Irlanda do Norte
Gerry
Adams em Downing Street
Pela primeira vez em 76 anos, um líder repúblicano irlandês foi recebido na residência oficial do primeiro-ministro britânico, localizada no número 10 de Downing Street. Depois de em 1921 Michael Collins ter-se reunido com David Lloyd George, o líder do Sinn Fein, Gerry Adams, encontrou-se com Tony Blair na quinta-feira para discutir o processo de paz no Ulster.
Aplaudido pelos seus apoiantes e assobiado pelos unionistas, Adams disse que os membros do seu partido estão «conscientes de que muitas pessoas dependem do facto de nós desempenharmos o nosso papel na formação de novos laços entre a Grã-Bertanha e a Irlanda». «Tenho esperanças de que este acontecimento seja um passo significativo para a liberdade e para a justiça no nosso país», acrescentou.
O dirigente republicano considerou o encontro «histórico» e disse estar satisfeito por estar em Londres «visto representar o povo dos dois Estados da ilha da Irlanda». «Estamos aqui para olhar para o futuro e para novas relações baseadas em laços de amizade», sustentou.
Por seu lado, Tony Blair qualificou a reunião de «positiva e constritiva» e afirmou que o seu governo tomaria «todos os riscos que pudesse para a paz», apesar da contestação interna que se verificou nas linhas mais conservadoras.
Referindo-se ao Sinn Fein e ao cessar-fogo do IRA, o primeiro-ministro britânico declarou: «Se voltassem a usar violência, destruiriam esta grande oportunidade para a paz que existirá nesta geração, e seriam expulsos das conversações de paz. Esta era a opção histórica: violência e desepero, ou paz e progresso».
O porta-voz de Downing Street disse que tanto Tony Blair como Gerry Adams estavam decididos a avançar com o processo de paz. O governo britânico está agora a analisar o novo material fornecido pelo líder do Sinn Fein.
No mesmo dia, Adams propôs a realização de um encontro directo entre si e o líder protestante unionista. «Gostaria muito que David Trimble adoptasse uma atitude responsável e positiva e se reunisse comigo nas condições que ele desejar, para que pudessemos construir o futuro», afirmou. Nas palavras do número dois do Sinn Fein, Martin McGuinness, esse encontro seria «um passo gigantesco no processo de paz». Os unionistas já recusaram a proposta.
As reivindicações do Sinn Fein passam pela libertação dos prisioneiros do IRA e a abertura de um inquérito internacional sobre o «Bloody Sunday», o massacre ocorrido em 1972 que resultou na morte de 13 católicos.
Confrontos em Londonderry
No sábado, registaram-se violentos confrontos entre católicos e protestantes na cidade de Londonderry, no Ulster, após a realização de desfiles de ambos os lados. Pedras, garrafas e «cocktails molotov» foram atirados contra a polícia. As autoridades chegaram a solicitar o apoio do exército, sem que tenha sido necessária a sua intervenção.
A parada unionista, que se realiza tradicionalmente, comemorou as vitórias históricas sobre os católicos desfilando em várias zonas da cidade, nomeadamente nos bairros católicos.