Itália
A vergonha do trabalho infantil


300.000 crianças com idades entre os oito e os dezasseis anos são exploradas como mão-de-obra barata, nos mais diversos sectores de actividade, sobretudo no sul da Itália - a denúncia é de Sergio Cofferati, secretário da Confederação Italiana de Trabalhadores (CGIL), e foi feita há dias em Nova Deli, por ocasião de uma visita do primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, e de uma delegação de industriais à Índia.

Segundo Sergio Cofferati, para quem «uma tal prática é indigna da Itália, que se apresenta ao mundo como um país civilizado e evoluído», o número de crianças italianas submetidas a esta nova forma de escravatura é calculado com base numa estimativa dos acidentes de trabalho. 300.00 vítimas de exploração infantil, das quais 30 por cento com idades entre os 10 e os 14 anos, representam um número demasiado importante para que possa ser substimado.

As crianças, que na maioria dos casos não têm outra forma de sobrevivência, trabalham cerca de 12 horas por dia em troca de um salário de miséria: 70.000 liras por semana (cerca de sete mil escudos) a colar caixas, envernizar carros, cozer sapatos, sacos ou carteiras.

Para atacar o problema, Sergio Cofferati defende a tomada de medidas severas. Na sua opinião, os governos ocidentais deveriam não só manter, nos respectivos países, um controlo apertado às empresas suspeitas de empregar crianças, mas impor também às empresas que se instalem em países onde o emprego de mão-de-obra infantil é usual o respeito pelas normas que se referam ao direito dos menores. O dirigente da CGIL preconiza ainda a introdução de uma «cláusula social» no contexto de uma reflexão conjunta de organizações internacionais como o BIT (Bureau Internacional do Trabalho) e a UNICEF para a implementação de novas normas de defesa das crianças, designadamente no que se refere à proibição de trabalho nocturno de menores, de horas extraordinárias, de trabalho não paga ou mal pago e um rígido controlo das condições de higiene e segurança nos locais de trabalho. Cofferati advoga igualmente que os países ou empresas que desrespeitem a referida «cláusula social» sejam sujeitos a sanções, que podem ir até à sua exclusão do comércio internacional.

A persistência do trabalho infantil - e em muitos casos o seu ressurgimento em países de onde tinha sido banido - é uma vergonha para a humanidade e mais uma prova da falência de um sistema que nem sequer é capaz de garantir a sobrevivência das famílias. Não basta proibir o trabalho de menores. É preciso garantir o direito ao trabalho e à dignidade das famílias, a justiça social, única forma de salvaguardar as crianças de novas formas de escravatura.


«Avante!» Nº 1259 - 15.Janeiro.98