Frente
Comum repudia
«negociata» na Administração Pública
Já na madrugada de sábado, o Governo deu por terminada a «marcha das décimas», estabelecendo para 1998 uma actualização de 2,75 por cento, que deixou o índice 100 em apenas 55300 escudos e precisou ser disfarçada com retoques defeituosos no regime de carreiras.
Para este desfecho, o ministro Jorge Coelho e a secretária de Estado Manuela Arcanjo contaram com o acordo do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado e da Fesap/UGT, que lhes bastou para considerarem o resultado «uma vitória», por não ter sido aceite «apenas» pela Frente Comum de Sindicatos - estrutura que engloba três dezenas de sindicatos e federações, filiadas na CGTP e independentes, representantes de mais de 80 por cento dos trabalhadores do Estado sindicalizados.
Numa primeira reacção - em
que se afirma a necessidade de «uma análise mais aprofundada e
uma tomada de posição em Coordenadora ou Cimeira de Sindicatos,
a convocar proximamente» - o Secretariado da Frente Comum
comenta aquele resultado «previsível» como «consumação da
"negociata" entre o Governo, a Fesap e o STE».
A «negociata» é-o por duas razões: «o Governo fez com estas
estruturas um acordo de pacote em que misturou matéria de um
outro pacote (as carreiras do Acordo de 1996, cuja negociação
deveria ter encerrado a 31 de Outubro de 1997) com a
actualização salarial de 1998», com o objectivo de «tentar
branquear os baixos valores dessa actualização»; e «em
reuniões prévias entre as referidas estruturas sindicais e o
Governo foram garantidos os acordos para a reunião de 9 de
Janeiro».
Perante isto, a Frente Comum refere que reuniu com o Governo
«numa sala exígua, sempre com a permanência constante de um
agente da PSP no curto corredor que dava acesso à mesma» e
conclui que «as longas horas passadas na Presidência do
Conselho de Ministros, metade das quais foram sucessivos
intervalos e suspensões decididos pelo Governo, mais não
serviram do que para dar a aparência de que se estava a realizar
um esforço negocial para atingir um acordo que, à partida, já
estava garantido».
Reivindicações
mantêm-se
Para o Secretariado da Frente
Comum, «o desfecho deste processo negocial deve merecer o
repúdio das organizações sindicais». Na nota distribuída
segunda-feira afirma-se que continuam actuais e por resolver as
reivindicações centrais apresentadas e os compromissos
assumidos pelo Governo há 2 anos, designadamente, o combate aos
baixos níveis salariais e a eliminação da diferença entre os
valores do índice 100 e do salário mínimo nacional, a
correcção das injustiças e a superação dos problemas de
estagnação nas carreiras.
Na última reunião, a Frente Comum registou a comunicação de
«três arredondamentos» da proposta salarial do Executivo, de
2,65 para 2,7 e, por fim, 2,75 por cento, o que levou os
representantes sindicais a reiterar que não estavam na
disposição de discutir décimas. As propostas governamentais
sobre carreiras só foram conhecidas na manhã de dia 9, o que
não impediu que os dirigentes da Frente Comum apontassem
«diversas incongruências, deficiências e incorrecções»,
propondo que a discussão sobre esta matéria não fosse
encerrada.