou um porta-voz da organização.

Mas a comissária europeia do ambiente está muito satisfeita com o protocolo assinado. Para Ritt Bjerregaard, este é o «primeiro passo importante no sentido de inverter a tendência na emissão de gases tóxicos» e constitui «um ponto de não retorno no combate contra as consequências terríveis dos gases».

Os Estados Unidos foram o principal bloqueador dos acordos. Os seus representantes, fortemente influenciados pelos lobbys indústriais, só cederam quando o presidente Bill Clinton interviu pelo telefone.

O protocolo da Cimeira de Quioto pode ser considerado histórico não pelo conteúdo acordado, mas pelo facto de ser o primeiro acordo internacional no campo ecológico que refere medidas concretas. Apesar de o protocolo estar muito longe dos níveis necessários para a redução do efeito de estufa, trata-se do princípio da consciencialização ecológica dos Estados.


«Avante!» Nº 1255 - 18.Dezembro.97