Eleições em Cuba
A
participação do povo
O povo cubano elegeu este fim-de-semana os seus representantes para a Assembleia Nacional e as Assembleias Provinciais. Um tema tratado nas páginas internacionais e a que aqui juntamos um pequeno comentário de Miguel Urbano Rodrigues.
O povo cubano viveu intensamente as eleições para a Assembleia Nacional do Poder Popular e as Assembleias Provinciais.
Em Portugal é difícil, para
quem não conhece Cuba, avaliar o interesse despertado por uma
campanha que não se assemelhou minimamente às europeias. Não
houve circo, os candidatos não polemizaram, a publicidade e
competição estiveram ausentes. Isso não impediu que o povo
fizesse essa campanha atípica.
A votação final foi somente o desfecho de um processo complexo
e longo, no qual a participação dos eleitores foi empenhada e
entusiástica.
A imprensa internacional, obviamente, minimizou o significado do
acontecimento e tratou de apresentar o processo como uma farsa. O
costume. Fez o possível por ridicularizar aquilo que não
percebeu.
No dia 11, sete milhões e 766 mil eleitores (aproximadamente 98% dos inscritos) votaram em listas únicas tanto para a Assembleia Nacional como para as Provinciais. Na perspectiva do PS ou do PSD, a ausência de oposição seria suficiente para retirar às eleições caracter democrático.
Os cubanos rejeitam essa crítica. Sentem orgulho do seus sistema e sustentam que não existe outro tão democrático, representativo e participado. Quem, usando os mecanismos de participação, fecha a porta à oposição contra-revolucionária, é o próprio povo.
A fase preparatória é
complexa, mal conhecida na Europa e original. Metade dos 601
candidatos ao parlamento são apresentados, numa primeira etapa,
pelas organizações de massas. Entre eles figuram os principais
dirigentes nacionais como Fidel, Raul, Carlos Lage, Ricardo
Alacón, Robaina, etc.
A outra metade é seleccionada mediante um processo iniciado em
cada distrito urbano ou município. São as bases que escolhem e
decidem, sem intervenção do Partido. O povo elege os delegados,
que propõe como candidatos a deputados em nome dos moradores que
representam.
Nesta fase, que precedeu a eleição final, diferentes candidatos
foram submetidos em Outubro à votação nas assembleias de
delegados. Daí saíram os nomes que constavam da lista única
final.
A 11 de Janeiro os eleitores podiam optar entre o voto em todos
os candidatos do seu círculo - o chamado «voto unido» - ou
apenas em alguns deles, riscando os que não lhe agradavam. Sobre
essa questão realizou-se no país um debate interessante.
Porque, em cada círculo, os candidatos resultaram de um processo
de selecção prévia. Houve polémicas acaloradas. Nos boletins
depositados nas urnas alguns eleitores eliminaram nomes que não
eram do seu agrado. Mas foi ínfima essa percentagem. O país
atendeu ao apelo de Fidel pelo voto unido.
A insignificante percentagem de abstenções e de nulos e brancos
confirmou mais uma vez a fragilidade da oposição interna. Não
obstante o voto não ser obrigatório, o povo compareceu
maciçamente. Fez destas eleições um acto de defesa da sua
Revolução, cercada e agredida pelo gigante norte-americano. Na
interpretação de Fidel, votou pelos que morreram em Moncada, no
desembarque do Granma, na Serra Maestra, em Playa Giron, pelos
combatentes internacionalistas que lutaram em África. Votou pelo
Che e por Camilo, pelo socialismo e pelo futuro da humanidade.
Pequenos como somos ao lado dos gigantes que dominam o mundo - afirmou Fidel - a história contemplar-nos-à como montanhas que foram capazes de resistir.
As eleições cubanas - os próprios observadores norte-americanos reconhecem essa evidência - foram assim, antes do mais, um acto de presença revolucionária. M.U.R.