Indonésia
Uma situação explosiva


«Suharto, trinta e dois anos já basta!» - este o desafio lançado no sábado ao ditador indonésio pela dirigente da oposição Megawati Soekarnoputri, numa altura em que a Indonésia se encontra mergulhada numa grave crise financeira que ameaça provocar uma derrocada económica no país.

Numa declaração ao país por ocasião do 25º aniversário do Partido Democrático Unido, partido a que presidia antes de ser afastada pelas autoridades em Junho de 1996, Megawati Soekarnoputri instou Suharto a não se recandidar a um sétimo mandato nas eleições presidenciais agendadas para Março próximo, e afirmou que «para salvar o nosso país desta crise de confiança, devemos preparar uma sucessão pacífica» a Suharto. Numa clara alusão à política presidencial de privilegiar os negócios da família e das figuras gradas do regime, a dirigente da oposição foi mesmo ao ponto de dizer que «é injusto e pouco desejável que as classes média e pobre indonésias sejam responsabilizadas e tenham de suportar as consequências de uma crise económica provocada por um punhado de homens de negócios em conluio com os gananciosos e poderosos oficiais».

A intervenção política de Megawati Soekarnoputri, que à luz da legislação indonésia constitui um crime, veio dar uma componente política à crise em que o país mergulhou após a moeda nacional se ter desvalorizado mais de 25 por cento em apenas 48 horas, provocando o pânico entre a população. Uma situação agravada pelas primeiras medidas de racionamento de produtos de primeira necessidade.

Na capital, Jacarta, com 10 milhões de pessoas, registou-se uma corrida em massa aos produtos alimentares, cujos preços não param de subir.

Entretanto, começaram a circular rumores da possibilidade de um golpe de Estado, o que obrigou o general Wahab Mokodongan a convocar uma conferência de imprensa no fim de semana para garantir que o exército está «preparado para o pior» e se encontra em estado de «pré-alerta», podendo deslocar-se num «quarto de hora» para qualquer lugar onde se registem eventuais conflitos.

Foi neste clima de ameaças e desespero que domingo chegou a Jacarta uma delegação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Tesouro norte-americano dirigida por Stanley Fisher, encarregada de avaliar o cumprimento por parte das autoridades indonésias das reformas preconizadas pela organização para o saneamento da economia, em troca de um auxílio de 43 mil milhões de dólares. Ora essas reformas foram postas em causa a semana passada com a apresentação do Orçamento de Estado, que não contempla muitas das medidas «aconselhadas» pelo FMI, o que terá assustado os operadores financeiros, receosos de um cancelamento da ajuda internacional, e provocado a queda imediata da Bolsa. A gravidade da situação, com repercussões nos principais mercados financeiros internacionais, levou mesmo Bill Clinton a contactar telefonicamente com Suharto, na passada quinta-feira, para lhe manifestar o seu apoio ao plano do FMI para a Indonésia, enquanto o presidente daquela organização, Michel Camdessus, voava para Jacarta, onde era esperado ontem.

A par destas tempestades que agitam as águas do capital especulativo, os despedimentos em massa abatem-se sobre os indonésios. Enquanto o Ministério do Trabalho prevê para 1998 seis milhões de desempregados, os sindicatos oficiais falam já abertamente numa taxa de desemprego nacional de 11 por cento da população activa, calculada em 90 milhões de pessoas.

Uma situação explosiva que pode significar o princípio do fim da ditadura de Suharto.


«Avante!» Nº 1259 - 15.Janeiro.98