O alvo principal


Segundo afirmou António Costa na RTP1, na noite de Domingo, as perdas da CDU nas eleições autárquicas dever-se-iam — vejam bem! — ao facto de termos feito do PS — quer na campanha eleitoral, quer na avaliação da política do Governo — o alvo principal dos nossos ataques.


A afirmação é curiosa e indicia o conteúdo da cavalgada conclusiva que o PS se prepara para fazer. Aliás, dizer que o PCP fez uma campanha eleitoral tendo o PS como alvo principal é uma forma pouco hábil (e também, diga-se, pouco séria) de procurar iludir a intervenção do PS, a partir do Governo, no processo eleitoral: os ataques múltiplos e diversificados às câmaras de maioria CDU; a designação de candidatos do PS às câmaras CDU em simultâneo com a nomeação desses mesmos candidatos para cargos altamente propícios à caça ao voto (cargos que foram utilizados com toda a eficácia...); os cheques distribuídos a associações diversas quer directamente pelos governadores civis (transformados, na generalidade dos casos, em comissários político-eleitorais) quer por intermédio de candidatos do PS às câmaras dos respectivos concelhos; a utilização de importantes órgãos de comunicação social como instrumentos de propaganda governamental e do PS — são alguns dos muitos exemplos do "vale tudo" a que o PS recorreu no decorrer da pré-campanha e da campanha eleitoral. Jamais em qualquer campanha anterior se usou e abusou do poder da forma como o PS o fez nas recentes eleições. Tudo isto foi denunciado, publicamente, pelo PCP: e é a denúncia destas arbitrariedades que leva António Costa a considerar que o PCP fez do PS o seu adversário principal. Chama-se a isto fazer o mal e a caramunha. Também há quem lhe chame desfaçatez e desvergonha.


Quanto à avaliação que fazemos da política do Governo, assumimos com frontalidade que os resultados eleitorais obtidos pela CDU foram maus, foram negativos. Assumimos com igual frontalidade a necessidade de procurar detectar as causas, as razões que estão na origem desse insucesso. Mas assumimos também — com idêntica frontalidade e com firme determinação — a disposição de continuarmos a lutar pelos nossos objectivos, pela implementação, ampliação do reforço do nosso projecto autárquico que — não temos dúvidas — é o que melhor serve os interesses e anseios das populações.


Quanto à avaliação que fazemos da política do Governo, pode António Costa ficar certo que continuaremos a tratá-la pelo seu verdadeiro nome — política de direita — e que continuaremos a combatê-la e a tudo fazer para que ela seja derrotada. Pela simples razão de que a consideramos prejudicial para a maioria dos portugueses e para o país. É óbvio que o PS vai "ler" nos resultados eleitorais do dia 14 o "sim" à continuação dessa política. É óbvio também que, pelo nosso lado, lutaremos contra tal utilização desses resultados.
Porque, por muito que António Costa finja não ver, o alvo principal da acção dos comunistas é a política de direita que o Governo PS prossegue entusiasticamente aplaudido pelo grande capital. — José Casanova


«Avante!» Nº 1255 - 18.Dezembro.97