A sopa dos pobres


São impressionantes os elementos que constam do relatório da conferência dos presidentes de câmaras dos Estados Unidos que a comunicação social acaba de divulgar.

Nomeadamente:
- que no presente ano o número de pessoas que pediram para beneficiar de uma ajuda alimentar de emergência aumentou de 16 por cento;
- que os pedidos de ajuda alimentar pelas famílias aumentaram em média 13 por cento, sendo que em 22 por cento dos casos esses pedidos não puderam ser satisfeitos devido à falta de alimentos;
- e que 38 por cento dos adultos que pedem alimentação têm emprego.

Sublinha ainda o relatório que a principal razão do crescimento destes pedidos de alimentos não é nem o desemprego, nem a droga, mas empregos demasiado mal pagos, ou a tempo parcial.


É particularmente esclarecedor que estes factos ocorram num quadro de grande prosperidade dos Estados Unidos: um dos PIB real per capita mais elevados do mundo (cerca de 26 mil e 400 dólares em 1995), uma boa saúde económica nos últimos anos, e extraordinários progressos no domínio tecnológico.


Este aparente paradoxo tem, de há muito, uma explicação conhecida: as desigualdades crescentes na distribuição da riqueza, as assimetrias sociais e regionais cada vez maiores que o capitalismo (mesmo o mais "moderno" e "globalizado") incessantemente tende a engendrar.


Não é caso para fazer alguma pedagogia e para evidenciar onde conduzem as receitas "modernizadoras" do Banco Mundial - redução dos direitos sociais, flexibilidade laboral, contenção salarial - que alguns papagaios da nossa praça tão diligentemente repetem? — Edgar Correia


«Avante!» Nº 1255 - 18.Dezembro.97