Alterações
climáticas lançam desafio
Urgem
vias alternativas
de desenvolvimento
Os problemas ambientais, nomeadamente as alterações climáticas e fenómenos a estas correntemente associados que têm vindo de modo crescente a registar-se um pouco por todo o planeta, concitaram as atenções do Parlamento. A iniciativa partiu do Partido Ecologista "Os Verdes", que agendou o tema sob a forma de debate de urgência, a pretexto da recente Conferência de Quioto.
Permitindo sistematizar novos
dados e aprofundar a reflexão sobre esta matéria, o debate na
semana transacta trouxe simultaneamente a lume as fragilidades do
Governo perante um problema que é hoje considerado um dos mais
graves e complexos que se colocam à humanidade.
Para Isabel Castro ("Os Verdes"), as medidas capazes de
reduzirem as emissões poluentes e susterem, consequentemente, o
aquecimento global da terra, constituem hoje "um desafio sem
paralelo" que, em sua opinião, "não conhece
fronteiras", do mesmo modo que "a todos tem de
comprometer": "ricos ou pobres, desenvolvidos ou não,
a Norte ou a Sul".
O sucessivo adiamento de soluções por força da "lógica
dos interesses imediatistas" conduziu, aliás, à
"desordem" entretanto instalada, com expressão em
fenómenos de "ruptura na natureza" que Isabel Castro
ilustrou dando como exemplos o aumento de temperatura, as
tespestades, os tufões, as cheias, as grandes secas ou os
brutais níveis de pricipitação.
Ora foi neste quadro que a participação portuguesa na
Conferência de Quioto teve como nota mais saliente não o
compromisso de redução das emissões ou sua estabilização,
mas, paradoxalmente, como salientou a deputada ecologista,
"o de reclamar para si o direito de aumentar as emissões
poluentes em mais 40 por cento".
"Esta atitude é gravíssima e faz cedência ao facilitismo,
aos lobbies instalados, a interesses conjunturais", acusou
Isabel Castro, que viu ainda nesta postura do Executivo um
propósito desresponsabilizador face a "um modelo de
crescimento obsoleto e claramente ultrapassado".
Numa abordagem a esta
questão, em nome da bancada comunista, também Luís Sá
considerou que o problema se coloca não apenas no plano de
"redistribuir os direitos a poluir ou até o de vender
percentagens dos direitos a emitir gases". O problema é
mais vasto, afirmou, situando-o na busca de "vias
alternativas de desenvolvimento", com um alcance,
especificou, que extravasa o quadro nacional para se situar num
plano global.
Mas não se ficaram por aqui as críticas da bancada comunista.
Alargando o o problema não apenas à redução de emissões de
gases mas também às medidas preventivas e cautelares, Luís Sá
colocou ainda a questão de saber se em Portugal existe um estudo
global e profundo sobre as consequências que as alterações
climáticas podem ter na nossa costa, na saúde pública ou nos
nossos recursos naturais.
A resposta deu-a ainda Luís Sá ao sublinhar que o "Governo
não animou um grande debate nacional sobre estas
matérias", como não fez qualquer esforço "para
alertar e sensibilizar a opinião pública para soluções
alternativas", nem "estudou os perigos possíveis das
alterações climáticas no caso português".
Estando em causa "problemas políticos essenciais em torno
dos quais se agitam poderosos interesses", como lembrou
Luís Sá, é de lamentar, pois, que o Governo não tenha
definido "políticas energéticas alternativas " e
muito menos tenha uma "política de desenvolvimento
sustentado".
"Não se vê uma política de esquerda noutros sectores.
Não se vê uma política de esquerda na área do ambiente",
concluiu o parlamentar comunista.